São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 2006

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FUTEBOL

Raimundo e os juízes

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Ontem, à meia-noite, fui ao Bar da Preta. Fui direto à mesa do fundo, apelidada de buraco negro porque fica num cantinho e não há luz ali, só um abajur de pano vermelho que parece ter sido tirado de algum filme B.
Raimundo, o rei do submundo, já estava me esperando. Mal me sentei e Preta veio tirar nossos pedidos.
"Um Drurys. E sem gelo", ele falou. "Uma Fanta Uva", pedi eu.
"Não sei qual de vocês tem o fígado pior", resmungou a Preta enquanto se afastava.
Então Raimundo deu algo parecido com um sorriso, seu dente de ouro brilhou, e ele perguntou: "Diga lá, meu rapaz, o que você quer saber hoje".
"Bem, senhor Raimundo, eu gostaria de saber algo sobre juízes corruptos. São coisa recente ou já existem há muito tempo?"
"Olha, eu posso lhe garantir que o Edilson e o Danelon são uns amadores."
"Por quê?"
"Porque foram pegos. Ladrão que é ladrão se aposenta sem esquentar banco de delegacia."
"E tem muito juiz ladrão que já se aposentou?"
"Assim, ó!", disse ele enquanto abria e fechava os dedos das mãos.
"O senhor pode citar nomes?"
"Vou fazer melhor, vou lhe dar uma história. Ou duas."
"Pode falar, estou anotando."
"Bem, certa vez, num jogo importante de um grande time de São Paulo, eu estava sentado ao lado do presidente do clube. Aí ele me disse: "Se, quando o trio de arbitragem entrar, tocar "Aquarela do Brasil", é porque esse jogo é nosso. Aí, quando o trio de juízes entrou com pose de porteiro com uniforme novo, os alto-falantes do estádio cantaram: "Brasil, meu Brasil brasileiro...". Vitória fácil. Foi um roubo com trilha sonora."
"Quer dizer que juiz ladrão não é novidade mesmo?"
"Longe disso. E tem até juiz que é especializado em roubar para um clube."
"Sério?"
"Ô! Como se fosse funcionário do clube. Só não tem holerite porque pega mal."
"Inacreditável..."
"Então vou contar a segunda historinha: era a final de um Campeonato Paulista. O time A e o time B discutiam que juízes escalar. A idéia era que o Dulcídio Wanderley Boschilla apitasse os dois jogos, mas um dos times teimava que queria o juiz A no primeiro jogo. Aí o presidente do time B disse que só aceitaria o juiz A no primeiro jogo se o juiz B apitasse o segundo. E assim foi."
"Cada um queria o seu juiz."
"É claro. Aí o primeiro jogo foi roubado para o time A, e o segundo, para o time B. Aliás, nesse segundo jogo teve um pênalti escandaloso que o juiz B fez que não viu. E, no fim das contas, o time dele venceu."
"E eles nunca foram pegos?"
"Nunca, jamais. O primeiro sumiu. Hoje apita jogos amadores pelo interior. Mas o segundo está por aí e tem cargo importante. As coisas são assim, meu rapaz."
Então Raimundo bebeu seu Drurys, levantou e saiu cantando "Brasil, meu Brasil brasileiro...".

Goiás
O Goiás começou mal nas oitavas da Libertadores. O time vinha equilibrando o jogo com o aguerrido Estudiantes, mas teve um expulso (Souza) e tomou um gol aos 35min do segundo tempo. Depois, outra expulsão (Leonardo) e outro gol no finzinho do jogo. Poderia ter saído de La Plata com um empate. Agora terá que fazer o que não faz há nove jogos: dois gols. E não poderá levar nenhum. Está longe de ser missão impossível, mas que é bem difícil, é.

Sport
O Sport é o líder na Série B. E está 100%. Ganhou as três partidas até aqui. Além disso, foi campeão pernambucano, venceu o Santa Cruz em pleno Arruda e só perdeu um de seus últimos 15 jogos. Ariano Suassuna deve estar rindo à toa.

E-mail torero@uol.com.br


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