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JOSÉ GERALDO COUTO
O céu sobre Berlim
A paixão pela bola tem dado à capital do horror mais calor humano, cores e uma alegria típica de cidades brasileiras
ESCREVO ESTAS mal traçadas
em Berlim, onde vim cobrir a
abertura oficial da Copa da
Cultura, série de eventos artísticos
brasileiros programados para 20 cidades alemãs durante a Copa.
Talvez seja um exagero dizer que a
população berlinense está empolgada com o Mundial, mas o fato é que
as marcas do futebol estão por toda a
parte na cidade. Os rostos de Ronaldinho, Ronaldo, Kaká e Ballack resplandecem em outdoors, capas de
revistas e grafites nos muros.
Diante do histórico Portão de
Brandemburgo, tornado célebre
mundialmente na época da queda
do Muro de Berlim (1989), foi construída de um dia para o outro (literalmente: de quarta para quinta-feira) uma gigantesca bola com estrutura de aço. Bem perto dali, em frente ao vetusto Reichstag (Parlamento), a Adidas ergueu uma arena de
40 mil m2, para 10 mil espectadores,
imitando a arquitetura do estádio
Olímpico de Berlim. Ali, shows de
nomes como Black Eyed Peas e James Blunt se alternarão com a exibição de jogos da Copa em um telão.
Caminhando em direção à parte
oriental da cidade, chega-se ao Museu Histórico Alemão, cuja austeridade habitual é quebrada pela exposição "Das Spiel" (O Jogo), que reúne fotos de todas as Copas. Ainda
mais para o leste, no coração da ex-Berlim Oriental, topa-se com um gigantesco campo de pebolim (ou totó, para os cariocas) a céu aberto, no
qual os jogadores têm tamanho natural e rostos de craques famosos.
E o melhor ainda está por vir. Está
sendo montada na estação de metrô
Potsdamer Platz, no coração da cidade, com abertura prevista para 6
de junho, a "Pelé Station", uma exposição sobre a vida e a obra do
maior de todos os futebolistas. Numa área de 3.500 m2, coberta por
grama sintética, 36 telas mostrarão
lances e documentários do Rei,
além de objetos como camisas, faixas de campeão, fotos e até a caixa
de engraxate que ele usava na estação de Bauru, dos sete aos oito anos.
Tudo isso tem algo de muito simbólico. A cidade mais trágica do século 20, a capital do horror, signo
máximo da humanidade partida entre ideologias totalitárias, abre-se às
cores, à alegria e à sensualidade do
futebol. Em lugar de estátuas de Lênin, grafites de Ronaldinho. Em lugar de suásticas, escudos das seleções (as camisas de todas elas são
vendidas a 40, cerca de R$ 110).
Para quem esteve aqui antes da
queda do Muro, quando uma vasta
região de Berlim -essa área central- era mantida em escombros, a
transformação é emocionante.
Para além dos aspectos mesquinhos de uma Copa, o fato é que
poucas vezes foi tão palpável o papel humanizador do futebol. A paixão pela bola tem transformado
Berlim, que já era linda, numa cidade mais calorosa, colorida, alegre, com jogo de cintura. Quase
uma cidade brasileira, enfim.
@ - jgcouto@uol.com.br
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