São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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TOSTÃO

Descrição e afeição

Para muitos, quem não trabalha na TV, no rádio e não tem blog nem Twitter não existe

A DISPUTA PELA Taça das Bolinhas (nada mais chato), a entre os clubes, a entre as televisões, e a entre os clubes e as televisões são símbolos do jogo de interesses que existe no futebol, na política e na sociedade.
Querem ser mais espertos do que a esperteza.
Prefiro caminhar pelas ruas devagar, divagar, pensar na vida e nos compromissos e conversar sobre futebol e outras coisas.
Nesta semana, um torcedor me perguntou por que desapareci do futebol. Expliquei que escrevo para vários jornais. Não adiantou.
Para ele e muitas outras pessoas, quem não trabalha na televisão ou no rádio, não tem blog, Twitter nem faz parte de uma rede social não existe. Sou um fantasma.
Não quero desaparecer. Como todo ser humano, tenho, uns mais, outros menos, a necessidade de ser reconhecido.
Cada vez mais, as pessoas têm pavor do anonimato. Muitos jornalistas não querem apenas dar a notícia. Querem também ser a notícia.
De vez em quando, por vontade de crescer profissionalmente e de ser mais visto, penso em voltar para a televisão, criar um blog, um site, mas, ao lembrar que terei de viajar a trabalho, enfrentar as enchentes de São Paulo e viver com um computador no colo, desisto.
Ainda bem que existem pessoas que me leem. Há os que gostam quando escrevo sobre detalhes técnicos e táticos, os que preferem minhas divagações, como as de hoje, os que gostam dos dois jeitos e os que não gostam de jeito nenhum.
Recentemente, um leitor ficou furioso porque errei datas e nomes de um fato ocorrido nos anos 60. Aprendi com ele a não confiar na memória, ainda mais na minha idade e com o Google tão próximo. O assunto da coluna, que eu achava importante, o leitor não deu bola.
Isso me fez lembrar de um conto (seria crônica, romance) de Jorge Luis Borges, "O Memorioso". O jovem Funes tinha uma excepcional memória. Ele era capaz de assistir a um filme e, tempos depois, lembrar de todos os detalhes, como as cores das camisas de todos os personagens. Mas era incapaz de interpretar, deduzir, imaginar e fantasiar o que viu. É a memória descritiva.
A informação correta é essencial. Porém conhecimento não é apenas informação.
É preciso unir a informação com a interpretação e com a memória afetiva, como fazem alguns brilhantes jornalistas esportivos, como Juca Kfouri, PVC, Mauro César Pereira, Milton Leite, Alberto Helena Júnior e outros.


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