São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

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Médico que salvou Pato quer craque no Morumbi

Estrela do Inter e do sub-20 só continuou no esporte graças a cirurgia gratuita

Segundo o ortopedista, caso atacante não fizesse a operação e sofresse quedas, teria de imobilizar o braço esquerdo com freqüência


Danilo Verpa/Folha Imagem
O médico Paulo Roberto Mussi exibe camisa da seleção sub-20 que ganhou de Alexandre Pato


JULYANA TRAVAGLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem, apesar dos sete anos passados, não lhe sai da cabeça. "O Alexandre era um menino franzino, extremamente tímido e com cara de assustado, que se escondia atrás da barra da saia da mãe", conta o médico Paulo Roberto Mussi.
Mas o que o especialista em ortopedia não imaginava é que, um dia, o tal Alexandre Rodrigues da Silva, de quem extraiu um tumor no braço esquerdo durante a infância, se transformaria em Alexandre Pato, 17, estrela do Inter-RS, da seleção brasileira sub-20 e candidato a craque de alcance mundial.
"Quando a mãe dele disse que ele jogaria com o Palmeiras [no Brasileiro-06] achei que era coisa de mãe. Mas quando vi o gol e o passe dele na TV mal pude acreditar. Era ele mesmo!", recorda-se Mussi, lembrando a estréia de Pato no profissional, na vitória do Inter-RS por 4 a 1.
Com um braço quebrado por conta de uma queda em um jogo de futebol, o garoto, então só Alexandre e com dez anos, foi levado pela mãe ao consultório de Mussi, em Pato Branco (PR) -cidade em que nasceu e que lhe valeu o apelido. No primeiro exame, nada foi encontrado.
Porém, na segunda checagem, o médico detectou uma alteração no úmero esquerdo, osso do braço que une o ombro ao antebraço. Era um tumor benigno (passível de extração).
Caso não fosse retirado numa cirurgia, o tumor poderia comprometer a futura carreira de jogador de futebol do garoto.
"Em princípio, parecia uma coisa simples. Mas a família ficou temerosa, pois o Alexandre jogava bem e queria ser um atleta", comenta Mussi, torcedor fanático do São Paulo.
Com poucos recursos financeiros, a família do atacante, campeão mundial com o Inter-RS em 2006 e sul-americano com a seleção sub-20, em janeiro, não teve de arcar com os custos da operação, realizada gratuitamente pelo médico.
"Isso [não cobrar] é comum para mim. Eles não tinham dinheiro e o menino não podia ficar daquele jeito. Caso contrário, toda vez que caísse, teria de imobilizar o braço", comenta.
Para extrair o tumor -que estava do tamanho de dois ovos, conta-, o médico realizou duas cirurgias, ambas simples de serem executadas.
Primeiro, tirou um enxerto do ilíaco (maior osso da bacia). O local onde o tumor se encontrava foi raspado e o enxerto colocado para reforçar o osso.
O tratamento levou cerca de cinco anos, até Pato atingir a maturidade esquelética, ou como prefere simplificar o médico, "a casquinha se transformar em uma "cascona" forte".
Em entrevistas enquanto estava no Paraguai com a seleção sub-20, Pato comentou o episódio e afirmou que, mesmo com medo, não parou de jogar futebol durante o tratamento.
E apesar de ter adquirido notoriedade no país e fora dele, Alexandre não cansa de demonstrar seu agradecimento ao médico que o curou.
Prova disso foi que, há duas semanas, Mussi foi agraciado com uma camisa da seleção brasileira usada por Pato no Sul-Americano sub-20.
Por conta dos compromissos em Porto Alegre, Pato não pôde entregar a camisa pessoalmente. Mussi não se incomodou.
"Eu fico feliz porque ele não tinha obrigação de tocar no meu nome quando comenta esse assunto", derrete-se Mussi, para depois revelar um sonho que tem com seu ex-paciente: o de vê-lo vestindo a camisa do time do Morumbi. "Um dia ele ainda vem pro São Paulo."


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