São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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Com a seleção de Parreira, gol é só um detalhe mesmo

Sob comando do técnico, Brasil empaca e vira uma das dez seleções, entre as 196 que atuaram nos últimos 16 meses, cujos jogos têm o menor número de gols

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A BUDAPESTE

Se só bola na rede definisse as melhores seleções do mundo, o Brasil de Carlos Alberto Parreira estaria bem longe da liderança que ocupa no ranking da Fifa.
Desde que o treinador assumiu o cargo, no início do ano passado, o time nacional, que amanhã, às 15h30, faz amistoso com a Hungria em Budapeste, entrou em profunda depressão ofensiva.
Assim, tornou-se uma das dez seleções, entre as 196 que entraram em campo nos últimos 16 meses, que protagonizam jogos com menos gols. Nas 14 partidas da atual gestão, aconteceram só 25, média de 1,79 por duelo.
E não é porque a defesa melhorou que o Brasil está nessa situação. Com Parreira, o time toma mais gols do que com Luiz Felipe Scolari (média de 0,71 com o primeiro, 0,68 com o segundo). A raiz do problema está no ridículo desempenho ofensivo do time que só tem estrelas no ataque, como Ronaldo, Ronaldinho e Kaká.
Do início de 2003 até hoje, a seleção que manteve a base do pentacampeonato tem média de 1,07 gol feito por jogo. Tal marca coloca a equipe em um inacreditável 117º lugar no ranking de artilharia no período, atrás de nulidades da bola, como Índia, Azerbaijão, Uganda e Antilhas Holandesas.
A desculpa que a realidade e os adversários de uma seleção grande são diferentes de equipes medíocres também não se justifica. Todos os campeões mundiais fizeram gols em maior número que o Brasil de Parreira. Até a Itália, famosa por suas retrancas, balança as redes em um ritmo muito maior -tem média de 1,92 gols por jogo desde janeiro de 2003.
Os números brasileiros com o treinador responsável pelo tetracampeonato acontecem depois de um período de fartura ofensiva. Na gestão Scolari, a seleção marcou, em média, 2,24 vezes por jogo. Tal marca colocaria a equipe entre os 15 ataques mais poderosos na lista em que a equipe de Parreira ocupa o 117º lugar.
Para o atual treinador, a postura dos adversários é a principal causa da anemia ofensiva do time. "Todo mundo que joga contra o Brasil põe oito jogadores atrás da linha bola", diz Parreira.
Ele refuta qualquer acusação de defensivismo. "Time que tem Ronaldo, Ronaldinho e Kaká não pode ser chamado de defensivo", afirma o treinador, que mudou o 3-5-2 de Scolari para um 4-3-3 -no seu esquema, o trio mais famoso do futebol brasileiro joga todo no ataque.
Em 2004, quando os três jogaram juntos pela primeira vez, o Brasil foi ainda pior no ataque -terminou em branco contra Irlanda, em amistoso, e diante do Paraguai, pelas eliminatórias.

Maratona
Para chegar a Budapeste, local do amistoso de amanhã, o grupo que veio do Brasil enfrentou uma desgastante viagem.
O time deixou São Paulo na noite de domingo e foi para Paris. Lá, esperou por uma conexão para a capital húngara por quase cinco horas -chegando ao hotel apenas no final da noite de ontem.
Já o pessoal que atua na Europa foi chegando aos poucos. Um dos primeiros a desembarcar foi o volante Edu, do Arsenal, que tem contra a Hungria sua primeira experiência na seleção brasileira.


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