São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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espião

Cineasta expõe futebol norte-coreano

Documentarista inglês conta como um dos países mais fechados do mundo se relaciona com o esporte mais popular

Seleção da Coreia do Norte, rival do Brasil na Copa-2010, tem como base uma equipe do Exército e um artilheiro cuja origem é sul-coreana

Jacques Demarthon - 15.out.09/France Presse
Delegação da Coreia do Norte visita Paris após empate sem gols com o Congo, em Le Mans

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Lojas e supermercados de Pionguiangue, capital da Coreia do Norte, exibem fotos e posters da seleção nacional de futebol, que joga contra o Brasil em sua primeira partida na Copa do Mundo de 2010. O feito é motivo de orgulho nacional, ainda que os jogadores não tenham aparecido em fotos ao lado do ditador Kim Jong-il.
O inusitado adversário do Brasil no Mundial da África do Sul só participou de uma edição da Copa do Mundo - em 1966, na Inglaterra. Chegou às quartas de final, depois de ter derrotado a Itália por 1 a 0.
Essa zebra oriental é o tema do documentário "O jogo das suas vidas", que conta como é o futebol em um dos países mais fechados do mundo.
O filme foi feito por um grupo de britânicos que vive em Pequim e que, desde 1993, visita a Coreia do Norte. De lá para cá, eles criaram uma agência de turismo, Koryo Tours, que leva estrangeiros à Coreia do Norte, uma galeria de arte em Pequim com artistas norte-coreanos e alguns documentários.
A Folha conversou com Simon Cockerell, sócio da Koryo Tours. Na entrevista, ele relata algumas particularidades do futebol no país.

Jogos com atraso
No final de maio, a semifinal da Copa dos Campeões entre Chelsea e Barcelona eletrizou a audiência local. Os comentaristas da TV estatal discutiam cada jogada apaixonadamente. Mas o jogo tinha acontecido três semanas antes. Até já se sabia o resultado final do torneio.
Por não haver dinheiro para comprar direitos de retransmissão das grandes ligas, jogos chegam ao país a partir de gravações piratas. Durante a semana há apenas um canal, mas no fim de semana há três. Um deles é dedicado à programação esportiva. Futebol e luta livre são os mais vistos.

Militares em campo
O melhor time do país é o 25 de Abril, que pertence ao Exército. Nem todos os jogadores são soldados, mas alguns certamente são. Nos últimos jogos da seleção, seis jogadores eram desse time, batizado com o dia da fundação do chamado Exército do Povo. Eles jogam no maior estádio fora da capital, na cidade de Nampo, com 35 mil lugares. Há nove estádios no país com capacidade acima de 10 mil torcedores.

Artilheiro importado
Jong Tae-se, 25, joga no time japonês Kawasaki. Jamais morou na Coreia do Norte e tinha cidadania da Coreia do Sul até recentemente. Neto de coreanos, nascido no Japão, ele estudou em escolas financiadas pelo governo norte-coreano no Japão e conseguiu um passaporte norte-coreano sob medida para jogar pela seleção do país. Fez 20 gols desde 2006.
O outro jogador com mais experiência internacional é Hong Yong-jo, 27, que defendeu o maior time local, o 25 de Abril. Depois, jogou por dois anos no sérvio Bezanija e, desde o ano passado, está no Rostov. Fez 11 gols pela seleção, onde joga desde 2005.

Na retranca
A seleção é conhecida como "Chollima", nome de um mitológico cavalo com asas que foi usado como símbolo da campanha nacional de reconstrução do país depois da Guerra das Coreias. Eles dizem que seu estilo de jogo é o "chollima", que significa basicamente correr o tempo inteiro sem demonstrar cansaço e jogar na retranca.

Mulheres na frente
Como na China, o futebol feminino é muito superior ao masculino. A seleção feminina já foi campeã mundial sub-20 em 2006 e sub-17 em 2008. Figura atualmente em quinto lugar no ranking da Fifa (o time masculino é o 86º na lista).
Como no vizinho poderoso, os norte-coreanos preferem ver futebol a praticá-lo. Os passivos fãs de futebol disputam partidas de vôlei e basquete, em improvisadas quadras ao lado de repartições públicas e fábricas. Tênis de mesa e taekwondo são predominantes nas aulas de educação física.


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