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FUTEBOL
Momentos de histeria
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Talvez seja a conjunção astral, talvez o clima tenso das
eleições ou talvez apenas a proximidade da hora H em que se definirão os classificados e os rebaixados do Brasileiro.
O fato é que os nervos parecem
estar à flor da pele nos campos e
estádios pelo país afora. Barbárie
em Belém (durante Paysandu x
Santos), selvageria na arquibancada do Morumbi (durante Corinthians x Palmeiras), luta livre
no treino do São Paulo, bate-boca
no treino da Lusa etc.
Nessa atmosfera geral de exaltação dos ânimos, até o ponderado Carlos Alberto Parreira, treinador do Corinthians, brigou
com o juiz e foi expulso pela primeira vez nos campos do Brasil.
Para arrematar, o técnico do
Palmeiras, Levir Culpi, cogita levar o histriônico deputado Enéas
ao Parque Antarctica para dar
uma palestra de motivação a seus
jogadores. Ora, pelo que temos
visto nos jogos do alviverde, não é
vontade de vencer o que tem faltado, e sim organização, tranquilidade e lucidez. Francamente,
não vejo em que um histérico político neofascista poderia ajudar.
Levir Culpi parecia um sujeito
tão esclarecido. O desespero, de
fato, faz coisas muito estranhas
ao homem.
No caso mais grave da semana
-a confusão em Belém-, a absurda truculência policial não deve esconder o fato de que o Santos
também não está com os nervos
no lugar.
A veemência com que atletas e
técnico partiram para cima do
bandeirinha -para protestar
contra um gol legítimo, aliás-
revela o desequilíbrio emocional
de um time que há poucas semanas parecia próximo do nirvana.
As sucessivas derrotas num momento decisivo para a classificação acabaram minando a calma
e a autoconfiança da jovem equipe santista. O pior é que, por conta desse destempero, o time acabou perdendo seu principal jogador, Diego, para o importante jogo de hoje contra o Flamengo.
Se vencer, o Santos manterá
boas chances de classificação e
poderá recuperar a tranquilidade
perdida. Se perder, correrá o risco
de cair no desespero e acirrar o
complexo de perseguição que o
assedia de tempos em tempos e
que faz de cada erro de arbitragem a prova de um "complô" contra a equipe.
Em vez de botar lenha na fogueira, cabe ao experiente técnico
Leão acalmar seus pupilos mostrando-lhes que têm futebol de sobra para conquistar uma vaga
entre os líderes.
Talvez eu tenha sido injusto
quando escrevi aqui que o Corinthians tem conquistado seus pontos sem muito brilho. Na verdade,
a eficiência do futebol corintiano
atinge ocasionalmente momentos
de grande beleza.
Na partida de quarta-feira,
contra o Palmeiras, um desses
momentos foi a desconcertante
troca de passes que resultou no
chute de Leandro para fora, ainda no primeiro tempo. Foram
quatro ou cinco jogadores que
participaram do lance, com toques de primeira, diante dos imóveis e perplexos defensores palmeirenses.
Uma jogada geométrica como
essa -de futebol essencialmente
coletivo, quase anônimo- só se
consegue com muito treino, entrosamento e, sobretudo, tranquilidade -esse artigo tão raro nestes tempos de sangue quente e
nervos à flor da pele.
Derbys regionais
Numa rodada de clássicos regionais (Gre-Nal, Atle-Tiba,
São Paulo x Lusa, Fluminense
x Botafogo, Gama x Goiás), o
mais nervoso e decisivo deles
é o derby campineiro, pois
Guarani e Ponte estão disputando palmo a palmo um lugar na próxima fase. Dos outros clubes que estão no limiar da zona de classificação
(Grêmio, Coritiba e Figueirense), o mais surpreendente
é o de Santa Catarina, que há
dois meses estava cotado para o rebaixamento. Foi a volta
por cima mais espetacular do
torneio até agora.
Celeiro de craques
A excelente reportagem de
Rodrigo Bueno publicada
ontem sobre os jogadores
com menos de 23 anos que
estão brilhando no Brasileirão comprova mais uma vez
que o futebol brasileiro resiste a tudo: truculência, corrupção, incompetência, desorganização e má-fé.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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