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No recomeço, Zé Roberto dilata universo feminino
Técnico da seleção de vôlei ouro em Pequim vislumbra novas lições com Pesaro
Depois de "crescer bastante" no convívio com brasileiras,
treinador inicia novo ciclo olímpico cercado de alemãs, italianas e holandesas
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
José Roberto Guimarães inicia hoje seu novo ciclo olímpico. No ginásio do Ibirapuera, o
treinador vestirá a camisa do
Pesaro em uma competição internacional, porém seus olhos
já buscam novos horizontes para a seleção feminina de vôlei.
Nesta temporada, ele se dividirá entre a equipe italiana e
viagens para observar atletas
brasileiras e cuidar da avalanche de compromissos após a
conquista do ouro em Pequim.
No clube, cercado de alemãs,
argentinas, holandesas e italianas, vislumbra ainda mais lições sobre o universo feminino.
No Brasil, espera ajudar suas
pupilas a lidarem com o assédio
e a não repetirem os erros da
seleção campeã em Barcelona-1992. Tenta também cumprir
sua primeira missão: encontrar
uma substituta para Fofão.
"Recomeçaremos um trabalho, será um grande desafio.
Vamos correr alguns riscos daqui para a frente, mas serão riscos calculados", declarou ele
em entrevista à Folha.
FOLHA - Em 1992, você foi campeão olímpico com o time masculino, que teve problemas após a medalha. Isso preocupa agora?
ZÉ ROBERTO - O que elevou o nível desse time [campeão na
China] foi a competição interna. Em 1992, não havia isso. Se
tivermos jogadoras chegando,
as que estão aí sempre vão querer estar bem. Mas tenho alertado as jogadoras. O importante é continuarmos sendo os
mesmos. O time será mais cobrado, exigido, elas agora são
espelho. É importante se cuidar. É musa? Pode ser, mas que
tipo de musa? Na quadra, todas
são iguais e terão de ralar. O caminho [para o ouro] foi duro,
elas sabem disso. Você tem de
continuar a fazer o que estava
fazendo. Existe outro trabalho
a ser feito, que é o que vai garantir que as pessoas continuem a se interessar por você,
vai ter de voltar para Saquarema [no CT do vôlei], treinar...
FOLHA - O mercado masculino
sempre foi mais valorizado. A medalha ajuda a mudar esse cenário?
ZÉ ROBERTO - Espero mais patrocinadores e mais adeptas. O
feminino não tem uma base tão
grande. Não só o vôlei, mas todos os esportes precisam de
mais investimento na base. Se
isso não mudar, teremos problemas no futuro.
FOLHA - O esporte cada vez mais
depende do dinheiro estatal. Não é
boa vitrine para a iniciativa privada?
ZÉ ROBERTO - Algumas empresas se interessam. Mas, infelizmente, a visibilidade é maior no
adulto. Sinceramente, não sei
como está a lei [de incentivo
fiscal], mas acho que deveria se
criar um mecanismo forte para
que mais empresas apoiassem
[via lei de incentivo].
FOLHA - Sua agenda de palestras
está lotada. Você gosta?
ZÉ ROBERTO - Gosto de falar das
experiências, de coisas que
aconteceram. É um crescimento trocar experiências, traçar
paralelos com outros setores.
FOLHA - Você tem três mulheres
em casa e treina mulheres no clube e
na seleção. Como é essa convivência? Há ciúme?
ZÉ ROBERTO - Da Alcione [sua
mulher], não. Das meninas
[suas filhas], também não acredito. Elas estão sempre preocupadas com o time. Eu curto essa
relação em família.
FOLHA - É mais desafiador treinar
mulheres?
ZÉ ROBERTO - Sem dúvida. Existem muito mais coisas envolvidas. Mulher é mais ligada em
alguns detalhes. Você tem de se
preocupar se a jogadora vai
menstruar, se está tomando o
remédio... Tudo isso me fez
crescer bastante. Aprendi que
às vezes bater o pé não é uma
boa, é melhor ouvir o que os outros têm a dizer. Pedir desculpa
também é algo que eu não fazia
e passei a fazer mais.
FOLHA - Se perdesse o ouro, deixaria o cargo?
ZÉ ROBERTO - Eu nunca pensei
em sair.
FOLHA - Você acha que o Brasil pode organizar uma Olimpíada?
ZÉ ROBERTO - Quando o Brasil se
mobiliza para organizar algo,
faz bem-feito. O que eu não sei
é se esse é o momento. Estou
falando como brasileiro que vê
de fora. Acho que temos muitas
prioridades para resolver antes
na educação, na saúde...
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