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pé no chão
Estudo mostra que correr descalço, pisando com a frente dos pés, gera menos impacto do que usando tênis
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Correr descalço ou de tênis?
A opção de não usar um calçado ao fazer o exercício ganhou um aliado em uma pesquisa publicada na revista científica "Nature". O estudo mostrou que um corredor descalço
sofre menos com o impacto do
pé no chão por desenvolver um
estilo diferente de correr.
Não há até agora, no entanto,
uma pesquisa comparativa do
número de lesões em corredores com e sem tênis.
O que o estudo comprovou é
que corredores descalços tendem a pousar primeiro a parte
da frente do pé ao correr, às vezes usando toda a planta. É uma
consequência do maior contato
com o solo. Enquanto isso, 75%
dos que usam tênis aterrissam
com o calcanhar, o que é induzido pelo modelo do calçado.
O estudo feito por Daniel E.
Lieberman, da Universidade
Harvard, e mais sete colegas
mostrou que o corredor que pisa com a parte da frente do pé
evita o chamado impacto "transiente", isto é, uma rápida, alta
e transitória força de colisão alguns milésimos de segundo depois do impacto do pé no chão.
A força do impacto pode ir de
1,5 até 3 vezes o peso da pessoa,
dependendo da velocidade com
que se está correndo, exercida
em até 50 milissegundos depois de tocar o chão. A força envia uma onda de choque pelo
corpo através do esqueleto.
Como um corredor, em média, acerta o solo 600 vezes por
quilômetro, o número de lesões
se mantém alto apesar do aperfeiçoamento dos calçados esportivos, lembra o estudo.
Os tênis esportivos são produzidos para reduzir o impacto
da corrida e distribuí-lo melhor
por um determinado tempo.
Um artigo de revisão de medicina esportiva de 2007 citado
no estudo mostrou que até 30%
dos corredores sofrem um acidente por ano. A incidência de
machucados relatados em artigos na área variou largamente,
de 19,4% até 79,3%, com o joelho sendo a região mais atingida, seguido pela parte de baixo
da perna e pelo pé.
Correr descalço pisando com
a frente do pé tem menos impacto até do que simplesmente
andar, segundo Lieberman, ele
mesmo entusiasta do exercício.
"Quando alguém caminha,
geralmente tem uma pisada de
calcanhar com uma perna bem
reta, por isso existe um impacto
transiente, embora muito, muito menor do que o impacto gerado por acertar o chão com a
parte de trás do pé ao correr",
declarou ele à Folha.
"Mas, quando alguém corre
com uma pisada de frente ou
meio do pé, não há essencialmente um impacto de colisão
pelos motivos que descrevemos no nosso artigo, como
massa menos efetiva."
A linha de pesquisa de Lieberman combina biologia experimental e paleontologia para mudanças no corpo humano. E um dos aspectos fundamentais, que diferenciam o homem dos macacos, é o bipedalismo. Outro é a capacidade
de correr longas distâncias. A
evolução fez do homem um
maratonista natural.
Em um artigo anterior, Lieberman e Dennis M. Bramble
argumentaram que a capacidade de correr longas distâncias
pode ter sido útil para o homem pré-histórico obter comida, seja para roubar a caça de
outros carnívoros, seja para
perseguir a presa até cansá-la e
atacá-la. Esse tipo de caça é
ainda praticada por tribos no
deserto de Kalahari, Namíbia.
Os autores do artigo enfatizam, porém, que ainda não há
dados mostrando que a pisada
com o calcanhar produz mais
machucados do que a pisada
com a frente do pé.
"Os dados biomecânicos que
nós temos sobre corredores
descalços ainda são limitados
pelo pequeno tamanho das
amostras. Nós estamos continuando a coletar dados biomecânicos desses corredores. À
medida que os números aumentam, nós teremos uma
ideia melhor da distribuição
dos padrões de pisadas em geral", afirmou outra autora do
estudo, Irene Davis, da Universidade de Delaware.
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