São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Especial - Lei Pelé

Só 1 em cada 10 que emigram alcança a elite

Em 2007, 90% dos jogadores do Brasil não foram para times das dez principais ligas; transferências dobram na década

Para empresários e cartolas, maioria dos atletas que se transferem não tem contrato com clubes e, portanto, não paga a cláusula penal ao sair


LUÍS FERRARI
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Completados dez anos da Lei Pelé nesta semana, Robinho, Kaká e Ronaldinho são as caras visíveis da debandada brasileira para o exterior. Mas não ilustram o caso típico de atleta que deixa o país. A maioria não se destina à elite do futebol mundial, mas à sua periferia.
Levantamento da Folha mostra que aproximadamente um em cada dez atletas originários do Brasil transferiu-se para a primeira divisão das dez principais ligas do Mundo.
Ou seja, 90% deles passam ao largo das cobiçadas séries A de Alemanha, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Portugal, Argentina, Japão e México. Ou onde se concentram dinheiro e/ou holofotes.
Segundo a CBF, em 2007 1.245 jogadores deixaram o país, mais que o dobro do que os 556 jogadores que saíram em 1997, último ano antes da Lei Pelé. O site da entidade, porém, está desatualizado e divulga o destino de apenas 1.085 dessas transferências, as realizadas até 18 de novembro. O levantamento usa esse número.
Empresários e cartolas dizem que, pelo menos em parte, a lei tem relação direta com a debandada dos atletas. Citam a facilidade de os jogadores poderem aceitar propostas, sem ter de negociar com clubes.
"Desses mil e poucos, foram uns 900 que saíram sem pagar cláusula penal, nada. Não tinham relação com clube. Com o futebol mais globalizado, e livre, o jogador pode aceitar oferta em qualquer lugar. Não está preso a times pequenos", analisa o presidente da Associação Brasileira de Agentes de Futebol, Léo Rabello.
A abertura de novos mercados é outra explicação dada pelo vice-presidente de futebol do Flamengo, Kléber Leite. "Surgiram lugares, como o Leste Europeu e o Japão, que não estavam no mapa antes", lembra o cartola.
De fato, em 2007, o Japão importou 57 atletas, número que supera ligas tradicionais como Itália e Alemanha. Dos atletas que foram para o país asiático, só 19 tiveram como destino a primeira divisão.
Localidades como Lituânia, Sérvia e Croácia também vêem saltar seu número de brasileiros. Oito países da região receberam 102 brasileiros no total.
Conexões entre equipes e determinados países, feitas em geral por empresários, também os transformam em pólo atrativo. Clubes do Vietnã receberam nove atletas do paranaense Matsubara.
"Tem que discutir a economia do futebol brasileiro. Não adianta só desenvolver lei. Tem que fortalecer as receitas", pede o ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior.
Mas, para os empresários, muitos dos jogadores que saem nem sequer teriam oportunidades no Brasil se ficassem.
"O mundo é mais cruel do que se pensa [com os jogadores]. Há uma legião deles desempregados no Brasil", afirma o agente Gilmar Rinaldi.
O presidente interino do Vasco, Eurico Miranda, admite a miséria do futebol brasileiro como fator de exportação, mas dá diagnóstico diferente. "Noventa por cento dos jogadores não ganham nem dois salários mínimos. Agora, o clube faz um contrato de dois meses e depois perde. Antes, o mantinha", diz.
Se a Lei Pelé incentivou a saída de atletas, a "Lei Bosman", que representou o início da extinção do passe na Europa, proporcionou um crescimento nos retornos de atletas ao país.
De 1997 a 2007, o número de jogadores que voltou para o Brasil também mais do que dobrou. Saltou de 242 para 500.
Um cenário a Lei Pelé não mudou: Portugal segue como clube com maior trânsito de atletas com o Brasil. Foram 227 exportados e 80 retornos até novembro do ano passado.


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