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BASQUETE
Pense, dance
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O balé torna-se repetitivo,
previsível, chega a entediar
o torcedor assíduo. Ainda assim,
são poucos os times que excelem
em quadra sem um "script", sem
uma noção predeterminada do
que (e como e em que momento)
devem fazer ao longo do jogo.
No basquete profissional, o roteiro costuma seguir assim:
No primeiro quarto, as equipes
medem forças, trocam "jabs", à
procura dos defeitos do adversário. Perto do fim, acontecem as
primeiras substituições, para que
a "segunda unidade" engrene.
No período seguinte, já suados,
os reservas aceleram o ritmo, na
tentativa de desgarrar no placar.
São rendidos poucos minutos depois pelos titulares, para reconstituir o padrão tático do time antes
do intervalo -os treinadores não
gostam de trabalhar no vestiário.
Todas as cartas, todos os trunfos, aparecem só na volta do intervalo, geralmente o ponto de inflexão das partidas. Como no primeiro quarto, no finzinho alguns
suplentes ganham uma chance,
para consolidar a liderança ou reverter um pouco a desvantagem.
Os "jabs" retornam na abertura
do último período, mas dessa vez
pelas mãos dos reservas. Os titulares assumem pouco antes da metade do quarto e partem para o
pau até a definição do vencedor.
Por que a maioria dos técnicos
acata esse "script"? Ok, lhes falta
imaginação e ousadia. Mas, se a
ferramenta pretende justamente
dar identidade e coesão ao grupo,
ensinar a cada atleta o seu papel
em quadra, nada mais natural do
que implantar o roteiro universal,
decantado aqui e acolá.
"Essa dança, quase um cortejo à
bola, deveria fascinar craques e
coadjuvantes", defendeu em junho na TV o assistente-técnico
Jim Cleamons, parceiro em setes
dos nove títulos do legendário
Phil Jackson. "Reconhecer o ritmo
e o suingue, respeitá-los -às vezes, conscientemente, desrespeitá-los-, é tão importante quanto à
capacidade de fazer uma cesta."
Eu lembrei desse papo de balé
enquanto acompanhava amistosos e treinos da seleção que embarca nesta quinta para a Grécia.
Saía sempre intrigado, pois não
conseguia detectar padrões. O time freava e acelerava distintamente nos jogos e exercícios táticos. As substituições pareciam
aleatórias, às vezes gratuitas.
Tampouco percebia critério nos
chamados "special teams", formações peculiares utilizadas em
lances ou períodos agudos.
Talvez Antonio Carlos Barbosa
deseje definir o "script" só às vésperas da Olimpíada, para evitar
curto-circuitos emocionais (daí,
portanto, a generosidade nas folgas no bimestre de preparação,
mais de duas semanas em sete).
Talvez o treinador não creia em
fórmulas engessadas (embora seu
auxiliar, Paulo Bassul, seja entusiasta da rotação metódica e balanceada de dez jogadoras, recurso que fez a diferença na conquista da prata no Mundial sub-21).
O problema é que, nas raras vezes em que prevaleceu na história
do basquete, a "desestrutura" se
valeu da criatividade, da inteligência intuitiva dos atletas.
Ao menos até agora, não parece
a vocação desta seleção, ancorada por veteranas acostumadas a
executar coreografias coletivas.
Baile 1
As meninas de Barbosa abrem o desembarque brasileiro na Grécia.
Elas medirão forças contra cinco seleções em solo grego antes dos Jogos: Grécia, Rússia, Austrália, Nigéria e China. Os quatro primeiros
são também adversários na primeira fase do campeonato olímpico.
Baile 2
A Fiba, confederação que rege a modalidade no mundo, não tem nenhum arquivo de dados/estatísticas do feminino em Olimpíadas.
Baile 3
Sem patrocínio, subiu no telhado o site www.basketbrasil.com.br.
Na internet independente em português, restou o pbf.blogspot.com
para monitorar/comentar a campanha das brasileiras em Atenas.
E-mail melk@uol.com.br
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