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São Paulo, sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

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OLIMPÍADA

Brasileiros com dupla nacionalidade tentam vaga na Olimpíada de 2004 sob a bandeira de sua "outra" nação

Fora da pátria, radicados buscam Atenas

GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O português, às vezes enferrujado, justifica a nacionalidade. Mas, quando o assunto é a participação na Olimpíada de 2004, um punhado de atletas que resolveram radicar suas carreiras no exterior nem quer saber do Brasil.
O país tem hoje pelo menos sete esportistas de ponta que podem assegurar uma vaga nos Jogos de Atenas por sua "outra" pátria.
A modalidade com número mais representativo de exilados é o pólo aquático. Três brasileiros defendem hoje seleções mais gabaritadas no cenário internacional -Espanha, Austrália e EUA.
Quem puxou a fila foi o carioca Ricardo Perrone, o Kiko. Em 2001, com 25 anos, ele temia encerrar a carreira sem disputar uma Olimpíada. Lembrou, então, que sua avó havia nascido na Espanha, tirou um passaporte e decidiu jogar e viver em Barcelona.
Na primeira temporada, surpreendeu. Venceu a Copa do Rei, a Liga Espanhola e se firmou como candidato a um posto na seleção. "O começo é sempre complicado. Os jogadores desconfiam, acham que os brasileiros não sabem nada, mas logo consegui me firmar", conta o atleta.
Kiko chegou a ser convocado para o último Mundial, realizado em agosto, mas acabou cortado pouco antes do evento. "Ficar entre os melhores da Espanha não é uma tarefa fácil. Sei que ainda há tempo de ir para Atenas", explica.
Ele pode dividir essa angústia pré-Olimpíada com um conterrâneo. O brasileiro Pietro Figlioli também integra o elenco do clube. Sonha com um lugar na Grécia, mas sua luta é para entrar na seleção australiana. Figlioli, 19, já disputou alguns torneios pela Austrália e busca inspiração na trajetória do pai. Ele é filho do nadador paulista José Sylvio Fiolo, que quebrou o recorde mundial dos 100 m peito em 1968.
Quem completa a lista do pólo aquático é Anthony Azevedo, o principal artilheiro do time norte-americano. O selecionado é comandado por Rick Azevedo, seu pai, que nasceu no Rio.

Na quadra
A seleção portuguesa de vôlei que disputa o Pré-Olímpico Europeu a partir do próximo dia 5 é comandada por um paulistano de 33 anos. O meio-de-rede Ubirajara Pereira é o capitão da equipe e joga por Portugal desde 1996.
Bira, como é conhecido, foi para a Europa há 12 anos ao lado do amigo e levantador Rogério, com quem atuava no Palmeiras.
"Eu tinha 21 anos e era a primeira vez que jogaria no exterior", contou. Cinco anos depois, recebeu o convite para vestir a camisa portuguesa. Bira aproveitou a dupla nacionalidade, o fato de nunca ter defendido a seleção adulta do Brasil e encarou o desafio.
O principal teste dos portugueses acontecerá neste ano. Time sem tradição, Portugal tem melhorado de nível nos últimos anos com a chegada do técnico cubano Juan Diaz. A equipe alcançou a 20ª colocação no ranking mundial graças ao oitavo lugar no Mundial da Argentina, em 2002, e ao 13º na Liga deste ano.
Missão mais complicada terá outra brasileira que decidiu apostar na dupla cidadania para realizar o sonho de ir à Olimpíada.
Gisele Gavio montou uma parceria na areia para tentar representar a Itália e repetir o feito do irmão famoso, o ponta Giovane, ouro em Barcelona-1992.
A jogadora deixou o Brasil em 1990 com o fim do time da Pirelli e foi morar na terra natal dos avós para defender a equipe de Bergamo. Dez anos depois, decidiu apostar no vôlei de praia.
"Meu objetivo é ser uma jogadora de potencial médio para alto. Quero brigar com as melhores do mundo", disse Gisele à época.
Sua parceria com Gaia Cicola é a terceira do país mais bem posicionada no ranking mundial -as duas melhores duplas, que serão definidas em 2004, vão aos Jogos.
O trabalho mais árduo, contudo, será o do gaúcho Tomas Behrend. Número 104 na Corrida dos Campeões, ele vai duelar com os principais tenistas da Alemanha, onde vive, pelo sonho olímpico.


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