São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

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RÉGIS ANDAKU

Herói eterno


Alguns bons tenistas entram para a história do tênis; outros, como Andre Agassi, entram para a história


ANDRE AGASSI chega antes do horário do almoço ao Norfolk Yacht and Country Club, belo clube às margens do rio Lafayette, na Virgínia, nos EUA. Traz consigo uma bolsa, e é fácil ver que ali cabem algumas raquetes. Será que Agassi, apenas alguns meses depois da aposentadoria, já sente falta do tênis e, ou, pensa em voltar?
Nada disso. Agassi chega a um almoço organizado para levantar fundos para uma organização que trabalha com crianças que têm câncer. Cada um dos 300 "convidados" pagou US$ 100 para conhecer de perto este que foi um dos melhores tenistas de todos os tempos. Agassi pode estar com fome, quase não tem tempo para tocar o prato, mas sua simpatia faz valer o programa para os convidados. Em seguida, ele saca uma raquete novinha e pergunta quem vai ficar com ela. O lance inicial é US$ 1.000. Um lance aqui, outro lá, uma brincadeira por aqui, outra ali, e a raquete sai para um sujeito por US$ 7.000.
Naquela mesma tarde/noite, não há muito tempo, pouco antes do Natal, Agassi, aí sim, vestiria sua famosa roupa de tenista e voltaria à quadra. Com James Blake, faria um jogo de exibição. De novo, com ingressos cobrados para a mesma instituição. Blake ganha o jogo, mas o momento de maior euforia se dá quando Agassi recebe no meio da quadra Roy Flemmer, 14. Garoto que adorava jogar tênis, mas que acabou surpreendido com um tipo de câncer raro, Flemmer se recupera de uma cirurgia de 11 horas a que foi submetido em julho.
A conversa girava sobre tênis e os jogos do videogame Nintendo quando o garoto puxou uma raquete e pediu autógrafo ao ídolo. Agassi retrucou ("Vamos fazer assim: em vez de eu autografar sua raquete, você fica com a minha") e entregou sua raquete ao garoto, boquiaberto. "Vamos, pegue logo, aqueles golpes do Andre, na verdade, bem, é tudo mérito da raquete", Blake brinca com o garoto. Mais aplausos, emocionados. Agassi ainda faria outros gestos carinhosos para a arrecadação de fundos naquele dia, Blake daria ainda uma aula a um garoto de seis anos saudável, que não tem câncer, mas pagou US$ 2.200 para poder jogar com ele.
Oficialmente aposentado, Agassi tem dito que não sente falta das quadras, que está aproveitando como nunca a vida ao lado da mulher e dos filhos. Sabe-se que tem andado por todo o país participando de eventos, de caridade ou não, recebido homenagens e trabalhado pela fundação. Na semana passada, ele disse ter certeza de que logo será esquecido.
"Em menos de 20 anos ninguém mais lembrará que um dia eu fui um bom jogador." Não é verdade. Seus feitos no tênis já estão na história.
Agora, são suas ações fora das quadras que marcarão para sempre a vida de centenas de pessoas. Passa o tempo, entra ano, sai ano, a verdade é que alguns heróis são eternos.

PROGRAMA BOM
O Aberto de São Paulo começa na segunda, no Parque Villa-Lobos. Ótimo programa. Um dos destaques é Nicolas Santos, vice do Orange Bowl, que ficou com o convite recusado por Guga.

PRIORIDADE
Aliás, em vez de Guga, o Aberto da Austrália chamou Sam Querrey, 19, e Madison Brengle, 16, tidos como "revelações do tênis dos EUA".

MARCAÇÃO
O Natal foi estressante para Rafael Nadal, mais uma vez submetido a um antidoping. "Foram 16 ou 17 só neste ano", reclama. Brabo, sugeriu antidoping nos dirigentes.

DE NOVO
Roland Garros? Na Ásia, onde faz caridade, Roger Federer disse que a prioridade é ganhar Wimbledon.

reandaku@uol.com.br


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