São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE

Mãos vazias

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Não há dúvida de que a arbitragem deixou a desejar no Nacional. É consenso, também, que só evoluirá quando emancipada do comando executivo da confederação brasileira. E não é segredo que o Ribeirão Preto goza hoje de muito prestígio político.
Por isso, vale a pena tratar de outro aspecto, menos comentado: do tumulto que arruinou a despedida de Oscar do basquete -para quem não pôde acompanhar, o time do Flamengo perdeu a cabeça com os árbitros (e vice-versa) e abandonou a quadra quando já estava selada sua eliminação.
Refiro-me à solidão do cestinha nos dias seguintes. Tirante o desabafo de praxe na televisão (só Oscar ainda põe o basquete no "Jornal Nacional"), pouco se ouviu, pouco se protestou, pouco se fez.
A acusação rubro-negra de que há esquema de manipulação de resultados, por exemplo, entrou por um ouvido e saiu por outro.
A CBB pôde se calar sem constrangimento. O incidente acabou engavetado em menos de uma semana. A aposentadoria do veterano ala foi postergada, "em nome da honra". Os mata-matas do Nacional prosseguem (esta noite começam as semifinais).
Tanto descaso me deu a impressão de que o basquete nacional aos poucos deixa de admirar Oscar. O atleta concorda: "Às vezes sinto que virei um inimigo".
Talvez por esse motivo, o ídolo tenha passado os últimos meses a espernear por mais atenção.
Desde seu retorno ao Brasil, em 1995, Oscar não se preocupou em montar um projeto de time que transcendesse o personalismo. Juntou patotas com o único objetivo de lustrar seu talento, de se entupir de cestas e cestas.
Agora, aos 44 anos, próximo de se retirar de cena, sofre com o peso dessa escolha. Constata que lidera uma equipe pouco competitiva, sem apetite e qualidade para conquistar títulos. Que seu adeus será certamente uma derrota.
Por isso, chora como nunca. Repreende com truculência o companheiro que lhe negar o passe. Reivindica aos berros a condescendência dos árbitros (suas faltas técnicas em Ribeirão Preto foram merecidas, esta é a verdade). Forja recordes. Inventa cerimônias de autopromoção. Reclama o direito de comandar a CBB, "por tudo que fiz pelo basquete".
Os gestos compõem um quadro antipático, que corrói a bela imagem que ele construiu ao longo de décadas com a bola laranja.
Oscar já tinha de enfrentar a rejeição dentro do próprio esporte -algumas lendas das quadras invejam seu sucesso financeiro, não hesitam em destilar o veneno tão logo brote o microfone.
Tinha de aguentar a pobreza da cultura basqueteira nacional, que o subestima ao tachá-lo de mero arremessador de longa distância -no auge físico, ele foi um jogador completo, de vasto repertório ofensivo também no garrafão, e, por conta da altura, cansou de encarar "monstros" internacionais, como o lituano Arvydas Sabonis e o croata Dino Radja.
Tinha de administrar a indiferença da CBB, incapaz de aproveitar o carisma dos (poucos) ídolos do esporte -veja a situação absurda de Hortência, Paula e Janeth, todas elas escanteadas.
Mas agora, além de tudo isso, o "Mão Santa" tem de afrontar ginásios hostis, engolir gritos de "gagá", tolerar críticas castiças a seu estilo de jogo. E de lidar com a perspectiva barra-pesada de, antes de abandonar o esporte, ser abandonado por ele.

Vasco x Ribeirão Preto
Seria a final "chapa branca", com as equipes mais influentes e os técnicos mais paparicados (o vascaíno Hélio Rubens e Lula) pela administração de Gerasime Bozikis na CBB.

Vasco x Bauru
Destaque para o duelo dos experientes alas da seleção que vai ao Mundial-2002, em Indianápolis: Vanderlei (Bauru) x Rogério.
Araraquara x Ribeirão Preto Reedição da decisão do último Paulista, com duas equipes patrocinadas por instituições de ensino (Uniara e COC).

Araraquara x Bauru
Haveria o confronto dos mais "caseiros" deste Nacional: o clube que atrai o maior público (Araraquara, 5.500 por partida) contra o time de melhor campanha em casa (Bauru, 17v e 1d).

E-mail melk@uol.com.br



Texto Anterior: A Frase
Próximo Texto: Futebol: Gabriel adia renovação com o São Paulo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.