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Promotor vê indícios de crimes na gestão Farah e leva o caso à polícia
Pedida a abertura de inquérito contra FPF
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público do Estado
de São Paulo pediu à Polícia Civil
abertura de inquérito para investigar a existência de crimes na gestão de Eduardo José Farah à frente
da Federação Paulista de Futebol.
É o primeiro ato efetivo do Judiciário contra o presidente da FPF
e da Liga Rio-São Paulo desde o
fim da CPI do Futebol, que funcionou entre outubro de 2000 e
dezembro do ano passado.
O pedido, feito pelo promotor
da Justiça Criminal Luiz Roberto
Faggioni, foi protocolado na última quinta-feira na Delegacia de
Polícia Judiciária (Decap) e deve
ser distribuído hoje para um dos
delegados seccionais da capital.
À Folha, o promotor disse ver
sinais da ocorrência de crimes na
federação de futebol mais poderosa do país. "Há indícios da prática de fatos criminosos e de irregularidades", afirmou.
Para justificar seu pedido, Faggioni tomou como base as conclusões do relatório final do senador Geraldo Althoff (PFL-SC),
que pediu ao Ministério Público
Federal o indiciamento de Farah
por apropriação indébita, lavagem de dinheiro, perjúrio e crime
contra o sistema financeiro, entre
outras coisas.
Essa é a medida judicial mais
abrangente contra a entidade
mais poderosa do país.
Nos 14 anos que presidiu a FPF,
Farah viu seu nome envolvido em
escândalos, mas sempre negou
participação em atos ilícitos.
Um dos casos que serão investigados pela polícia foi revelado pela Folha em janeiro de 2001.
Documentos obtidos pela reportagem mostraram que a FPF
manteve no exterior por dois anos
US$ 1,2 milhão, dinheiro referente à venda do polonês Piekarski
para o Bastia, da França.
Outros US$ 600 mil, que completavam o valor da transferência,
jamais entraram na conta da entidade. Segundo a CPI, há a "possibilidade de desvio da última parcela da venda do passe".
Além do caso Piekarski, a polícia deve investigar a suposta prática de crime de apropriação indébita por parte de Farah, que teria
desviado cerca de R$ 194 mil da
conta da entidade para a sua pessoal para cobrir despesas judiciais. Em depoimento no Senado,
no ano passado, o dirigente alegou que o depósito foi aprovado
pela Assembléia Geral de Clubes
da FPF, porém não entregou a ata
de tal reunião, conforme pedido
dos congressistas.
O relatório da CPI, inicialmente
entregue ao Ministério Público
Federal, foi encaminhado há duas
semanas ao Ministério Público do
Estado de São Paulo para a averiguação dos crimes supostamente
cometidos na gestão Farah.
No documento enviado à Polícia Judiciária, o promotor requereu investigação sobre todos os
departamentos da FPF, não especificamente apenas contra seu
presidente e representante legal.
"Mandei ao Decap as peças de
informação [da CPI", solicitando
análise. Não quero tipificar crime
ou pedir o depoimento de ninguém em especial porque essa é
uma prerrogativa do delegado. Se
fizesse isso, estaria invadindo sua
área de atuação", justificou.
O pedido protocolado pelo promotor já está na fila para despacho de Gerson de Carvalho, diretor do Decap, o que deve acontecer entre hoje e amanhã.
A partir do visto do delegado,
será designada uma das oito seccionais da Decap para comandar
as investigações. O delegado que
cuidará do caso terá autonomia
para pedir depoimentos -nesse
caso, é certo que Farah será chamado, bem como seu vice financeiro, Reynaldo Carneiro Bastos.
Se a Polícia Judiciária entender
que precisa quebrar os sigilos
bancário, fiscal e telefônico dos
envolvidos para colher mais provas incriminatórias, terá que requerê-las a um juiz de direito.
O delegado tem, em princípio,
30 dias para finalizar as investigações sobre o caso e remeter o inquérito concluído para o Ministério Público Estadual. Mas o próprio Faggioni acredita que, "pela
complexidade do caso", a autoridade policial irá requerer prolongamento do prazo.
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