São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Unicamp forja a Ponte fora do campo

Praticamente toda a comissão técnica da equipe passou pelos cursos da universidade campineira ou ainda trabalha lá

De auxiliar técnico a olheiro, passando pelo departamento médico e de fisiologia, clube investe em profissionais da instituição


PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

Não que seja obrigatório, mas para trabalhar atualmente na comissão técnica da Ponte Preta é praticamente um pré-requisito ter passado pela Unicamp, uma das mais conceituadas universidades do país.
O clube alvinegro tem auxiliar técnico, preparador físico, fisiologista, médico, nutricionista, estatístico e até olheiro com passagens, seja na graduação, em mestrados ou até como professores, pela instituição pública, uma das que mais investem em pesquisa esportiva, especialmente no futebol.
Quase todos são jovens e passaram pelo departamento de ciência do desporto da Unicamp. Nenhum vínculo oficial une a Ponte e a universidade, mas todos os integrantes da comissão técnica ponte-pretana exaltam a parceria informal entre as duas partes.
"A Ponte acabou servindo de elo para o conhecimento adquirido na universidade ser aplicado nos atletas", afirma Carlos Eduardo Bassi Rodrigues, 34, mestre pela instituição e há mais de 11 anos trabalhando no clube como fisioterapeuta. Ele cita como exemplo pesquisa sobre músculos da coxa com dados coletados no clube e analisados nos bancos escolares.
"Na minha área, você traz muitas coisas da universidade. A questão de intensidade dos treinos, o monitoramento da recuperação dos atletas", diz Rui Palomo, 32, o preparador físico da Ponte, que possui especialização em treinamento esportivo na mais importante universidade campineira.
"Futebol tem que estar acompanhado da ciência. E quem estudou corta caminho em muitas coisas", afirma Everaldo Pierrotti, 46, outro que passou pela especialização no esporte da Unicamp.
Pierrotti é um exemplo de que, na Ponte, gente vinda da universidade não é coisa exclusiva de departamentos como o médico, o de fisiologia e o de preparação física. No clube, bola também é assunto de quem passou pelos bancos universitários. Ele é o principal auxiliar, para questões técnicas, do treinador Sérgio Guedes.
"Ajuda muito o conhecimento acadêmico. Você associa a prática à teoria. E hoje a ciência do esporte, a biomecânica e a estatística são importantes no futebol", diz Pierrotti, que foi jogador profissional. Ele atuou na própria Ponte e participou da campanha do vice-campeonato paulista de 1981 antes de partir para a vida universitária.
É um professor de estatística da Unicamp, aliás, quem municia a Ponte Preta com dados estatísticos sobre o desempenho da equipe e dos adversários.
Há quase uma década Laércio Venditte fornece aos treinadores do clube, um dia depois dos jogos, uma análise numérica completa sobre o desempenho do time no gramado.
"O trabalho do Venditte rende porque o Sérgio Guedes gosta disso", afirma Pierrotti, repetindo o discurso de toda a turma da Unicamp na Ponte Preta, que aponta a cabeça aberta do treinador para o conhecimento acadêmico como fator-chave para que eles tenham espaço no clube.

Olheiro
A abertura ao novo também fez com que a Ponte nomeasse para olheiro, função quase sempre restrita no futebol a ex-jogadores com larga bagagem, um rapaz de 26 anos formado em educação física.
Fábio Moreno tem, desde o ano passado, a missão de ver os jogos dos rivais e passar informações para Sérgio Guedes. E diz que o que aprendeu na faculdade é essencial para o bom desempenho no trabalho.
"A faculdade é importante para a gente ter uma base e entender como funciona. Os boleiros sabem muito sobre futebol, mas o tempo de quando e como fazer, só quem tem uma formação acadêmica", declara Moreno, que explica como executa seu trabalho.
"Eu vou no estádio e faço um relatório no papel para o treinador. Simultaneamente, pego o DVD do jogo, edito no meu computador e tento fazer no vídeo algo parecido com o relatório do papel", descreve.


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