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FUTEBOL
Campeão sem culpa
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Por causa de opiniões e
questionamento de leitores,
algumas vezes retorno a assuntos
de colunas anteriores para tentar
explicar melhor. Costuma ficar
mais confuso.
O Corinthians se beneficiou das
anulações dos jogos pelo Superior
Tribunal de Justiça Desportiva,
mas, obviamente, não houve nenhum plano diabólico para dar o
título ao time paulista. Nem o
Márcio Rezende de Freitas teve
intenção de prejudicar o Internacional. Ele é um mau árbitro.
Se o Corinthians for campeão
brasileiro, o que é quase certo, os
jogadores, comissão técnica e torcedores não precisam ter nenhum
sentimento de culpa nem pedir
desculpas pelo título. Devem comemorar bastante. Não se pode
tirar os méritos da equipe.
O Internacional tem também o
direito de protestar e de reclamar,
até na Justiça comum, pelos jogos
anulados. Todos possuem suas
razões.
Com Antônio Lopes, o Corinthians melhorou a defesa. Porém,
sob o comando do Márcio Bittencourt, o time obteve maior média
de pontos (71% contra 66,7%), como mostrou a Folha. Se o Corinthians for campeão, Márcio merece também o aplauso do clube,
dos torcedores e da imprensa.
Se o Corinthians ganhar o título, o que incomoda é a origem do
volumoso dinheiro investido pela
MSI.
Show sem culpa
Na quarta-feira, escrevi que o
Barcelona, que dá show sem nenhuma culpa, tem um quinteto
ofensivo formado pelos armadores Xavi e Deco e pelos atacantes
Messi, Eto'o e Ronaldinho Gaúcho. Quando a equipe está perdendo, e o adversário jogando
muito na defesa, Rijkaard costuma trocar o único típico volante
por um armador mais ofensivo.
Forma um sexteto.
Isso não significa que o Brasil
deveria escalar o quinteto com
Adriano, Ronaldo, Robinho, Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Nenhum dos cinco tem condições de
jogar como Xavi, que marca no
próprio campo, organiza as jogadas e chega ao ataque. Quem poderia fazer isso é o Zé Roberto. Isso raramente acontece. Além de
ter mais talento, Juninho atua
dessa forma no Lyon.
Xavi é o melhor jogador da seleção da Espanha. Raramente erra
um passe ou perde a bola no
meio-campo. Mesmo assim, ele
não tem, fora da Espanha, a fama
de outros volantes.
Os técnicos europeus, assim como os do Brasil, gostam mais de
volantes pesados, que desarmam,
dão um passe curto para o lado e
que não avançam para receber a
bola de volta.
Escrevi ainda na coluna anterior que o Barcelona, por marcar
por pressão, deixa muitos espaços
na defesa para o contra-ataque e
que assim foi eliminado pelo
Chelsea na Copa dos Campeões
do ano passado. Um leitor contestou ao dizer que o gol decisivo
saiu de um escanteio. É verdade.
Porém, nos dois jogos aconteceram outros gols após lançamentos longos nas costas dos defensores do Barcelona.
Marcar por pressão é um risco
que vale a pena o Barcelona correr, mas que poderia ser diminuído se um dos laterais se posicionasse como um zagueiro no momento do contra-ataque. Foi o
que fez o Rijkaard contra o Real
Madrid ao colocar o zagueiro
Oleguer de lateral-direito. Ele
marcava o Robinho ou o Ronaldo
e sobrava um zagueiro.
O Barcelona joga bonito, para
frente, com eficiência e com inteligência. Por isso, é hoje a equipe
mais encantadora do mundo.
Artilheiro sem culpa
Com quase 40 anos, Romário
tem boas chances de ser o artilheiro do campeonato. Isso é conseqüência do seu eterno talento, do
esforço que fez para jogar melhor
neste ano e da fraqueza das defesas adversárias.
Não se pode confundir o equilíbrio dos times, a emoção de muitas partidas, o grande número de
gols e o talento de alguns poucos
jogadores com a qualidade do futebol que se joga hoje no Brasil. A
maioria das equipes é fraca.
Romário, que foi o mais genial
centroavante de todos os tempos,
ainda joga bem no Campeonato
Brasileiro porque atua num time
modesto de um grande clube, que
disputa para não ser rebaixado e
que tem um presidente e um técnico que fazem o que o Romário
deseja e precisa. Sem pensar no
futuro, é melhor o Vasco ter o Romário com 40 anos do que um jovem com 20 e que só sabe correr.
Infelizmente, Romário não tem
mais condições de brilhar em um
grande time que disputa títulos.
E-mail - tostao.folha@uol.com.br
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