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COPA 2006
Escolha dos cartolas por um treinador estrangeiro divide o país e causa fortes críticas dos profissionais locais
"Certo", Scolari vira enigma na Inglaterra
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Ainda não é oficial, mas na Inglaterra começou ontem a ser tratado como fato que Luiz Felipe
Scolari será o técnico da seleção
de futebol do país a partir de julho, tão logo acabe a Copa.
Todos os principais veículos da
imprensa londrina, incluindo a
poderosa BBC, passaram o dia repercutindo a virtual escolha de
"Big Phill" e tentando decifrar o
enigma que ele representa para a
maioria da população.
O diário "Evening Standard" informou que a decisão será anunciada nos próximos dias.
A base de tanta certeza foi a viagem a Portugal do principal executivo da FA (a federação inglesa), Brian Barwick. Ele esteve anteontem em Lisboa para oferecer
o cargo a Scolari. Retornou a Londres e disse que a entidade "está
conversando com o Luiz Felipe,
como parte do processo de seleção do novo técnico". Foi a quase
confirmação da contratação.
Não fosse o brasileiro treinador
da seleção portuguesa -time que
pode cruzar com a Inglaterra nas
quartas-de-final do Mundial alemão-, possivelmente o anúncio
teria sido feito ontem mesmo.
Mas Scolari, que não deu entrevistas ontem, bate o pé em não
tornar públicas negociações sobre
seu futuro até que acabe seu contrato com Portugal, o que acontece após o Mundial. Nega inclusive
que tenha tido entrevistas de trabalho com os dirigentes ingleses,
algo que agora até a FA admite
oficialmente que houve.
Como a FA já deixou claro que
vai anunciar antes da Copa o sucessor do sueco Sven-Göran
Eriksson (o primeiro estrangeiro
do English Team), se não o fizer,
mas ao mesmo tempo não apresentar outro nome, dará a senha
para o que hoje parece ser o cenário mais palpável: está tudo certo,
mas a notícia só vai virar oficial
quando a Copa terminar.
O sentimento foi sintetizado pela emissora ITV, que numa das
manchetes do seu telejornal do
fim da noite perguntou: "Quando
a farsa vai acabar"?.
A novidade Scolari motivou a
fúria nacionalista, particularmente no meio futebolístico.
"É um golpe para os rapazes ingleses que estavam na disputa.
Vários poderiam fazer um bom
trabalho, pois nunca tivemos um
grupo de jogadores tão bom",
queixou-se o técnico do Portsmouth, Harry Redknapp.
"Não acho uma boa decisão para a Inglaterra nem para o futebol
inglês", ecoou o presidente da Associação de Treinadores da Liga,
Howard Wilkinson.
Entre a população, a acolhida
foi melhor. Pesquisas realizadas
nos últimos dias na página da
BBC na internet revelaram apoio
ao nome de Scolari. As opiniões
da população ouvida pelas TVs
nas ruas de Londres mixavam desaprovação com apoio irrestrito.
No primeiro grupo, o argumento
era sempre que "poderiam ter pego um inglês". Entre os entusiastas, prevaleceu a linha de que "temos de ter o melhor, não importa
sua nacionalidade".
Depois de críticas pelo comportamento dúbio de Scolari ao comentar seus contatos com a FA,
os analistas esportivos ontem se
derramavam em elogios ao brasileiro, ressaltando a sua diferença
em relação a Eriksson.
Os jornais ressaltavam o caráter
passional e envolvente de Scolari,
em contraposição à frieza e ao
desprendimento do sueco. Mas
resta muito a aprender. O "Guardian" informou que o brasileiro
atuou no Grêmio como jogador
-o que nunca ocorreu. O "Standard" contou que ele tem duas filhas, quando são dois filhos.
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