São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Agência Mundial agora quer "estatizar" doping

Novo presidente pede empenho de governos na luta contra drogas no esporte

John Fahey, que assumiu em janeiro, diz que desafio de sua gestão será mostrar a países que doping tornou-se problema de saúde pública


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Figura central na luta antidoping nos últimos nove anos, a Wada (Agência Mundial Antidoping) agora pede socorro aos governos. John Fahey, novo presidente da entidade, diz que, sem o auxílio do poder público, não será possível realizar uma luta eficaz contra as drogas. O dirigente participou de simpósio ontem, no Museu Olímpico, em Lausanne. Foi seu primeiro encontro público com a imprensa após assumir a direção da Wada, em janeiro. Em entrevista à Folha, concedida antes do evento na Suíça, o australiano pediu medidas rígidas para coibir fraudes e clamou por colaboração inclusive dos governos europeus, que se opuseram à sua eleição.

 

FOLHA - A Europa queria outro candidato à presidência da Wada. Agora, como obter o apoio europeu?
JOHN FAHEY -
Tive encontro frutífero com o ministro do Esporte da União Européia [Milan Zver], na Eslovênia. Ele reiterou que não tem problema comigo e assegurou que apóia a Wada. Contei que aumentaria a colaboração com autoridades públicas dos cinco continentes na luta contra o doping e aguardo, com interesse, sugestões.

FOLHA - Qual é o principal desafio de sua administração?
FAHEY -
Há várias prioridades, mas uma das principais para mim é aumentar a colaboração dos governos. Uma década atrás, governantes tinham pouco interesse em doping. Isso mudou porque reconheceram que a posse de drogas é problema sério de saúde pública. Isso não é limitado aos atletas de elite. Todos são afetados por essa doença insidiosa.

FOLHA - Como está a colaboração?
FAHEY -
Os governos estão mais interessados que antes. Os governantes já indicaram seu desejo de trabalharem juntos para combater fraudes e fazer com que haja jogo limpo no esporte. Devemos capitalizar esse momento e apoiar as ações das entidades esportivas e dos governos. Meu papel, como presidente, é fazer com que não percamos essa chance.

FOLHA - O que o sr. achou da prisão de Marion Jones nos EUA?
FAHEY -
Esse caso é um triste exemplo de uma atleta que fraudou o esporte, mas negou isso por anos, até chegar ao nível de perjúrio. Também mostra a importância da cooperação entre esporte e governantes. Uma violação às leis antidoping comprovada por teste de urina ou sangue é só uma das maneiras de reprimir atletas. Outras transgressões, como uso ou tentativa de uso de substâncias proibidas, tráfico e posse de drogas são violações não analíticas às regras.

FOLHA - A prisão de Marion Jones serve de exemplo a outros atletas?
FAHEY -
Espero que atletas que tentaram fraudar o esporte aprendam essa lição. De uma situação em que a atleta teria sido só punida por sua fraude, ela acabou presa por perjúrio e foi banida do esporte.

FOLHA - Quando o esporte estará livre de casos como esse?
FAHEY -
Infelizmente, isso sempre existiu, assim como há fraudes em outros setores da sociedade. Mas a luta contra o doping no esporte tem progredido muito em pouco tempo.

FOLHA - Qual sua avaliação sobre a essa luta no ciclismo, que tem enfrentado seguidos escândalos?
FAHEY -
Encorajamos a UCI [União Ciclística Internacional] a tomar uma série de medidas para resgatar a credibilidade de seu esporte, incluindo a condução de um projeto piloto: o Passaporte do Atleta, conceito desenvolvido pela Wada e baseado no monitoramento de parâmetros biológicos que revelam efeitos do doping.

FOLHA - O que já foi feito?
FAHEY -
A parte mais importante agora será a implementação das medidas para cobrir o buraco no programa antidoping. Como agência internacional independente responsável por monitorar a luta contra o doping, a Wada irá monitorar o projeto e tentará estendê-lo.

FOLHA - Dá para garantir uma Olimpíada limpa em Pequim?
FAHEY -
Não posso dizer isso. Mas pedirei a todos os países para serem honestos e enviarem atletas limpos. O ônus sobre isso é de cada país e federação que não realizar rigoroso processo de garantia de que esses competidores estarão limpos, coibindo os que buscam a vantagem desleal do doping.


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