São Paulo, sábado, 27 de fevereiro de 2010

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"Very good", Joel ganha medalha da Academia Brasileira de Letras e chora

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

"Eu acho que Machado de Assis seria torcedor do Fluminense", diz o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça. "Será? Será que ele era tricolor?", pergunta um tímido Joel Santana, mãos cruzadas em frente ao corpo, entre um e outro imortal.
O técnico do Botafogo ganhou a medalha do centenário da academia, ontem, no Rio. Foi convidado para almoçar pelo presidente, que investe em campanha para que a casa interaja "com pessoas que não são da nossa convivência".
Joel não é. Foi feirante, cursou educação física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi campeão estadual pelos quatro times grandes do Rio e treinou a seleção da África do Sul. É de lá, aliás, que vem parte de sua recente "notoriedade": sua entrevista em inglês macarrônico ficou célebre no site YouTube.
"Gostaria de falar, porém estou me sentindo emocionado. É uma honra, em nome da minha família e do..." Joel não terminou de falar. Engasgou no choro e deu a camisa do Botafogo com o autógrafo de Nilton Santos ao presidente da ABL, que é tricolor. O flamenguista Ziraldo, que já se candidatou a vagas na academia, não perdeu a piada: "Poxa, você deveria fazer seu discurso em inglês". Joel riu e suspirou um ou dois "very good, very good".
Na área vizinha à famosa sala do chá, Joel seguia quase calado ao lado dos imortais e de intelectuais como Muniz Sodré, diretor da Biblioteca Nacional. Na entrada, curvou o tronco a cada um e trocou o "Oi, tudo bem?" por um "É uma honra", que repetiu a cada reverência. Contou, orgulhoso, da filha "que tem muitos mestrados na Europa" e que se mudará para Moçambique.
"Vamos te passar o contato do [escritor moçambicano] Mia Couto", disse Marcos Vilaça. "Estive na África por 22 meses", Joel puxou conversa. "E eles ainda têm rituais de tribo. É impressionante. Mas o país é de um desenvolvimento!", completou. Muniz Sodré interrompeu: "Mas há muita violência". E Joel: "É, é...".
Ele se animou com a conversa sobre sua prancheta, que usa nos jogos. "Eu também não deixo minha prancheta", disse Vilaça. "Você sabe que, no momento em que eu chego a um time de futebol, é muita coisa nova, imagina o Maracanã lotado... Preciso anotar, senão esqueço", explicou Joel.


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