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BASQUETE
Mãos vazias
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Não há dúvida de que a arbitragem deixou a desejar no
Nacional. É consenso, também,
que só evoluirá quando emancipada do comando executivo da
confederação brasileira. E não é
segredo que o Ribeirão Preto goza
hoje de muito prestígio político.
Por isso, vale a pena tratar de
outro aspecto, menos comentado:
do tumulto que arruinou a despedida de Oscar do basquete -para quem não pôde acompanhar, o
time do Flamengo perdeu a cabeça com os árbitros (e vice-versa) e
abandonou a quadra quando já
estava selada sua eliminação.
Refiro-me à solidão do cestinha
nos dias seguintes. Tirante o desabafo de praxe na televisão (só Oscar ainda põe o basquete no "Jornal Nacional"), pouco se ouviu,
pouco se protestou, pouco se fez.
A acusação rubro-negra de que
há esquema de manipulação de
resultados, por exemplo, entrou
por um ouvido e saiu por outro.
A CBB pôde se calar sem constrangimento. O incidente acabou
engavetado em menos de uma semana. A aposentadoria do veterano ala foi postergada, "em nome da honra". Os mata-matas do
Nacional prosseguem (esta noite
começam as semifinais).
Tanto descaso me deu a impressão de que o basquete nacional
aos poucos deixa de admirar Oscar. O atleta concorda: "Às vezes
sinto que virei um inimigo".
Talvez por esse motivo, o ídolo
tenha passado os últimos meses a
espernear por mais atenção.
Desde seu retorno ao Brasil, em
1995, Oscar não se preocupou em
montar um projeto de time que
transcendesse o personalismo.
Juntou patotas com o único objetivo de lustrar seu talento, de se
entupir de cestas e cestas.
Agora, aos 44 anos, próximo de
se retirar de cena, sofre com o peso dessa escolha. Constata que lidera uma equipe pouco competitiva, sem apetite e qualidade para
conquistar títulos. Que seu adeus
será certamente uma derrota.
Por isso, chora como nunca. Repreende com truculência o companheiro que lhe negar o passe.
Reivindica aos berros a condescendência dos árbitros (suas faltas técnicas em Ribeirão Preto foram merecidas, esta é a verdade).
Forja recordes. Inventa cerimônias de autopromoção. Reclama
o direito de comandar a CBB,
"por tudo que fiz pelo basquete".
Os gestos compõem um quadro
antipático, que corrói a bela imagem que ele construiu ao longo de
décadas com a bola laranja.
Oscar já tinha de enfrentar a rejeição dentro do próprio esporte
-algumas lendas das quadras
invejam seu sucesso financeiro,
não hesitam em destilar o veneno
tão logo brote o microfone.
Tinha de aguentar a pobreza da
cultura basqueteira nacional, que
o subestima ao tachá-lo de mero
arremessador de longa distância
-no auge físico, ele foi um jogador completo, de vasto repertório
ofensivo também no garrafão, e,
por conta da altura, cansou de
encarar "monstros" internacionais, como o lituano Arvydas Sabonis e o croata Dino Radja.
Tinha de administrar a indiferença da CBB, incapaz de aproveitar o carisma dos (poucos) ídolos do esporte -veja a situação
absurda de Hortência, Paula e Janeth, todas elas escanteadas.
Mas agora, além de tudo isso, o
"Mão Santa" tem de afrontar ginásios hostis, engolir gritos de
"gagá", tolerar críticas castiças a
seu estilo de jogo. E de lidar com a
perspectiva barra-pesada de, antes de abandonar o esporte, ser
abandonado por ele.
Vasco x Ribeirão Preto
Seria a final "chapa branca", com as equipes mais influentes e os
técnicos mais paparicados (o vascaíno Hélio Rubens e Lula) pela
administração de Gerasime Bozikis na CBB.
Vasco x Bauru
Destaque para o duelo dos experientes alas da seleção que vai ao
Mundial-2002, em Indianápolis: Vanderlei (Bauru) x Rogério.
Araraquara x Ribeirão Preto
Reedição da decisão do último Paulista, com duas equipes patrocinadas por instituições de ensino (Uniara e COC).
Araraquara x Bauru
Haveria o confronto dos mais "caseiros" deste Nacional: o clube
que atrai o maior público (Araraquara, 5.500 por partida) contra o
time de melhor campanha em casa (Bauru, 17v e 1d).
E-mail melk@uol.com.br
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