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JUCA KFOURI
A Lei Pelé
O maior cuidado que Pelé
precisa ter em relação à lei
que transforma os clubes de
futebol em empresas diz respeito à articulação política.
Além de, como já observou
Matinas Suzuki Jr., precisar
reunir os esforços de seus
companheiros governistas que
se interessam por futebol (o
gremista ministro da Educação Paulo Renato, o palmeirense senador José Serra, o
ministro do Planejamento e
são-paulino Antonio Kandir,
o também tricolor ministro
das Comunicações, Sérgio
Motta), Pelé deverá fazer um
árduo trabalho para convencer o Congresso Nacional sobre a necessidade da medida.
Para tanto, e ao contrário
do que houve no episódio da
lei do passe, o ministro terá de
trabalhar para conseguir o
apoio de boa parte dos grandes clubes.
Será preciso mostrar que a
medida é a favor dos clubes,
não contra.
Claro que enfrentará resistências vindas dos cartolas
``amadores'' que se locupletam. Mas é preciso dizer que
ainda existem os que trabalham honestamente, e esses
são os que podem ser ganhos.
Envolver o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, outro apaixonado torcedor do Sport, e o ministro Reinold Stephanes, da Previdência Social, torcedor da Lusa,
também será fundamental.
Em países como a Espanha,
por exemplo, quando foi
aprovada legislação semelhante, o governo tratou de
pôr na mesa a renegociação
das dívidas que os clubes tinham com os cofres públicos,
tornando a lei mais obviamente conveniente aos próprios clubes.
É mais que sabido que não
basta estar com a posição correta para que essa triunfe. Se
abdicar de fazer política para
aprovar a chamada Lei Pelé, o
ministro corre o risco de não
vê-la aprovada ou, no mínimo, de vê-la tão desfigurada
como a Lei Zico.
Em resumo, nem o fato de a
opinião pública estar ganha
para as mudanças que o futebol precisa (e nunca será demais lembrar a pesquisa Datafolha publicada na série ``O
País do Futebol'') garante a
aprovação do projeto de Pelé.
O poder maligno dos Mirandas, Chedids, das federações e
da CBF (que só depois de oito
anos de gestão nada transparente, e com o burro devidamente à sombra, é capaz de
admitir aquilo que o Clube
dos 13 fez dez anos atrás, ou
seja, um Campeonato Brasileiro com 16 clubes) não pode
ser desprezado.
Articular é preciso, impor
não é eficaz.
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