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Cuba desce
Com delegação maior que em 2003, cubanos amargam
decadência técnica e deserções, e Brasil aproveita
para roubar, mesmo que temporariamente, 2ª posição
Mauricio Lima/France Presse
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O cubano Ernesto Cisnero, após perder o bronze para o Canadá no pólo aquático
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Muito mais do que a evolução brasileira, é a decadência
cubana que explica a acirrada
briga pelo segundo lugar no
quadro de medalhas do Pan.
Restando apenas três dias
para o final dos Jogos cariocas,
os anfitriões levam agora vantagem, com o mesmo número
de ouros (35), mas com vantagem nas pratas (31 a 20).
O empate nos ouros chegou
às 13h49 com o futebol feminino, após goleada nos EUA por 5
a 0 em um Maracanã lotado.
Hoje, nova virada deve acontecer -os cubanos são favoritos em provas do atletismo e finais do boxe. Mas isso não deve
ser suficiente para fazer o país
evitar sua pior participação na
competição em 40 anos.
A nação ficou até agora com
15% das medalhas de ouro distribuídas. Desde a edição de Cali, em 1971, esse índice sempre
foi maior -ficou, por exemplo,
em 23% na República Dominicana, há quatro anos.
Cuba ainda não atingiu a metade dos 72 ouros que amealhou na edição anterior do Pan.
E não é uma questão de calendário. Os cubanos já encerraram sua participação em esportes nos quais sempre sobraram com menos medalhas ou
até mesmo sem obter pódio.
É o caso da ginástica artística.
Nenhum cubano ganhou medalha. Só isso significa um prejuízo de 11 premiações (sete de
ouro) em relação ao que aconteceu em Santo Domingo.
O remo deu ao país quatro lugares mais altos do pódio a menos. O vôlei de praia não ganhou títulos nas areias cariocas
depois de triunfar tanto entre
os homens como com as mulheres há quatro anos.
Nos esportes de armas e lutas, Cuba também "emagreceu". No judô foram três medalhas de ouro a menos agora em
relação a 2003. Na esgrima,
uma. No boxe, "apenas" seis
compatriotas de Fidel Castro
vão disputar finais (foram dez
em Santo Domingo). Na luta
olímpica, 56% dos ouros de
Santo Domingo ficaram com os
cubanos. Nas categorias realizadas até agora no Rio, esse índice está em 33%.
O encolhimento acontece
mesmo com um crescimento
da equipe. Cuba enviou 483
competidores, 90 a mais do que
para a República Dominicana,
que fica no mesmo Caribe.
Em Santo Domingo, foram
5,5 atletas para cada ouro conquistado. Com a delegação
atual, o país deveria ganhar 88
medalhas douradas para pelo
manter a produtividade, ou 53
a menos do que tem hoje.
O aumento da delegação teve
a ajuda essencial de Hugo Chávez. O presidente venezuelano
mandou só em 2006 quase US$
40 milhões para Cuba em troca
de convênios esportivos.
Se dinheiro não foi problema, Cuba sofre com outros fatores. Um deles é a inexperiência. A equipe que veio ao Rio
tem média de 23 anos, e 70%
dela nunca havia ido a um Pan.
As deserções também complicaram a vida cubana. Foram
quatro até agora. As mais doloridas foram justamente a dos
boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que
eram favoritos absolutos em
suas categorias. Desde 1991 até
agora, pelo menos 90 desportistas cubanos desertaram. Boxe e vôlei são os esportes que
mais sofreram com as saídas.
Ontem, a delegação cubana
no Rio enviou uma correspondência a Fidel Castro prometendo fidelidade, criticando
abertamente os desertores e
seus "aliciadores". "Pobre dos
governos que fazem o jogo das
políticas imperiais, roubando
de outros povos o talento formado com tanto esforço e dedicação", diz trecho da carta.
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