São Paulo, quarta-feira, 26 de agosto de 2009

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Real aplaude Kaká e delira com Ronaldo

Na nova constelação do clube espanhol, extrovertido astro português vira o preferido, e brasileiro diz que não há ciúme

Torcedores do time esgotam camisas de jogador luso e imitam seu penteado; mídia espanhola enaltece a vida de Kaká fora do gramado

Pedro Armestre/France Presse
Cristiano Ronaldo e Kaká, maiores astros do Real Madrid, durante a partida de anteontem, em Madri, contra o norueguês Rosenborg

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MADRI

É começo de noite em Madri, e grupos de pessoas bem vestidas e perfumadas caminham na mesma direção. Bolsas, sacolas e máquinas fotográficas nas mãos, seguem em direção ao estádio Santiago Bernabéu.
A noite é de festa. Pela primeira vez poderão assistir juntos em campo às novas estrelas do Real Madrid. Kaká, Cristiano Ronaldo, Benzema, Xabi Alonso, Albiol. A lista é grande.
O público, também. Dos 80 mil lugares colocados à venda, apenas 500 permanecem vazios no jogo contra o Rosenborg, válido pelo Troféu Bernabéu e também o último do time antes de sua estreia no Campeonato Espanhol, no sábado, contra o Deportivo La Coruña.
Mas o fácil 4 a 0 sobre os noruegueses é o que menos importa. Os madridistas estão ali para festejar e ver os novos investimentos de Florentino Pérez, que cumpre seu segundo mandato como presidente.
Música alta, muita semente de girassol torrada, sanduíches de "jamón ibérico" e cerveja. As pessoas dançam, divertem-se. É verão no hemisfério Norte, e o fato de o jogo começar às 22h15 locais, após homenagens de despedida a Michel Salgado e a apresentação dos quatro últimos reforços, não preocupa.
Se a chegada de Kaká fez a mídia espanhola se curvar ao atleta "que cresceu longe das favelas", como destacou o diário "Marca", e que "não sai à noite e não vai a lugar algum sem a mulher", segundo o "As", é Cristiano Ronaldo quem parece ter ganhado a torcida.
Na multidão de camisetas brancas, a maioria estampa o número 9, Ronaldo, nas costas. Maior contratação da história do futebol ( 94 milhões), o craque português é coqueluche entre os torcedores em Madri.
Sua foto está espalhada em cartazes que vendem o pay- -per-view do Espanhol. Crianças exibem orgulhosas o penteado, uma espécie de "minimoicano". Sua camisa não para nas prateleiras das lojas.
Na "Tienda Bernabéu", mais de 400 iguais à sua são vendidas por dia. Por 85 (cerca de R$ 221), qualquer um pode ter uma. Para quem quer estampar o próprio nome no modelo que o Real usará na temporada 2009-2010, basta desembolsar 70 (cerca de R$ 182) mais 4 (cerca de R$ 10) por letra.
Na saída da loja oficial, é raro ver alguém sem sacola.
Em campo, Cristiano Ronaldo é o último a entrar. Dá um saltinho para trocar o pé e entra com o direito. Cada vez que toca na bola a torcida delira. É dele o primeiro chute a gol do Real Madrid. Toca de calcanhar. O Bernabéu enlouquece.
Mas, na multidão de Ronaldos, Kaká também tem espaço.
Acompanhado do pai, que exibe a camisa 9 com orgulho, Dario Gordo Lopez, 13, é um dos que preferem o brasileiro.
"Ele passa muito bem a bola e é bem melhor que o Cristiano", diz o garoto, que saiu de Barcelona de ônibus para ver a estreia do ídolo em Madri.
"Eu conhecia o Kaká de algumas reportagens, mas não assistia a seus jogos no Milan. Agora acho ele o melhor do mundo", acrescenta ele, camisa com número 8 nas costas.
Ao seu estilo, o meia-atacante tenta cativar seus novos torcedores. A cada escanteio que cobra, olha para a torcida, levanta os braços e bate palmas. Recebe mais em troca.
Ao ser substituído no meio do segundo tempo, é aplaudido de pé -tanto ele quanto Cristiano Ronaldo passam em branco contra o Rosenborg. O francês Benzema, autor de dois gols, é eleito o melhor do jogo.
"O ambiente aqui é muito gostoso, estou feliz por isso e por saber que pelos próximos anos vou ficar aqui", diz Kaká após a partida, em português. "Espero que seja para sempre assim e que a gente possa dar shows e espetáculos."
Calça social, camisa branca e cabelos molhados, o brasileiro é o penúltimo a deixar o vestiário, pontualmente à 1h. Sete minutos depois aparece Cristiano Ronaldo, camiseta com decote em "V" cinza, calça branca, tênis e gel no topete.
"Quero agradecer a todos que vieram ao Bernabéu e pedir que tenham paciência. Fiquei um mês parado e estou recuperando a forma. Se querem que o Cristiano faça três gols e dê 40 dribles por jogo, esqueçam, porque não vou fazer", diz ele, que atende à imprensa em inglês, português e espanhol.
Apesar de dividirem os corações de madridistas homens e mulheres, seja pelo título de melhor jogador, seja pelo de galã do Real Madrid, os astros, que juntos valem 159 milhões (mais de R$ 400 milhões), dizem que têm um excelente relacionamento e que não existe ciumeira entre eles.
"Somos amigos fora de campo e acho que isso vai ajudar nosso desempenho dentro de campo também", diz Kaká.


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