São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Cuba desce

Com delegação maior que em 2003, cubanos amargam decadência técnica e deserções, e Brasil aproveita para roubar, mesmo que temporariamente, 2ª posição

Mauricio Lima/France Presse
O cubano Ernesto Cisnero, após perder o bronze para o Canadá no pólo aquático

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Muito mais do que a evolução brasileira, é a decadência cubana que explica a acirrada briga pelo segundo lugar no quadro de medalhas do Pan.
Restando apenas três dias para o final dos Jogos cariocas, os anfitriões levam agora vantagem, com o mesmo número de ouros (35), mas com vantagem nas pratas (31 a 20).
O empate nos ouros chegou às 13h49 com o futebol feminino, após goleada nos EUA por 5 a 0 em um Maracanã lotado.
Hoje, nova virada deve acontecer -os cubanos são favoritos em provas do atletismo e finais do boxe. Mas isso não deve ser suficiente para fazer o país evitar sua pior participação na competição em 40 anos.
A nação ficou até agora com 15% das medalhas de ouro distribuídas. Desde a edição de Cali, em 1971, esse índice sempre foi maior -ficou, por exemplo, em 23% na República Dominicana, há quatro anos.
Cuba ainda não atingiu a metade dos 72 ouros que amealhou na edição anterior do Pan.
E não é uma questão de calendário. Os cubanos já encerraram sua participação em esportes nos quais sempre sobraram com menos medalhas ou até mesmo sem obter pódio.
É o caso da ginástica artística. Nenhum cubano ganhou medalha. Só isso significa um prejuízo de 11 premiações (sete de ouro) em relação ao que aconteceu em Santo Domingo.
O remo deu ao país quatro lugares mais altos do pódio a menos. O vôlei de praia não ganhou títulos nas areias cariocas depois de triunfar tanto entre os homens como com as mulheres há quatro anos.
Nos esportes de armas e lutas, Cuba também "emagreceu". No judô foram três medalhas de ouro a menos agora em relação a 2003. Na esgrima, uma. No boxe, "apenas" seis compatriotas de Fidel Castro vão disputar finais (foram dez em Santo Domingo). Na luta olímpica, 56% dos ouros de Santo Domingo ficaram com os cubanos. Nas categorias realizadas até agora no Rio, esse índice está em 33%.
O encolhimento acontece mesmo com um crescimento da equipe. Cuba enviou 483 competidores, 90 a mais do que para a República Dominicana, que fica no mesmo Caribe.
Em Santo Domingo, foram 5,5 atletas para cada ouro conquistado. Com a delegação atual, o país deveria ganhar 88 medalhas douradas para pelo manter a produtividade, ou 53 a menos do que tem hoje.
O aumento da delegação teve a ajuda essencial de Hugo Chávez. O presidente venezuelano mandou só em 2006 quase US$ 40 milhões para Cuba em troca de convênios esportivos.
Se dinheiro não foi problema, Cuba sofre com outros fatores. Um deles é a inexperiência. A equipe que veio ao Rio tem média de 23 anos, e 70% dela nunca havia ido a um Pan.
As deserções também complicaram a vida cubana. Foram quatro até agora. As mais doloridas foram justamente a dos boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que eram favoritos absolutos em suas categorias. Desde 1991 até agora, pelo menos 90 desportistas cubanos desertaram. Boxe e vôlei são os esportes que mais sofreram com as saídas.
Ontem, a delegação cubana no Rio enviou uma correspondência a Fidel Castro prometendo fidelidade, criticando abertamente os desertores e seus "aliciadores". "Pobre dos governos que fazem o jogo das políticas imperiais, roubando de outros povos o talento formado com tanto esforço e dedicação", diz trecho da carta.


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