São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Jogador basco que virou mártir volta contra o Real

Gurpegui, suspenso por doping desde setembro de 2002, vê hoje no estádio Santiago Bernabéu o fim de um calvário

Meio-campista, que atuou em alguns poucos jogos e tentou diversos recursos, pode atrapalhar a festa do virtual campeão espanhol


RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não foi suspenso do futebol pela vida toda como o goleiro chileno Roberto Rojas, mas seu longo afastamento dos gramados, que será interrompido hoje, contra o Real Madrid, sensibiliza agora toda a Espanha, não mais só o País Basco.
No primeiro dia de setembro de 2002, Carlos Gurpegui, um jovem meio-campista do Athletic Bilbao, viu o início de um calvário singular na história do futebol. O resultado de seu exame antidoping foi positivo, e ele recebeu uma suspensão de dois anos, um castigo que poucos mundo afora tiveram que cumprir no mais popular esporte.
Na estréia da Liga 2002/03, Gurpegui teve atuação destacada, com dois gols. Mas pintou a norandrosterona (metabolização da nandrolona no organismo). E o número 18 do tradicional time basco, ainda em 2002, iniciou sua cruzada para provar que foi um caso endógeno.
A alegação de que a substância em questão é produzida em seu corpo em situações de máximo esforço não convenceu um comitê de apelação, que ratificou a suspensão de dois anos para ele em fevereiro de 2003.
Com base em um estudo feito pelo Departamento de Química Analítica e Eletroquímica da Universidade de Extremadura, Gurpegui e o Athletic Bilbao tentaram em diversas frentes mostrar que não houve consumo de substância proibida.
Foi uma seqüência de recursos, sempre seguidos de novas suspensões. O atleta chegou a atuar em algumas partidas, respaldado pelo clube, que manteve seus pagamentos em dia e o apoiou irrestritamente.
No dia 26 de novembro de 2004, a Audiência Nacional espanhola ratificou a suspensão de dois anos. Desde essa data, Gurpegui só atuou oficialmente em alguns poucos jogos de pré-temporada em 2006.
A torcida do Athletic Bilbao fez manifestações nas ruas pela absolvição do jogador, que recebeu um indulto de Ángel María Villar Llona, presidente da federação espanhola, que tratou do tema com o secretário de Esportes da Espanha. Mas o indulto não funcionou na prática.
Em setembro de 2006, a federação espanhola ordenou que o Athletic não usasse Gurpegui nem em amistosos. Os companheiros do time, que só aceita jogadores bascos desde sua fundação, protestaram entrando em campo com tarjas verdes. Pulseiras com os dizeres ""Gurpegui Justiça" viraram mania (30 mil) no País Basco.
A última onda de apoio veio em forma de camisa. A 23-4-8 não faz alusão aos títulos do clube, como uma famosa peça são-paulina, mas lembra apenas a data do fim da punição do atleta. Na prática, só na última quinta-feira ele ficou limpo.
A imprensa espanhola voltou a tratar Gurpegui de fato como um jogador em atividade, pois ele falou novamente como um atleta relacionado para o jogo do fim de semana. E essa partida é simplesmente contra o líder e virtual campeão do Espanhol, o Real Madrid, uma espécie de símbolo da coroa espanhol e do governo em campo.
O Athletic, tão conhecido por suas fortes convicções, promete endurecer o jogo. Gurpegui seria agora doping psicológico.


NA TV - Real Madrid x A. Bilbao
Canal 128 da Sky, ao vivo, às 16h



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