São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

Os gritos e o silêncio


Critica-se Roman pela não marcação de cinco pênaltis. Mas a comissão o puniu por um só erro e deveria dizer isso


A CBF informou por meio de seu site oficial que Evandro Rogério Roman está suspenso por 30 dias, no mínimo. Assim mesmo: no mínimo. A punição foi anunciada um dia depois de Cruzeiro 1 x 2 Palmeiras, jogo em que um dos comentaristas de arbitragem, José Roberto Wright, julgou ter havido três pênaltis não marcados, e outro, Oscar Roberto Godói, analisou cinco erros graves da arbitragem.
Dentro da Comissão de Arbitragem da CBF, a avaliação foi diferente. Os votos pela punição dividiram- -se, e o consenso foi de que os lances eram interpretativos. Em resumo, o julgamento é que Roman deixou de marcar apenas um pênalti, o cometido por Jumar em Fabrício.
Não, não grite. Já se gritou demais desde quarta-feira. Entre os que gritam não está o presidente da Comissão de Arbitragem, Sérgio Correia da Silva. Ele não grita nem fala sobre lances polêmicos. Deveria.
Não que precise dar entrevistas explicando o inexplicável. Mas, se houve gritaria contra Roman pela não marcação de CINCO pênaltis e se a comissão o afastou por causa de UM erro, é preciso dizer isso.
Na sexta, um dos mais experientes árbitros em atividade no Brasil resumiu o sentimento que pode se apossar dos mais jovens, após a punição: "Não importa se o Kléber escorregou, nem que a comissão de arbitragem pense assim. O efeito na cabeça dos árbitros mais jovens é nocivo. Vão julgar que se deve marcar falta nesse tipo de lance. Que, por não marcar, Roman foi suspenso...".
O árbitro de Cruzeiro 1 x 2 Palmeiras foi afastado por 30 dias (no mínimo) porque ao pênalti não marcado em Fabrício soma-se o rodízio de faltas que permitiu sobre Kléber, na partida São Paulo 3 x 0 Cruzeiro, em 31 de maio. Porque é reincidente.
Na quinta-feira, o diretor de comunicação do Cruzeiro, Guilherme Mendes, disse que seu clube exigia não ter mais Roman em suas partidas desde São Paulo 3 x 0 Cruzeiro. Naquele dia, os mineiros reclamaram de dois gols irregulares e de 14 faltas cometidas pelo São Paulo sobre Kléber. Roman foi afastado por 15 dias por causa do rodízio de faltas. Ninguém ficou sabendo disso.
Por quê? Porque a CBF não explicou a razão do afastamento. O Cruzeiro não notou que uma de suas reclamações havia sido atendida, mesmo que indiretamente. A gritaria, a cada lance polêmico, é proporcional ao silêncio da comissão de arbitragem quanto à avaliação dos árbitros.
Roman está afastado por 30 dias, no mínimo. Por quê?
1) Porque foi pênalti de Wendel em Kléber, como julgou José Roberto Wright? Não, não foi essa a avaliação da comissão de arbitragem.
2) Porque Figueroa derrubou Diego Renan na área aos 48min do segundo tempo? Não, esse não é o julgamento da comissão.
3) Porque deixou de marcar cinco pênaltis? Também não.
Só quem teve acesso a algum dos integrantes da comissão de arbitragem sabe que a avaliação foi de um -e só um- pênalti não marcado.
Que é preciso renovar o quadro de árbitros e isso dá trabalho, estamos de acordo. O trabalho exige o afastamento de árbitros ruins, também concordamos. Mas é preciso dialogar e explicar cada suspensão. Antes que alguém julgue que escorregão na área pode levar à cadeira elétrica.

pvc@uol.com.br

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