São Paulo, quinta-feira, 27 de agosto de 2009

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Invasão de vestiário estremece Lusa

Ameaçados no vestiário por conselheiros e seguranças armados, jogadores podem pedir rescisão imediata de contratos

Técnico René Simões pede demissão, Edno afirma que não defende mais o clube e presidente Manuel da Lupa diz que "a pressão é normal"

MARTÍN FERNANDEZ
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A invasão do vestiário da Portuguesa por dois conselheiros do clube e dois seguranças armados chocou o futebol e detonou crise imediata na equipe.
O técnico René Simões, contratado havia duas semanas, pediu demissão por medo de continuar no cargo -foi substituído por Vágner Benazzi.
Edno, destaque do time, avisou que não quer mais defender o clube. O estádio deve ser interditado e os atletas podem pedir rescisão imediata dos contratos, segundo advogados consultados pela reportagem.
Anteontem à noite, a Portuguesa perdeu para o Vila Nova por 2 a 1, no Canindé, em jogo do Brasileiro da Série B.
Após a partida, os conselheiros Antônio José Vaz Pinto, 46, e Vitor Manuel Macedo Diniz, 25, invadiram o vestiário.
Estavam acompanhados de dois seguranças armados, que a direção da Portuguesa identificou como policiais militares.
Segundo os relatos de Edno e René Simões, Vaz Pinto xingou os jogadores. "Em nenhum momento sacaram os revólveres", disse Edno. "Mas ficaram o tempo todo com as mãos na cintura, segurando o cabo das armas, deixando claro que estavam ali para ameaçar."
Os conselheiros não quiseram conceder entrevista.
O advogado da Portuguesa, Valdir Rocha da Silva, registrou boletim de ocorrência no 12º Distrito Policial, no bairro do Pari. O documento, assinado pelo delegado Wilson Roberto Zampieri, traz contradições.
Primeiro fala em "dois seguranças, provavelmente armados pela função". Depois indica que "inexistiram ameaças ou ostentação de armas". E termina dizendo que "os conselheiros ingressaram, conversaram e saíram pacificamente".
O presidente da Lusa, Manuel da Lupa, também caiu em contradição várias vezes em entrevista coletiva, ontem.
"Nós não vimos ninguém armado, ninguém indo para as vias de fato", disse o cartola. "Isso é conversa, esse negócio de arma é para fazer folclore."
Em seguida, o dirigente classificou o ocorrido de "absurdo" e disse que proibiria a entrada de conselheiros nos vestiários.
"Eles entraram como qualquer um identificado poderia ter entrado. O que está errado é o cara andar com segurança dentro do clube", disse Da Lupa. "Vou passar o caso para o Conselho Deliberativo. O clube não vai acobertar ninguém."
O presidente da Portuguesa admitiu que o time "está com medo" de jogar no Canindé, mas descartou atuar voluntariamente em um outro estádio. "Jogador tem que saber lidar com a pressão. E a cidade de São Paulo é assim mesmo."
Tal situação permite aos atletas que peçam na Justiça o fim de seus contratos. "Não seria uma causa simples, mas os jogadores poderiam pleitear isso, sim", diz Edson Sesma, advogado especialista em direito desportivo. "Se o trabalhador foi ameaçado, e me parece ter sido o caso, ele pode pedir a rescisão do contrato", afirma o advogado trabalhista Marco Aurélio Guimarães Pereira. "Justa causa vale para os dois lados."
O primeiro a deixar o clube deve ser Edno, mas sem briga na Justiça. "Só hoje [ontem] recebi ligações de sete clubes", disse Hugo Garcia, agente do meia. "Se ele não for para a Espanha, já há acerto com um time de São Paulo." Manuel da Lupa acredita que pode convencer Edno a seguir na Lusa.


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