São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Empates vitoriosos e derrotosos


Num empate, às vezes temos dois perdedores, outras, dois vencedores e, por que não, um vencedor e um perdedor

SIMPÁTICO LEITOR , pática leitora, o empate é um dos charmes do futebol.
Quando há empate, não temos os tradicionais vencido e vencedor. Mas também não pensem que temos apenas dois empatantes. Não mesmo! Num empate, às vezes temos dois perdedores, outras, dois vencedores e, de vez em quando, até um vencedor e um perdedor.
Há empates heróicos, como o do San Lorenzo por estes dias, quando perdia por 2 a 0 para o River Plate e, mesmo com dois homens a menos e na casa do rival, buscou o empate. Há empates milagrosos, que são aqueles em que um dos times é atacado impiedosamente, mas, por mágicas do goleiro ou das traves, o time segura o resultado.
Há empates goleadas, como o recente 5 a 5 entre Portuguesa e Figueirense. E há empates aliviantes, como aqueles em que nosso time marca no último escanteio do jogo. Só esportes que unem sutilezas filosóficas e dramas arrebatadores, como futebol e xadrez, é que aceitam a idéia do empate. No vôlei e no basquete, por exemplo, sempre há vencedor e vencido.
Mas no futebol há o curioso e glorioso empate, como ocorreu em metade dos jogos na rodada do Brasileiro. O Palmeiras, por exemplo, teve um empate-perdedor. O time começou muito bem contra a Lusa, dominando o meio-campo e criando chances. Poderia ter feito três gols, mas enfeitou tanto que só marcou um. Até pênalti perdeu. No segundo tempo, veio a vingança em forma de empate. Para a desfalcada Portuguesa, o empate foi uma vitória.
Há empates em que os dois são vencedores. Foi o caso de Botafogo x Vasco. Para o Vasco, porque usou 13 reservas e jogou fora de casa. Para os botafoguenses, porque levaram um gol aos 55 segundos e sofreram durante todo o jogo, mas conseguiram marcar aos 41min da segunda etapa.
Há empates em que nenhum dos dois times merece perder. Há outros em que nenhum dos dois merece ganhar. Foi o caso de Goiás e Ipatinga.
O Goiás fez seu gol logo aos 5min e depois resolveu tocar a bola, torcendo para que os 85 minutos restantes passassem rapidamente. O time estava tão lento que até o veterano Paulo Baier, de 33 anos, pedia mais velocidade aos companheiros. Mas o Ipatinga não mostrava força para vencer, e assim a partida se arrastava como uma corrida de lesmas.
A sorte dos mineiros foi que o Goiás teve dois jogadores expulsos, e aí, contra nove homens, o Ipatinga marcou seu primeiro gol no campeonato. Um empate apático. Quando a vitória valia dois pontos, o empate era meia vitória. Hoje, com a vitória valendo três pontos, é meia derrota. E deixa gosto amargo.
Assim foi para o São Paulo, que precisava vencer para acabar com a ressaca da desclassificação da Libertadores, e para o Coritiba, que saiu vencendo, mas cedeu a igualdade.
Curiosamente há times que estão se especializando em empates, como os Atléticos, que em seis resultados tiveram cinco empates. E no domingo, é claro, empataram.
O empate é como se dois exércitos fizessem uma batalha e, depois de golpearem, de se despedaçarem, de se matarem, apertassem as mãos e cada um voltasse para sua casa.
O empate é uma coisa de doido.
Como o futebol.

torero@uol.com.br


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