São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2006

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JUCA KFOURI

Tem muito torcedor feliz por aí


Não é só o adepto do São Paulo que tem motivos para festejar. E até ele talvez não entenda bem por quê


TORCEDOR FELIZ , é claro, é o do São Paulo. Felicíssimo.
Não só comemora o tetracampeonato como ainda por cima viu Rogério Ceni fazer mais um gol de falta e jogar a medalha de ouro para a arquibancada, como prometera ao jogar a da Recopa.
Torcedor feliz nem dá bola para a vida política do seu clube de coração. Vai ver o do São Paulo nem sabe que no Morumbi o estatuto impede mais que uma reeleição. Como não deve saber que poucos clubes no país tem uma oposição tão forte, apesar de todas as vitórias. O que, é claro, obriga quem chega ao poder a se comportar à altura da tradição da agremiação.
Torcedor feliz também é o do Inter, com regime semelhante e com uma bem sucedida experiência na criação do sócio-torcedor, uma das alavancas para a recuperação colorada. Inter que já levou a Libertadores e ainda pode ser campeão mundial neste 2006, por mais que o ex-gremista Ronaldinho Gaúcho cresça a cada rodada do Campeonato Espanhol, que o tem como artilheiro não só pela quantidade, mas, também, pela qualidade, como o de bicicleta no último sábado. Ele só não serve para ser titular da seleção brasileira...
O Inter, além do mais, voltou a revelar jogadores, como Nilmar, como Rafael Sobis e, ao que tudo indica e os palmeirense sentiram na carne, como Alexandre Pato, de apenas 17 anos e que deu um show ontem no Palestra Itália.
Estão felizes muitos outros torcedores hoje, até os da Lusa, que festejam ter escapado da Série C.
Mas, talvez, nenhum outro torcedor tenha tanto motivo para festejar como o do Bahia.
Isso mesmo, o do Bahia, que vê seu time na Série C. Porque na última sexta-feira a torcida tricolor tomou conta da Praça Castro Alves, que é do povo, e pôs 50 mil pessoas em manifestação, pacífica, com direito a trio elétrico, para exigir a renúncia da diretoria do clube, uma mistura do velho esquema de ACM com o de Daniel Dantas, receita certa para a falência e desespero.
Salvo engano, jamais houve coisa igual como ato de torcida de futebol, fora do estádio, em horário comercial, tão impressionante que lembrou alguns dos comícios pelas Diretas Já, em 1984.
Tomara que o exemplo frutifique e outras massas descontentes façam o mesmo.
Muito melhor do que os torcedores organizados é a organização dos torcedores.
Torcedores que têm sim o direito de influir nos destinos de seus times. Porque se para participar da vida do clube é preciso ser sócio, para ter vez e voz no destino do time basta ser torcedor e pagar por isso, como fazem, por exemplo, os torcedores do Barcelona, por mais que lá esteja presente o sentimento catalão, o que os torna diferentes de tudo o mais que conhecemos.
Tem motivo para estarem felizes, ainda, os torcedores do Grêmio e do Paraná Clube, embora estes dependam da última rodada para comemorar a conquista de uma vaga na Libertadores, em disputa com o Vasco, que vacilou.
Os do Grêmio são testemunhas do reerguimento do tricolor gaúcho, sob nova administração, em muitos pontos semelhante ao esforço que se fez no rival Inter.
Diferentemente do que se deu em Minas, onde se o torcedor do Galo fez sua parte na reconquista do lugar na Série A, mas sofre com um modelo de gestão que tira muito mais da paixão pelo futebol do que contribui para aumentá-la. Basta dizer que seu presidente é um dos banqueiros do valerioduto, sedutor barato dos dinheiristas da mídia, embora a preço muito alto para o tamanho do Atlético.
Que festejem os felizes, Que se organizem os espoliados.

blogdojuca@uol.com.br


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