São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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XICO SÁ

Dungas no amor


Os homens são como o Dunga. Ousadia zero. Quando muito uma porrada, qual Felipe Melo


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, além de já ter decifrado a lei do impedimento -o último refúgio do canalha e do machismo-, a mulher é bem mais sábia do que o homem no modo de apreciar o futebol. É o que tenho testemunhado durante as tertúlias ludopédicas desta Copa do Mundo.
Claro que elas ficaram tristes com as saídas precoces da Costa do Marfim, da Grécia e da Itália, países com os atletas mais bonitos, reza a lenda. Delas. É o que ouvi. Calado.
Como elas amam este salão internacional futebolístico. Sábias, não perdem tempo com os Olarias e Madureiras, como este cronista. Apreciam a evolução da espécie, dizem. Desgraçadas.
Não sabem nem querem saber o que é um jogo feio. Como se trata de Copa, um torneio de sete jogos, ficam felizes quando o Brasil ganha ou chega na frente, caso do time do Dunga, primeiro do grupo. Mulher é resultado. Se perder, dane-se, passa logo. Para a maioria delas, é só um jogo, não a vida, como nós, os marmanjos, tratamos a peleja.
Elas se divertem com a farra copeira, nós ficamos tensos. Elas são a pátria em shortinhos e miniblusas, nós somos os Dungas do amor, os ciumentos. Um olho nelas, outro no jogo. Por trás de todo homem triste e na retranca, caro Chico, há uma mulher com 11 no ataque.
Reclamamos do nosso técnico, mas somos dunguistas na vida, fracos, autoritários, covardes, frouxos. Que criatividade temos no dia a dia do nosso meio de campo? Somos todos Dungas no amor e no trabalho. Ousadia zero. Quando muito, uma porrada, qual Felipe Melo.
Somos medíocres, e o dunguismo nos representa. É o que merecemos, afinal de contas, não somos melhor do que ele. Cobramos pelo que não temos.
Somos muito burocráticos, quase sempre, muito objetivos, muito burros, quem dera fôssemos pelo menos uns Elanos da existência, um cara que cresce quando a competição avança, que alça a bola na área como poucos, que sabe bater na Jabulani ou em qualquer redonda sem nome.
Xingamos, mas Dunga nos representa na plenitude da nossa normalidade. O que queremos dele é o que também não temos. Nossas mulheres sabem. Somos o dunguismo em pijamas, sem sexo no domingo. A verdadeira retranca, quase a Suíça. Queremos no futebol o que não podemos dar na vida.

xico.folha@uol.com.br


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