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Especial - Lei Pelé
Só 1 em cada 10 que emigram alcança a elite
Em 2007, 90% dos jogadores do Brasil não foram para times das dez principais ligas; transferências dobram na década
Para empresários e cartolas, maioria dos atletas que se transferem não tem contrato com clubes e, portanto, não paga a cláusula penal ao sair
LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Completados dez anos da Lei
Pelé nesta semana, Robinho,
Kaká e Ronaldinho são as caras
visíveis da debandada brasileira para o exterior. Mas não ilustram o caso típico de atleta que
deixa o país. A maioria não se
destina à elite do futebol mundial, mas à sua periferia.
Levantamento da Folha
mostra que aproximadamente
um em cada dez atletas originários do Brasil transferiu-se
para a primeira divisão das dez
principais ligas do Mundo.
Ou seja, 90% deles passam ao
largo das cobiçadas séries A de
Alemanha, Espanha, França,
Holanda, Inglaterra, Itália,
Portugal, Argentina, Japão e
México. Ou onde se concentram dinheiro e/ou holofotes.
Segundo a CBF, em 2007
1.245 jogadores deixaram o
país, mais que o dobro do que
os 556 jogadores que saíram
em 1997, último ano antes da
Lei Pelé. O site da entidade, porém, está desatualizado e divulga o destino de apenas 1.085
dessas transferências, as realizadas até 18 de novembro. O levantamento usa esse número.
Empresários e cartolas dizem que, pelo menos em parte,
a lei tem relação direta com a
debandada dos atletas. Citam a
facilidade de os jogadores poderem aceitar propostas, sem
ter de negociar com clubes.
"Desses mil e poucos, foram
uns 900 que saíram sem pagar
cláusula penal, nada. Não tinham relação com clube. Com
o futebol mais globalizado, e livre, o jogador pode aceitar
oferta em qualquer lugar. Não
está preso a times pequenos",
analisa o presidente da Associação Brasileira de Agentes de
Futebol, Léo Rabello.
A abertura de novos mercados é outra explicação dada pelo vice-presidente de futebol
do Flamengo, Kléber Leite.
"Surgiram lugares, como o Leste Europeu e o Japão, que não
estavam no mapa antes", lembra o cartola.
De fato, em 2007, o Japão
importou 57 atletas, número
que supera ligas tradicionais
como Itália e Alemanha. Dos
atletas que foram para o país
asiático, só 19 tiveram como
destino a primeira divisão.
Localidades como Lituânia,
Sérvia e Croácia também vêem
saltar seu número de brasileiros. Oito países da região receberam 102 brasileiros no total.
Conexões entre equipes e determinados países, feitas em
geral por empresários, também
os transformam em pólo atrativo. Clubes do Vietnã receberam nove atletas do paranaense Matsubara.
"Tem que discutir a economia do futebol brasileiro. Não
adianta só desenvolver lei. Tem
que fortalecer as receitas", pede o ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior.
Mas, para os empresários,
muitos dos jogadores que saem
nem sequer teriam oportunidades no Brasil se ficassem.
"O mundo é mais cruel do
que se pensa [com os jogadores]. Há uma legião deles desempregados no Brasil", afirma
o agente Gilmar Rinaldi.
O presidente interino do
Vasco, Eurico Miranda, admite
a miséria do futebol brasileiro
como fator de exportação, mas
dá diagnóstico diferente. "Noventa por cento dos jogadores
não ganham nem dois salários
mínimos. Agora, o clube faz um
contrato de dois meses e depois
perde. Antes, o mantinha", diz.
Se a Lei Pelé incentivou a saída de atletas, a "Lei Bosman",
que representou o início da extinção do passe na Europa, proporcionou um crescimento nos
retornos de atletas ao país.
De 1997 a 2007, o número de
jogadores que voltou para o
Brasil também mais do que dobrou. Saltou de 242 para 500.
Um cenário a Lei Pelé não
mudou: Portugal segue como
clube com maior trânsito de
atletas com o Brasil. Foram 227
exportados e 80 retornos até
novembro do ano passado.
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