São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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Na Copa, Ronaldinho vira só um meia

Melhor do mundo luta contra jejum de gols que pode completar um ano pela seleção se não marcar hoje diante de Gana

Apesar de acertar 92% dos passes, atleta do Barcelona quase não finaliza no time de Parreira, registrando só 1,7 chute por partida


DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH

Na Copa da Alemanha, nada mais falso do que chamar Ronaldinho de meia-atacante.
Só a primeira parte da denominação que sempre acompanhou a carreira do jogador entrou em campo até agora. O astro do Barcelona tem números impressionantes em fundamentos típicos de um meia. Mas é uma negação no ataque, tanto que, se não fizer um gol hoje, completará um ano sem balançar as redes pelo time nacional -seu último gol foi na final da Copa das Confederações, contra a Argentina, no dia 29 de junho de 2005, quando o terceiro da vitória por 4 a 1.
E isso aparece tanto em itens mais elementares, entre eles o do jejum de Ronaldinho (seis brasileiros já marcaram na Copa), como nas estatísticas elaboradas pelo Datafolha nos 54 jogos já realizados pelo torneio.
São vários os pontos que provam o quanto Ronaldinho está longe do gol. Sua média de finalizações não passa de 1,7 por jogo. No último Campeonato Espanhol, quando marcou 17 gols em 29 partidas pelo Barcelona, o duas vezes eleito melhor do mundo teve média de quase quatro conclusões por partida.
Quase a mesma média que teve na Copa dos Campeões da Europa, quando ergueu a taça do torneio e lutou pela artilharia com atacantes natos até a final, quando o Barcelona ganhou do Arsenal por 2 a 1.
O camisa 10 não ficou uma vez sequer impedido -o que muitas vezes mostra falhas de posicionamento, mas é típico de um atacante, na Copa.
Chegar à linha de fundo também foi uma raridade para ele. No jogo contra o Japão, por exemplo, ele fez isso quatro vezes. Teoricamente com funções mais defensivas, Juninho conseguiu cinco jogadas desse tipo.
"O treinador me disse que meu papel é fazer o time jogar e controlar o ritmo do jogo. Ainda estou aprendendo a fazer isso", disse Ronaldinho em entrevista para o site da Copa.
E as estatísticas dizem que ele está aprendendo rápido. Se no ataque Ronaldinho nada tem de melhor jogador do mundo, no meio-de-campo ele vai muito bem. Ele era, antes dos jogos de ontem, o quarto jogador mais acionado da Copa, tem recebido 66 bolas por jogo. E como ele trata bem a redonda. Para um jogador de meio-campo que executa passes de alta dificuldade, seu aproveitamento de 92% é fantástico.
Como faziam atletas do tipo de Gerson, em 70, Ronaldinho tem se especializado em passes longos, tanto que lidera o ranking de lançamentos da Copa, com 6,7 tentativas por jogo.
Passes e lançamentos de Ronaldinho acabaram em gols ou em lances que os colegas de time tiveram chances claras de marcar. Das 12 assistências brasileiras na primeira fase, 5 saíram dos pés de Ronaldinho, que não balança as redes pela seleção brasileira há nada menos do que oito partidas.
O longo jejum não incomoda o atleta, na contramão do que ele disse em entrevista à Folha ("Quero fazer mais gols") e sua ótima performance na artilharia nos últimos tempos pelo Barcelona. "Minha característica principal sempre foi preparar jogadas para os atacantes. Nunca fui artilheiro."
Entre os quatro atletas do "quarteto mágico" na primeira fase da Copa, Ronaldinho é o único que não balançou a rede. Kaká fez um gol, assim como Adriano. Ronaldo marcou dois. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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