São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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JUCA KFOURI

O Palmeiras e o espectro da Ponte


Só palmeirenses e bugrinos torcerão hoje contra o mais antigo e simpático clube do interior paulista

TODOS OS torcedores dos clubes grandes de São Paulo já sentiram isso na pele: a torcida quase unânime do Estado contra as suas cores.
A Ponte Preta já foi o time de todos (menos os do Guarani...) contra o Corinthians e contra o São Paulo, assim como o Guarani já foi o time de todos (menos os da Ponte Preta...) contra o Palmeiras, do mesmo modo que a Inter de Limeira e o XV de Piracicaba foram os de rigorosamente todos contra o mesmo Palmeiras em priscas eras.
A diferença agora é que a torcida não terá de ser apenas o 12º jogador da Ponte Preta.
Terá de ser o oitavo, o nono, o décimo, o 11º e o 12º jogadores, porque a Macaca entrará em campo em Moisés Lucarelli com desfalques que vão além do suportável, ainda mais para um clube de orçamento modesto. O capitão César está fora, e com ele sua experiência e liderança.
Os dínamos do meio-de-campo Elias e Renato também não jogarão, assim como Eduardo Arroz, que, se não faz a mesma falta, agrega o peso de sua ausência num 11 tão desfalcado exatamente no jogo em casa, aquele que o time precisa vencer para poder especular no campo adversário. Haja torcida!
Xico Sá fez referência ao livro "A Saída do Primeiro Tempo", de Renato Pompeu, editado em 1978, pela Editora Alfa-Omega. Livraço há muito esgotado (vamos reeditá-lo?!) e, sem dúvida, das melhores obras já escritas sobre futebol na face da Terra, onde se fala do espectro da Ponte Preta e onde se conta a história do futebol por meio de uma mais que criativa apropriação do primeiro capítulo do "Capital", sobre a mercadoria, de Karl Marx. Coisa de gênio, literalmente, precursor da também ótima obra de Hilário Franco Júnior, "A Dança dos Deuses", pela editora Companhia das Letras.
"O espectro da Associação Ponte Preta ronda as noites de Campinas". escreveu Pompeu. "Trata-se da grande mãe preta velha gorda, de saia e blusa branca e manto bordado de seda negra que sobrevoa como mancha leitosa os prédios e ruas", diz ele.
Fundada em 1900, a Veterana rivaliza em simpatia apenas com o Juventus no futebol paulista. Razão pela qual até o palmeirense mais fanático ficará menos chateado se perder para ela do que se perdesse para rivais tradicionais como os corintianos, são-paulinos e santistas, embora talvez a ordem aqui esteja errada, com os tricolores a ocupar o primeiro lugar.
Palmeiras que há de saber muito bem o tamanho da dureza que o aguarda em Campinas, mesmo que muito mais inteiro, descontada a sentida ausência de Léo Lima, melhor contribuição de Vanderlei Luxemburgo ao elenco alviverde. E por falar em técnico, não bastasse a simpatia da Ponte, eis que Sérgio Guedes é muito mais que simpático, exala seriedade e senso ético, coisa tão em falta na categoria.
E por falar em categoria, taí algo que não falta nos dois goleiros protagonistas do jogão de hoje, porque se Aranha parece abençoado pelos deuses do futebol, São Marcos já fez o suficiente, desde que voltou, para recuperar o posto de titular da seleção brasileira. Que vença quem jogar melhor.

blogdojuca@uol.com.br


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