São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Momentos de histeria

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Talvez seja a conjunção astral, talvez o clima tenso das eleições ou talvez apenas a proximidade da hora H em que se definirão os classificados e os rebaixados do Brasileiro.
O fato é que os nervos parecem estar à flor da pele nos campos e estádios pelo país afora. Barbárie em Belém (durante Paysandu x Santos), selvageria na arquibancada do Morumbi (durante Corinthians x Palmeiras), luta livre no treino do São Paulo, bate-boca no treino da Lusa etc.
Nessa atmosfera geral de exaltação dos ânimos, até o ponderado Carlos Alberto Parreira, treinador do Corinthians, brigou com o juiz e foi expulso pela primeira vez nos campos do Brasil.
Para arrematar, o técnico do Palmeiras, Levir Culpi, cogita levar o histriônico deputado Enéas ao Parque Antarctica para dar uma palestra de motivação a seus jogadores. Ora, pelo que temos visto nos jogos do alviverde, não é vontade de vencer o que tem faltado, e sim organização, tranquilidade e lucidez. Francamente, não vejo em que um histérico político neofascista poderia ajudar.
Levir Culpi parecia um sujeito tão esclarecido. O desespero, de fato, faz coisas muito estranhas ao homem.

No caso mais grave da semana -a confusão em Belém-, a absurda truculência policial não deve esconder o fato de que o Santos também não está com os nervos no lugar.
A veemência com que atletas e técnico partiram para cima do bandeirinha -para protestar contra um gol legítimo, aliás- revela o desequilíbrio emocional de um time que há poucas semanas parecia próximo do nirvana.
As sucessivas derrotas num momento decisivo para a classificação acabaram minando a calma e a autoconfiança da jovem equipe santista. O pior é que, por conta desse destempero, o time acabou perdendo seu principal jogador, Diego, para o importante jogo de hoje contra o Flamengo.
Se vencer, o Santos manterá boas chances de classificação e poderá recuperar a tranquilidade perdida. Se perder, correrá o risco de cair no desespero e acirrar o complexo de perseguição que o assedia de tempos em tempos e que faz de cada erro de arbitragem a prova de um "complô" contra a equipe.
Em vez de botar lenha na fogueira, cabe ao experiente técnico Leão acalmar seus pupilos mostrando-lhes que têm futebol de sobra para conquistar uma vaga entre os líderes.

Talvez eu tenha sido injusto quando escrevi aqui que o Corinthians tem conquistado seus pontos sem muito brilho. Na verdade, a eficiência do futebol corintiano atinge ocasionalmente momentos de grande beleza.
Na partida de quarta-feira, contra o Palmeiras, um desses momentos foi a desconcertante troca de passes que resultou no chute de Leandro para fora, ainda no primeiro tempo. Foram quatro ou cinco jogadores que participaram do lance, com toques de primeira, diante dos imóveis e perplexos defensores palmeirenses.
Uma jogada geométrica como essa -de futebol essencialmente coletivo, quase anônimo- só se consegue com muito treino, entrosamento e, sobretudo, tranquilidade -esse artigo tão raro nestes tempos de sangue quente e nervos à flor da pele.

Derbys regionais
Numa rodada de clássicos regionais (Gre-Nal, Atle-Tiba, São Paulo x Lusa, Fluminense x Botafogo, Gama x Goiás), o mais nervoso e decisivo deles é o derby campineiro, pois Guarani e Ponte estão disputando palmo a palmo um lugar na próxima fase. Dos outros clubes que estão no limiar da zona de classificação (Grêmio, Coritiba e Figueirense), o mais surpreendente é o de Santa Catarina, que há dois meses estava cotado para o rebaixamento. Foi a volta por cima mais espetacular do torneio até agora.

Celeiro de craques
A excelente reportagem de Rodrigo Bueno publicada ontem sobre os jogadores com menos de 23 anos que estão brilhando no Brasileirão comprova mais uma vez que o futebol brasileiro resiste a tudo: truculência, corrupção, incompetência, desorganização e má-fé.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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