São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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VÔLEI DE PRAIA

Com triunfo da caçula em Mundial sub-21, ex-jogadora põe três filhos em posição de destaque no esporte

Prole campeã dá a Isabel dinastia na areia

Felipe Varanda/ Folha Imagem
Jogadores de vôlei de praia, Pedro, 18, Carolina, 17, e Maria Clara, 20, posam com a mãe, Isabel, 43, primeira grande atleta de vôlei do país, na praia de Copacabana


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO


A carioca Maria Isabel Barroso Salgado é uma mãe pródiga. Se na parábola bíblica o filho pródigo era um esbanjador, para Isabel a palavra deve ser lida na sua acepção de fertilidade generosa. Aos 43, musa do esporte brasileiro, Isabel é mãe de três novas revelações do vôlei de praia nacional.
Primeira grande jogadora do vôlei do Brasil, Isabel impressionou ao manter-se em quadra mesmo grávida, discutiu com cartolas do esporte e foi a primeira mulher a tornar-se técnica de um grande time -comandou o Vasco e o Flamengo. Em meio a tanta atribulação, ainda transformou-se numa "fábrica de campeões".
Dos seus quatro filhos, a caçula Carolina, 17, conquistou no último final de semana o título do Mundial sub-21 em Portugal. Pedro, 18, que já havia vencido a competição no ano passado, ficou em terceiro lugar na edição 2004.
Em 2001, Maria Clara, 20, foi a primeira das sucessoras de Isabel a brilhar no pódio do Mundial sub-21. Só Pilar, 25, escolheu outra praia: é figurinista.
O vôlei disputado na areia é o único esporte que rendeu medalhas ao Brasil desde que foi introduzido na Olimpíada. De Atlanta-1996 até Atenas, em agosto, o país foi sete vezes ao pódio -dois ouros, quatro pratas e um bronze.
Os três filhos atletas foram criados dentro e nas proximidades das quadras. Exibindo barriga de quase nove meses, Isabel não deixou de jogar até a véspera do nascimento de cada um deles. "Não sei, mas acho que pode ter ajudado. Não deixa de ser uma coincidência muito engraçada", diz ela.
Pilar, a filha mais velha, a única não atingida por boladas quando estava na barriga da mãe -Isabel afastou-se das quadras na primeira gravidez-, lida com cinema.
"A mãe nunca nos obrigou a nada. O vôlei deve estar em nosso DNA", afirma Carolina, que joga ao lado de Maria Clara. A dupla é uma das revelações do Circuito Brasileiro e está em quinto lugar no ranking do país.
Na última semana, comprovaram a boa fase. As irmãs chegaram às oitavas de finais da etapa do Rio do Circuito Mundial adulto, na estréia da dupla no torneio.
E Pedro disputa o Circuito Brasileiro desde o início do ano.
Embora os filhos ressaltem que a mãe não pesou na opção pelo vôlei de praia, Isabel comanda a rotina esportiva de todos.
Além de técnica de Carolina e Maria Clara, é uma espécie de faz-tudo dos três. Cuida dos problemas domésticos, negocia os contratos -neste ano, já assinou quatro para cada um-, escolhe todos os profissionais que trabalham com os três (assistentes, preparador físico, médicos) e cuida das viagens de todos.
A rotina da trupe começa às 6h30, quando Isabel acorda Carolina e Pedro, filhos que moram com ela numa casa da Gávea, zona sul. Tomam café juntos e partem para a praia de Ipanema. Lá, encontram-se com Maria Clara, que é casada, e com Bernardo Romano, parceiro de Pedro.
Enquanto uma dupla trabalha no centro de treinamento informal montado nas areias de um dos mais famosos cartões postais do Rio, a outra malha em uma academia próxima. Por volta das 9h30, trocam de posto.
""O treino é pesado, mas não tenho muito problema. Eles adoram o vôlei e a praia, o que ajuda muito", diz Isabel, que trabalha ao lado de Renato França, técnico da dupla masculina e assistente da ex-jogadora com as meninas.
Por volta de 11h30, os treinos se encerram, mas a correria continua. Os três vão almoçar e, depois, estudar. Maria Clara cursa o quinto período da faculdade de comunicação social. Carolina está no segundo ano do ensino médio. Pedro, que conclui o ensino médio, segue para o curso de inglês. Fã de Chico Buarque e Tom Jobim -amigos do pai, o cineasta Ruy Solberg-, aproveita a tarde para estudar violão.
"Quando chega a noite, eles não têm muito tempo para fazer nada. A galera está cansada e vai direto para a cama", afirma Isabel.
"Nossa vida não é uma grande diversão. Discutimos muito, mas tudo se resolve", declara Pedro, que tem o temperamento mais parecido com o da mãe.
"No meu caso, adoro ficar sempre perto dela. Na verdade, não sei falar se é bom ser treinada pela mãe. Nunca tive um outro técnico na vida", afirma Maria Clara.
Isabel acredita que a opção dos três filhos pelo vôlei pode ser explicada por sua vida profissional.
"As crianças eram a primeira cláusula de todos os contratos que assinei. Quando joguei no Japão e na Itália por seis anos, estavam comigo. Nunca a minha profissão foi motivo para nos afastar. O vôlei sempre entrou na vida deles como algo prazeroso, o que ajuda na hora de escolher o que fazer na vida", relembra a ex-jogadora.
Discussões e caras feias fazem parte da rotina dos quatro, como de qualquer família. "O bate-boca é natural. Sou muito crítica e gosto de discutir. O mais legal na nossa história é que estamos sempre compartilhando emoções, vitórias, frustrações, viagens incríveis. É o melhor e o que me motiva bastante", define Isabel.

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