São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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TÁTICA

Maioria dos treinadores foge à regra de profissionais que brilharam dentro de campo

Perna-de-pau vira craque da prancheta no Mundial

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Pelo menos no banco de reservas, a Copa-2002 será um espetáculo menos glamouroso do que em edições passadas.
Com o brasileiro Luiz Felipe Scolari na "comissão de frente", a competição terá uma maioria esmagadora de treinadores que fogem do perfil de craque que encerra a carreira no campo e parte para a profissão de técnico.
Dos 34 homens da prancheta que vão disputar o Mundial da Ásia -Suécia e Tunísia têm comando duplo-, só oito sentiram o gosto de estar no certame mais desejado do futebol como jogadores. Os outros 26 variam de carreiras pífias, caso de Scolari, a situações intermediárias, como o francês Roger Lamerre.
Entre os oito agraciados com a condição de inscrito em uma Copa como jogador e treinador, o único que foi estrela de primeira grandeza como atleta foi o alemão Rudi Voeller (leia texto nesta página). Os demais foram razoavelmente famosos ou inexpressivos.
Na Copa passada, realizada na França, os bancos de reservas eram mais estrelados.
Naquela competição, 11 treinadores tinham em seus currículos passagens pela competição como atletas, sendo que três eram da primeiríssima linha do futebol -o brasileiro Zagallo, o argentino Passarella e o alemão Vogts.
Agora, na Ásia, o que se vê é um forte domínio entre os técnicos de gente que não conheceu os holofotes como jogador.
Scolari fez quase toda a sua carreira no interior gaúcho, onde era conhecido pela falta de técnica. Encerrou a carreira no CSA de Alagoas, onde partiu para a fama ao assumir o cargo de treinador.
A América do Sul, terra de Scolari, tem uma das maiores concentrações de técnicos que foram inexpressivos como jogadores.
Além do Brasil, Argentina, Equador e Uruguai levaram à Ásia selecionadores que só alcançaram a verdadeira fama depois da carreira modestas jogando.
O argentino Marcelo Bielsa, que faz incrível sucesso hoje, tem um currículo ainda mais fraco do que o de Scolari. Dividindo as atividades de jogador com um curso universitário de agronomia, sua carreira profissional foi efêmera.
Hernán Darío Gómez, do Equador, teve o auge da sua carreira de futebolista quando jogou por uma seleção da Colômbia, onde nasceu, nos Jogos Centro-Americanos e do Caribe de 1978.
No Uruguai, Victor Púa só ficou famoso no futebol pelo seu trabalho com amadores. Antes, era um zagueiro do modesto Progresso.
Mas não é só a América do Sul que ex-craques perderam a vez.
Bora Milutinovic, que vai disputar seu quinto Mundial como treinador, não foi o melhor jogador nem da sua família na Iugoslávia.
Dois de seus irmãos jogaram a edição disputada em 1950, no Brasil. Já ele nunca teve o gosto de disputar uma Copa do Mundo.
Na Europa, as seleções, em sua maioria, são comandadas por homens que sempre estiveram ligados a clubes pequenos. O hoje badalado Sven-Goran Eriksson, que dirige a Inglaterra, teve sua curta carreira no pequeno Degersfors terminada abruptamente após uma contusão no joelho.
Os dois comandantes da Suécia -Lars Lagerback e Tommy Sodeberg- têm origem inusitada para o futebol. O primeiro é cientista político que arriscou ser treinador (cuida da parte tática). Já Sodeberg, que fez curso superior na área esportiva, toma conta dos fundamentos.



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