São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997.

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JUCA KFOURI
A Lei Pelé

O maior cuidado que Pelé precisa ter em relação à lei que transforma os clubes de futebol em empresas diz respeito à articulação política.
Além de, como já observou Matinas Suzuki Jr., precisar reunir os esforços de seus companheiros governistas que se interessam por futebol (o gremista ministro da Educação Paulo Renato, o palmeirense senador José Serra, o ministro do Planejamento e são-paulino Antonio Kandir, o também tricolor ministro das Comunicações, Sérgio Motta), Pelé deverá fazer um árduo trabalho para convencer o Congresso Nacional sobre a necessidade da medida.
Para tanto, e ao contrário do que houve no episódio da lei do passe, o ministro terá de trabalhar para conseguir o apoio de boa parte dos grandes clubes.
Será preciso mostrar que a medida é a favor dos clubes, não contra.
Claro que enfrentará resistências vindas dos cartolas ``amadores'' que se locupletam. Mas é preciso dizer que ainda existem os que trabalham honestamente, e esses são os que podem ser ganhos.
Envolver o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, outro apaixonado torcedor do Sport, e o ministro Reinold Stephanes, da Previdência Social, torcedor da Lusa, também será fundamental.
Em países como a Espanha, por exemplo, quando foi aprovada legislação semelhante, o governo tratou de pôr na mesa a renegociação das dívidas que os clubes tinham com os cofres públicos, tornando a lei mais obviamente conveniente aos próprios clubes.
É mais que sabido que não basta estar com a posição correta para que essa triunfe. Se abdicar de fazer política para aprovar a chamada Lei Pelé, o ministro corre o risco de não vê-la aprovada ou, no mínimo, de vê-la tão desfigurada como a Lei Zico.
Em resumo, nem o fato de a opinião pública estar ganha para as mudanças que o futebol precisa (e nunca será demais lembrar a pesquisa Datafolha publicada na série ``O País do Futebol'') garante a aprovação do projeto de Pelé.
O poder maligno dos Mirandas, Chedids, das federações e da CBF (que só depois de oito anos de gestão nada transparente, e com o burro devidamente à sombra, é capaz de admitir aquilo que o Clube dos 13 fez dez anos atrás, ou seja, um Campeonato Brasileiro com 16 clubes) não pode ser desprezado.
Articular é preciso, impor não é eficaz.

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