São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2010 |
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LOS GRINGOS - JUAN PABLO VARSKY Convite à saída
OS DOIS PERSONAGENS só admitem o "sim" como resposta. Cercam-se de bajuladores, que escrevem para eles um jornal no qual não há espaço para más notícias. Não aceitam discordâncias. E sempre terminam impondo sua vontade sobre a dos outros. Julio Grondona e Diego Maradona se conhecem há mais de 30 anos. Compartilharam momentos gloriosos, como a Copa do México, em 1986. Distanciaram-se. Em dado momento, Diego tachou Grondona de mafioso. Don Julio respondeu citando a dependência de drogas. Brigaram, fizeram as pazes, precisaram um do outro, desconfiaram um do outro e voltaram a se unir em outubro de 2008, quando o presidente da AFA convocou Maradona para ser o técnico da seleção nacional. Mas agora só há espaço para um. A relação tornou-se irreversível. O vulcânico ciclo de Maradona como técnico gerou uma divergência insolúvel. Ele assumiu num contexto muito favorável. Além do rendimento fraco da equipe, o processo das eliminatórias incluiu discussões com Humberto Grondona (filho), amistosos contra times irrelevantes para pagar o salário do técnico e convocatórias que chegaram a mais de cem jogadores. Não há dúvida de que o tempo proporcionou um aprendizado a Diego. Sua versão mundialista melhorou nitidamente após a classificação sofrida. Mas o 4 a 0 sofrido diante da Alemanha foi muito pesado. A recepção em Buenos Aires por uma multidão foi uma expressão do sentimento que Maradona provoca. "Não caia, Diego. Estamos com você", pareceu ser a mensagem. A política exerceu seu papel. A aproximação de Diego com Cristina Kirchner construiu o relato de uma possível gestão presidencial para que ele continue no cargo. Em 2011, a Argentina terá a Copa América e eleições. E o combo Maradona-Cristina poderia ser fonte de votos. Apesar disso, porém, o governo não vai intervir. Seu vínculo com a AFA (são sócios na transmissão do futebol na TV) é importante demais para ser posto em risco só para defender Diego. Grondona, dirigente mais poderoso do futebol, tomou a decisão de tirá-lo do cargo. Já disse a Maradona que não quer quase toda sua equipe técnica. É o convite para procurar a porta de saída. Maradona não gosta que lhe digam "não". E Grondona ficou com o último "sim". @VarskyMundial JUAN PABLO VARSKY é colunista de futebol do jornal argentino "La Nación" e do site Canchallena.com Tradução de CLARA ALLAIN Texto Anterior: Em Mogi das Cruzes, Vitória fecha treino Próximo Texto: Palmeiras anuncia ter conseguido a liberação de Valdivia Índice |
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