São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TOSTÃO A incoerência de Dunga
DURANTE A semana, assisti no programa "Bola da Vez", da ESPN Brasil, a uma ótima e bem-humorada entrevista com o ex-craque Mazzola. Ele jogou a Copa de 58, pelo Brasil, e a de 62, pela Itália. Na época, era permitido. Mazzola é comentarista da TV italiana. Dizem que Mazzola, antes da Copa de 58, já teria contrato com o Milan. Por isso, não teria se concentrado e perdido a vaga de titular para Vavá. Mazzola nega. Essa é uma das milhares histórias do futebol, negadas e/ou nunca confirmadas. A versão é sempre mais atraente e duradoura que o fato. Mazzola é cidadão brasileiro e italiano. Mais brasileiro que italiano. Falou que torce pelo bom futebol. Hoje, pelo Barcelona. Mazzola apontou Brasil, Espanha e Inglaterra como favoritos na Copa. Coloco Brasil e Espanha no primeiro grupo e, com um pouco menos de chance, Inglaterra, Itália, Alemanha, Holanda e Argentina. Não despreze a Argentina nem o técnico Maradona. O futebol mudou. O Brasil, que sempre teve muitos craques no meio-campo (volantes e clássicos meias armadores), não tem um excepcional jogador nessa posição, convocado ou não. Kaká, Ronaldinho, Robinho e Alex são meias de ligação ou meias-atacantes. A Argentina, que sempre teve excelentes meias de ligação, não terá na Copa, nem na reserva, um único jogador dessa posição. Verón é volante. Riquelme e outros meias não foram chamados para o último amistoso. O Brasil não é um dos principais favoritos ao título somente porque tem uma equipe pronta e organizada. É, principalmente, porque possui o melhor goleiro do mundo, os dois melhores laterais-direitos, um dos três melhores jogadores do mundo (Kaká), quatro zagueiros que estão entre os melhores (Lúcio, Juan, Luisão e Thiago Silva), um excelente centroavante (Luis Fabiano), além de Ronaldinho e Robinho, que podem crescer no Mundial. Existe uma máxima no futebol de que jogo se ganha no meio-campo. O Brasil tem ótimas chances de ser campeão do mundo, sem meio-campo. Ou melhor, com um meio-campo apenas forte e marcador. Dunga vai revolucionar o futebol. Será mais uma evidência de que o talento nesse setor não tem mais a mesma importância. Será o reconhecimento e a valorização da mediocridade. Mazzola disse que prefere, mesmo jogando mal, um jogador que coloca o companheiro uma ou duas vezes por jogo na cara do gol, como Ronaldinho, a um disciplinado e regular. Mais que isso, Ronaldinho, há vários meses, joga bem e com regularidade. Sua situação não tem nada a ver com a de Romário, em 2002. Romário não tinha condições de jogar bem a Copa. Ronaldinho atuou mal sob o comando de Dunga, porque estava mal em seus clubes. Agora é diferente. Preferir jogadores que não estão bem em seus clubes só porque atuaram algumas vezes bem na seleção, deixando de fora outros sabiamente melhores e em forma, é uma decisão incompreensível e incoerente. Quando uma pessoa quer ser excessivamente racional e coerente, mais até que a própria racionalidade e coerência, torna-se refém de seus dogmas e perde a racionalidade e a coerência. Texto Anterior: A rodada: Santo André e Botafogo se garantem no G4 Próximo Texto: Paulo Vinicius Coelho: Falta de educação Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |