São Paulo, domingo, 27 de março de 2011

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Torcedor trava batalha com São Paulo e FPF na Justiça

LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

Quando São Paulo e Corinthians se enfrentam, a cicatriz de Eduardo do Carmo de Sousa o lembra da noite de 15 de fevereiro de 2009.
O operador de telemarketing caiu na arquibancada e foi pisoteado por um grupo de corintianos, que se envolveu em confusão com a Polícia Militar no Morumbi.
O jogo, válido pela primeira fase do Campeonato Paulista de 2009, foi o primeiro a acatar a lei do mandante: aos visitantes, apenas 10% dos ingressos foram cedidos, medida que vigora até hoje.
Eduardo, hoje aos 23 anos, quase morreu. Perdeu o baço e teve o pâncreas danificado. Ficou uma semana internado e dois meses de repouso em casa. Com base no Código de Defesa do Consumidor, ele recorreu à Justiça.
Processou o São Paulo, mandante do jogo, e a Federação Paulista de Futebol, organizadora do evento. A primeira decisão foi favorável: indenização de R$ 250 mil e pensão mensal de R$ 200 até que tenha 70 anos de idade.
"É uma questão de justiça. Demorei seis meses para conseguir voltar a trabalhar e até hoje tenho restrições físicas. Meu sistema imunológico, por exemplo, ficou fragilizado", disse Eduardo, que mora no Jardim Santa Adélia (zona leste de São Paulo).
Aquele clássico, por sinal, esteve tenso antes de começar. Houve trocas de farpas entre as diretorias, que já andavam se desentendendo, e, a partir de então, com a decisão do São Paulo de restringir os ingressos dos rivais a 10% do total, a hostilidade entre os clubes só aumentou.
Mas o pesadelo de Eduardo começou após o final da partida, que acabou 1 a 1.
Os cerca de 3.500 corintianos foram mantidos dentro do estádio, como sempre faz a polícia com os visitantes, até que os torcedores são- -paulinos deixassem o local.
Então uma bomba explodiu na saída do Morumbi, assustando os corintianos. Parte voltou para as arquibancadas para fugir da confusão. Entre eles, Eduardo, que escorregou e foi pisoteado.
"Não tinha para onde sair. O pessoal foi vindo para trás e caindo em efeito dominó. Lembro de escorregar e cair na arquibancada. Apaguei e, quando acordei, havia muita gente caída. Estava perdido e me perguntava: "O que aconteceu?'", conta o torcedor.
Ao Morumbi, afirma, nunca mais volta. Jogos do Corinthians, desde então, só foi a três. O clássico de hoje,em Barueri? Nem pensar. "Às vezes acordava meio assustado. Sonhava que estava sendo pisoteado de novo, pisavam no meu pescoço", conta.
Tanto o São Paulo quanto a federação paulista recorreram dessa primeira decisão. A FPF, em nota, informou que se baseia em dois argumentos para se defender: ilegitimidade passiva e culpa exclusiva de terceiro.
"A segurança dos torcedores é de obrigação exclusiva da entidade de prática desportiva detentora do mando, no caso o São Paulo", diz a nota, que continua: "O tumulto ocorreu por causa da explosão de um artefato deflagrado por terceiros".
O São Paulo conseguiu uma revisão da decisão. Segundo o diretor jurídico Kalil Rocha Abdalla, o processo vai voltar para a primeira instância. "O juiz não tinha ouvido as testemunhas. Alegamos cerceamento de defesa."
Abdalla diz que, apesar de seu clube ser dono do estádio e mandante, o espaço onde aconteceu a confusão era destinado ao Corinthians.


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