São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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JOSÉ ROBERTO TORERO

O homem do ano

Sem uma estrela fulgurante, a eleição para o melhor do Brasileiro está tão sem graça quanto votar para presidente

MEU CARO eleitor leitor, minha caríssima eleita leitora, alguns nobres órgãos da imprensa já começaram a eleger suas seleções do Campeonato Brasileiro. Acho meio cedo para uma decisão tão profunda, mas penso que já podemos escolher o melhor jogador do campeonato, e ele é...
Calma, a coisa não é tão fácil assim. Ainda tenho que escrever 3.200 toques, e essa é uma escolha difícil. Aliás, dificuldade que não houve nos últimos três anos.
Em 2005, Tevez foi melhor sem muita contestação. Em 2004, Robinho foi o tal. E em 2003 foi a vez de Alex, que jogou como nunca. Olhando os exemplos acima, percebi que os três jogadores citados atuavam nos times campeões.
Então liguei para Lino, o são-paulino, e perguntei-lhe quem seria o melhor jogador de seu time. Ele disse: "Rogério Ceni, é claro. Não, não, neste campeonato ele não fez grandes defesas nem muitos gols. Acho que foi o Souza. Não, o Souza é meio de lua. Deve ter sido o Aloísio. Ou o Ilsinho. Ou o Mineiro. Ah, sei lá!".
Pois é, nem no líder absoluto do campeonato há alguém que se destaque, nem no virtual campeão deste ano há uma estrela fulgurante.
Um palmeirense diria que Edmundo foi o melhor. Mas isso seria excesso de otimismo ou saudosismo. A verdade é que, se ele foi bem, já não é o mesmo jogador dos tempos de antanho. Ainda é acima da média, mas já não tem pernas para ser o atacante que foi.
Os vascaínos poderiam falar de Morais, garoto que fez algumas ótimas partidas. Mas ainda é cedo para dizer que se trata de uma estrela.
Morais ainda não tem moral para tanto. Por enquanto está na categoria dos promissores. O lateral-esquerdo Marcelo começou muito bem no Brasileiro e fez uma bela partida na seleção, mas caiu junto com o time do Fluminense. O goleiro Diego fez boas partidas, mas não está à altura de outros grandes golquíperes, como Marcos. Faltam muitos milagres para que saia do "bom" para o "excelente".
Lucas, do Grêmio, mostrou qualidade, mas está mais para prêmio de revelação do que de melhor jogador. Ele realmente começou com o pé direito. Infelizmente também está com um pé no estribo para ir embora. (Aliás, é uma pena ver o Grêmio perder mais um grande jogador. Se Anderson tivesse continuado na equipe, os gaúchos poderiam estar mais perto do título.) O santista Zé Roberto talvez seja o melhor jogador em atividade no país, mas chegou apenas na segunda metade do campeonato e demorou a se entrosar.
Wagner, meia do Cruzeiro, é muito habilidoso e tem lugar em qualquer time do Brasil. Mas ainda não é uma estrela.
Souza, artilheiro do Goiás e do campeonato, poderia ser um candidato. Mas ele é eficiente, não chega a ser espetacular.
Renato, do Flamengo, fez belos gols, mas tampouco foi exuberante. Carlos Alberto poderia ser o homem do ano, mas preocupou-se mais com o jogo de palavras do que com o jogo de futebol.
Fernandão talvez seja o melhor para muitos. Mas tem apenas sete gols, o mesmo que, por exemplo, Rafael Moura. Fernandão equilibra o time mas não desequilibra o jogo.
Neste ano não houve aquele jogador, como Tevez, Robinho ou Alex, que queremos ver mesmo que não jogue no nosso time. Talvez a saída seja dar um prêmio de conjunto aos jogadores do São Paulo, assim como, em alguns festivais de cinema, dão um prêmio de melhor ator para todo o elenco de um filme.
O certo é que não temos, neste ano, alguém em quem votar sem a menor dúvida, com total convicção. Eleger o melhor jogador do Brasileiro está tão sem graça quanto votar para presidente.

torero@uol.com.br


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