São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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FUTEBOL

Campeão sem culpa

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Por causa de opiniões e questionamento de leitores, algumas vezes retorno a assuntos de colunas anteriores para tentar explicar melhor. Costuma ficar mais confuso.
O Corinthians se beneficiou das anulações dos jogos pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, mas, obviamente, não houve nenhum plano diabólico para dar o título ao time paulista. Nem o Márcio Rezende de Freitas teve intenção de prejudicar o Internacional. Ele é um mau árbitro.
Se o Corinthians for campeão brasileiro, o que é quase certo, os jogadores, comissão técnica e torcedores não precisam ter nenhum sentimento de culpa nem pedir desculpas pelo título. Devem comemorar bastante. Não se pode tirar os méritos da equipe.
O Internacional tem também o direito de protestar e de reclamar, até na Justiça comum, pelos jogos anulados. Todos possuem suas razões.
Com Antônio Lopes, o Corinthians melhorou a defesa. Porém, sob o comando do Márcio Bittencourt, o time obteve maior média de pontos (71% contra 66,7%), como mostrou a Folha. Se o Corinthians for campeão, Márcio merece também o aplauso do clube, dos torcedores e da imprensa.
Se o Corinthians ganhar o título, o que incomoda é a origem do volumoso dinheiro investido pela MSI.

Show sem culpa
Na quarta-feira, escrevi que o Barcelona, que dá show sem nenhuma culpa, tem um quinteto ofensivo formado pelos armadores Xavi e Deco e pelos atacantes Messi, Eto'o e Ronaldinho Gaúcho. Quando a equipe está perdendo, e o adversário jogando muito na defesa, Rijkaard costuma trocar o único típico volante por um armador mais ofensivo. Forma um sexteto.
Isso não significa que o Brasil deveria escalar o quinteto com Adriano, Ronaldo, Robinho, Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Nenhum dos cinco tem condições de jogar como Xavi, que marca no próprio campo, organiza as jogadas e chega ao ataque. Quem poderia fazer isso é o Zé Roberto. Isso raramente acontece. Além de ter mais talento, Juninho atua dessa forma no Lyon.
Xavi é o melhor jogador da seleção da Espanha. Raramente erra um passe ou perde a bola no meio-campo. Mesmo assim, ele não tem, fora da Espanha, a fama de outros volantes.
Os técnicos europeus, assim como os do Brasil, gostam mais de volantes pesados, que desarmam, dão um passe curto para o lado e que não avançam para receber a bola de volta.
Escrevi ainda na coluna anterior que o Barcelona, por marcar por pressão, deixa muitos espaços na defesa para o contra-ataque e que assim foi eliminado pelo Chelsea na Copa dos Campeões do ano passado. Um leitor contestou ao dizer que o gol decisivo saiu de um escanteio. É verdade. Porém, nos dois jogos aconteceram outros gols após lançamentos longos nas costas dos defensores do Barcelona.
Marcar por pressão é um risco que vale a pena o Barcelona correr, mas que poderia ser diminuído se um dos laterais se posicionasse como um zagueiro no momento do contra-ataque. Foi o que fez o Rijkaard contra o Real Madrid ao colocar o zagueiro Oleguer de lateral-direito. Ele marcava o Robinho ou o Ronaldo e sobrava um zagueiro.
O Barcelona joga bonito, para frente, com eficiência e com inteligência. Por isso, é hoje a equipe mais encantadora do mundo.

Artilheiro sem culpa
Com quase 40 anos, Romário tem boas chances de ser o artilheiro do campeonato. Isso é conseqüência do seu eterno talento, do esforço que fez para jogar melhor neste ano e da fraqueza das defesas adversárias.
Não se pode confundir o equilíbrio dos times, a emoção de muitas partidas, o grande número de gols e o talento de alguns poucos jogadores com a qualidade do futebol que se joga hoje no Brasil. A maioria das equipes é fraca.
Romário, que foi o mais genial centroavante de todos os tempos, ainda joga bem no Campeonato Brasileiro porque atua num time modesto de um grande clube, que disputa para não ser rebaixado e que tem um presidente e um técnico que fazem o que o Romário deseja e precisa. Sem pensar no futuro, é melhor o Vasco ter o Romário com 40 anos do que um jovem com 20 e que só sabe correr.
Infelizmente, Romário não tem mais condições de brilhar em um grande time que disputa títulos.


E-mail - tostao.folha@uol.com.br


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