|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
foco
"Very good", Joel ganha medalha da Academia Brasileira de Letras e chora
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
"Eu acho que Machado de
Assis seria torcedor do Fluminense", diz o presidente da
Academia Brasileira de Letras,
Marcos Vilaça. "Será? Será que
ele era tricolor?", pergunta um
tímido Joel Santana, mãos
cruzadas em frente ao corpo,
entre um e outro imortal.
O técnico do Botafogo ganhou a medalha do centenário
da academia, ontem, no Rio.
Foi convidado para almoçar
pelo presidente, que investe
em campanha para que a casa
interaja "com pessoas que não
são da nossa convivência".
Joel não é. Foi feirante, cursou educação física pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, foi campeão estadual
pelos quatro times grandes do
Rio e treinou a seleção da África do Sul. É de lá, aliás, que
vem parte de sua recente "notoriedade": sua entrevista em
inglês macarrônico ficou célebre no site YouTube.
"Gostaria de falar, porém estou me sentindo emocionado.
É uma honra, em nome da minha família e do..." Joel não
terminou de falar. Engasgou
no choro e deu a camisa do Botafogo com o autógrafo de Nilton Santos ao presidente da
ABL, que é tricolor. O flamenguista Ziraldo, que já se candidatou a vagas na academia, não
perdeu a piada: "Poxa, você deveria fazer seu discurso em inglês". Joel riu e suspirou um ou
dois "very good, very good".
Na área vizinha à famosa sala do chá, Joel seguia quase calado ao lado dos imortais e de
intelectuais como Muniz Sodré, diretor da Biblioteca Nacional. Na entrada, curvou o
tronco a cada um e trocou o
"Oi, tudo bem?" por um "É
uma honra", que repetiu a cada
reverência. Contou, orgulhoso, da filha "que tem muitos
mestrados na Europa" e que se
mudará para Moçambique.
"Vamos te passar o contato
do [escritor moçambicano]
Mia Couto", disse Marcos Vilaça. "Estive na África por 22
meses", Joel puxou conversa.
"E eles ainda têm rituais de tribo. É impressionante. Mas o
país é de um desenvolvimento!", completou. Muniz Sodré
interrompeu: "Mas há muita
violência". E Joel: "É, é...".
Ele se animou com a conversa sobre sua prancheta, que
usa nos jogos. "Eu também não
deixo minha prancheta", disse
Vilaça. "Você sabe que, no momento em que eu chego a um
time de futebol, é muita coisa
nova, imagina o Maracanã lotado... Preciso anotar, senão
esqueço", explicou Joel.
Texto Anterior: Alemão: Bayer Leverkusen tenta ampliar saldo Próximo Texto: O que ver na TV Índice
|