São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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Cavalos e cifras são barreiras no hipismo

Rodrigo Pessoa diz que faltam "projetos olímpicos" e critica cavaleiros nacionais

Medalhista de ouro em Atenas-2004 defende investimento mensal de US$ 10 mil para preparar conjuntos na Bélgica


GIULLIANA BIANCONI
DA REPORTAGEM LOCAL

O décimo lugar obtido pelo conjunto Camila Mazza/Bonito Z na Olimpíada está a milhões de euros de distância da quinta colocação que Rodrigo Pessoa/Rufus obteve na mesma categoria, o salto individual.
Pessoa, que esteve por dois dias no Brasil após o fim dos Jogos, revelou à Folha que o cavalo que substituiu Baloubet du Rouet é um animal caro, com valor aproximado de 2 milhões (cerca de R$ 4,8 milhões). Já Bonito Z, cavalo de origem belga, mas que foi criado no Brasil, custou, em 1999, US$ 3 mil (R$ 4.890), numa transação em que foi adquirido como "apêndice" de uma égua.
No Brasil, onde os cavaleiros destacam que faltam cavalos de qualidade, Pessoa aponta um outro problema. Diz que faltam bons projetos olímpicos e cavaleiros humildes, que admitam que, treinando apenas no Brasil, com animais que não podem ainda competir de igual para igual com os europeus, não dá para pensar em evoluir.
Na opinião de Pessoa, não existe mistério. Para se destacar no cenário internacional, a fórmula é simples: é preciso apenas "arregaçar as mangas" para captar recursos, investir em um bom cavalo e seguir ao exterior para treinar.
"O Centro de Treinamento que mantenho com minha família, em Bruxelas, na Bélgica, não é um centro para ricos. Com US$ 10 mil por mês, o atleta mantém dois cavalos para treinar e competir. É viável", afirma o atleta e empresário.
Os valores na modalidade estão num patamar diferenciado. Cavalos custam milhões de euros e despesas mensais saem por milhares de dólares. Mas a realidade do esporte brasileiro, que ainda conta com poucos investimentos privados, não acompanha tais cifras.
"O Rodrigo tem razão. Temporadas na Europa são fundamentais, mas três meses no exterior, competindo em torneios de alto nível, não custa menos de 100 mil. Apenas o transporte de cada cavalo representa 20 mil", diz o cavaleiro César Almeida.
Ouro por equipes no Pan do Rio, Almeida, que salta com um cavalo bem mais modesto que o de Pessoa -vale cerca de 300 mil- afirma sempre ter tido dificuldades para conseguir patrocínios. "Além dos valores serem muito altos, quando não se vem de uma família tradicional do hipismo, como é o meu caso, não é fácil encontrar proprietários de cavalos que queiram investir em você."
O presidente da CBH (Confederação Brasileira de Hipismo), Maurício Manfredi, diz que em ano olímpico é possível levar equipes para treinar em lugares como a Bélgica, mas isso não está ao alcance da confederação todos os anos.
"Infelizmente, R$ 1,7 milhão é uma verba que não faz parte do nosso orçamento anualmente", disse Manfredi, referindo-se ao valor recebido do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e da Petrobras, através de leis de incentivo ao esporte.


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