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XICO SÁ
Mais respeito ao sexo
A cartilha moral tomou conta do futebol. A Copa só torna mais histérico o que já rola nos clubes
AMIGO TORCEDOR, amigo secador, para começo
de conversa, dos itens da cesta básica da seleção
argentina, eu só dispenso a sobremesa, mesmo sendo doce de leite. Sexo e vinho, pelo amor de Deus,
queremos a vida inteira, independentemente dos
atributos estéticos da moça, da safra e do buquê.
Engraçado como as cartilhas morais tomaram
conta do futebol. A Copa só torna mais histérica
uma situação que já rola nos clubes. Outro dia bastou umas Fantas a mais para que Ganso & companhia fossem expostos como os meninos baladeiros
da Vila. Se isso for balada, eu já morri há séculos.
Um castigo exagerado, baita queimação de filme
para o futuro dos garotos. Agora, pode quebrar o time inteiro que o sargento Dunga, cuja seleção é patrocinada por cerveja e banco, não chama -não
que o pobre cronista condene a cerveja, mas sabe
como um banco faz mal à saúde de uma família.
Sorte nossa é que existem os hermanos para
salvar o ambiente moralista. O próprio médico da
seleção dirigida por Maradona foi lá e quebrou a
cadeia da hipocrisia copeira. Condenou apenas o
que chama de "aditivos", e cada um entenda de
acordo com as suas respeitáveis dependências.
O chato foi que, para saciar a
sede hipócrita dos jornalistas
-somos a pior raça nesse sentido-, o doutor Villani, de modo
acaciano, ainda foi levado a dizer frases como "o sexo faz parte da vida social".
Da mesma forma, sublinhou, com a caneta fosforescente dos bons costumes, a fidelidade. Sexo
puede, boludo, desde que a parceira seja tradicional. Mesmo entendendo o que ele quis dizer, fiquei
pensando que raios seria uma parceira tradicional,
quanto tempo ela deveria estar casada com o sujeito e, pasme, se haveria a chance de um mesmo
hermanito ostentar mais de uma tradição mulherística na praça.
Quanta bobagem o futebol nos põe a ruminar
com os seus ridículos estatutos. Para completar,
ainda me vem o técnico brasuca e diz, em resposta
aos argentinos, que "nem todo mundo gosta de sexo, de vinho ou de sorvete".
Meia-boca esse mundo em que somos obrigados
a morar hoje, hein? Uma vida assim feito azulejo,
escorregadia e quadrada.
Um deve explicar a repórteres que sexo faz parte
da existência. E o outro desconfia de quem gosta
das raras boas coisas, com ou sem Copa.
Parece até que ninguém aqui foi feito em uma
noite de muita sacanagem. A propósito, de onde
vêm os repórteres?
xico.folha@uol.com.br
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