São Paulo, quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

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pé no chão

Estudo mostra que correr descalço, pisando com a frente dos pés, gera menos impacto do que usando tênis

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Correr descalço ou de tênis?
A opção de não usar um calçado ao fazer o exercício ganhou um aliado em uma pesquisa publicada na revista científica "Nature". O estudo mostrou que um corredor descalço sofre menos com o impacto do pé no chão por desenvolver um estilo diferente de correr.
Não há até agora, no entanto, uma pesquisa comparativa do número de lesões em corredores com e sem tênis.
O que o estudo comprovou é que corredores descalços tendem a pousar primeiro a parte da frente do pé ao correr, às vezes usando toda a planta. É uma consequência do maior contato com o solo. Enquanto isso, 75% dos que usam tênis aterrissam com o calcanhar, o que é induzido pelo modelo do calçado.
O estudo feito por Daniel E. Lieberman, da Universidade Harvard, e mais sete colegas mostrou que o corredor que pisa com a parte da frente do pé evita o chamado impacto "transiente", isto é, uma rápida, alta e transitória força de colisão alguns milésimos de segundo depois do impacto do pé no chão.
A força do impacto pode ir de 1,5 até 3 vezes o peso da pessoa, dependendo da velocidade com que se está correndo, exercida em até 50 milissegundos depois de tocar o chão. A força envia uma onda de choque pelo corpo através do esqueleto.
Como um corredor, em média, acerta o solo 600 vezes por quilômetro, o número de lesões se mantém alto apesar do aperfeiçoamento dos calçados esportivos, lembra o estudo.
Os tênis esportivos são produzidos para reduzir o impacto da corrida e distribuí-lo melhor por um determinado tempo.
Um artigo de revisão de medicina esportiva de 2007 citado no estudo mostrou que até 30% dos corredores sofrem um acidente por ano. A incidência de machucados relatados em artigos na área variou largamente, de 19,4% até 79,3%, com o joelho sendo a região mais atingida, seguido pela parte de baixo da perna e pelo pé.
Correr descalço pisando com a frente do pé tem menos impacto até do que simplesmente andar, segundo Lieberman, ele mesmo entusiasta do exercício.
"Quando alguém caminha, geralmente tem uma pisada de calcanhar com uma perna bem reta, por isso existe um impacto transiente, embora muito, muito menor do que o impacto gerado por acertar o chão com a parte de trás do pé ao correr", declarou ele à Folha.
"Mas, quando alguém corre com uma pisada de frente ou meio do pé, não há essencialmente um impacto de colisão pelos motivos que descrevemos no nosso artigo, como massa menos efetiva."
A linha de pesquisa de Lieberman combina biologia experimental e paleontologia para mudanças no corpo humano. E um dos aspectos fundamentais, que diferenciam o homem dos macacos, é o bipedalismo. Outro é a capacidade de correr longas distâncias. A evolução fez do homem um maratonista natural.
Em um artigo anterior, Lieberman e Dennis M. Bramble argumentaram que a capacidade de correr longas distâncias pode ter sido útil para o homem pré-histórico obter comida, seja para roubar a caça de outros carnívoros, seja para perseguir a presa até cansá-la e atacá-la. Esse tipo de caça é ainda praticada por tribos no deserto de Kalahari, Namíbia.
Os autores do artigo enfatizam, porém, que ainda não há dados mostrando que a pisada com o calcanhar produz mais machucados do que a pisada com a frente do pé.
"Os dados biomecânicos que nós temos sobre corredores descalços ainda são limitados pelo pequeno tamanho das amostras. Nós estamos continuando a coletar dados biomecânicos desses corredores. À medida que os números aumentam, nós teremos uma ideia melhor da distribuição dos padrões de pisadas em geral", afirmou outra autora do estudo, Irene Davis, da Universidade de Delaware.


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