São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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GINÁSTICA

Medalha inédita no solo no Mundial pode servir para diminuir a diferença salarial entre homens e mulheres

Ouro de Diego ameniza ciúme na seleção

William West/France Presse
O paulista Diego Hypólito salta durante a apresentação que lhe rendeu a inédita medalha de ouro para o Brasil no Mundial de ginástica de Melbourne, ontem


CRISTIANO CIPRIANO POMBO
ENVIADO ESPECIAL A MELBOURNE

Diego Hypólito entrou ontem para a história ao conquistar o primeiro ouro da ginástica masculina brasileira em Mundiais. E mais: amenizou, pelo menos por um tempo, o ciúme que começa a surgir entre as seleções permanentes masculina e feminina.
"Essa medalha é histórica. Cria um ídolo no masculino para a ginástica nacional, o que não tínhamos, e desperta os olhos de patrocinadores para os meninos da seleção permanente", diz Vicélia Florenzano, presidente da Confederação Brasileira de Ginástica.
De acordo com ela, a existência de diferenças salariais, já que o teto feminino vai de R$ 400 a R$ 4.700, enquanto o masculino chega a no máximo a R$ 1.700, e o assédio do público e da mídia ser muito maior sobre as ginastas provocam um clima velado de insatisfação entre os atletas.
"Eles se sentem desprestigiados e pensam, eu sei: "Poxa, eu treino como elas, faço as mesmas coisas que elas, trago resultados como elas e não ganho como elas'", diz Vicélia, afirmando que as meninas -são 16 na equipe permanente contra 12 na masculina- recebem mais pelo fato de a seleção feminina ter patrocínio.
Diego, que na final do solo ganhou o ouro com 9,675, ficando à frente do canadense Brandon O'Neill (9,625) e do húngaro Robert Gal e do chinês Fuliang Liang (9,587), crê que o time masculino é a evidência da falta de reconhecimento na ginástica nacional.
"É fato que o feminino tem muito mais conquistas do que o masculino, mas só quero reforçar que as nossas são tão importantes quanto. É questão de reconhecimento", diz Diego, que admite ter chegado à beira da depressão durante a contusão que o afastou por seis meses da ginástica e que ontem não sabia se ria, se gritava ou se chorava após a vitória.
Segundo ele, que é o único atleta da seleção masculina que tem patrocínio particular, o fato de se tornar campeão mundial e de quebrar um jejum histórico do país não mudará sua vida. "Não é por isso que vou passar a comer caviar a partir de amanhã."
Após superar Daniele -dona de uma prata do Mundial de 2001-, o atleta paulista, que disse que sua prioridade em 2006 será treinar o individual geral visando Pequim-08, refutou o fato de a seleção masculina ter sua masculinidade reduzida. "Não vejo e não ligo para isso, mas sei que é preciso ser muito macho e ter muita coragem para fazer ginástica. Não é para qualquer um", disse ele, que pretende aproveitar a medalha para namorar bastante.


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