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Palmeiras põe a nu limites da "modernização'
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O Palmeiras pode até conquistar a Copa do Brasil, em
São Paulo, no sábado. Mas o
futebol que mostrou anteontem, no Mineirão, não é o de
um campeão.
O alviverde foi completamente envolvido pelo Cruzeiro, que só não marcou mais
gols graças a uma atuação excepcional de Velloso.
O time de Luiz Felipe Scolari
não é nem sombra do Palmeiras que encheu os olhos da torcida nos últimos quatro ou
cinco anos.
Claro que a responsabilidade
não é apenas do treinador.
Uma política desastrosa de
contratações, aliada ao estilo
feijão-com-arroz de Felipão,
transformou uma equipe que
jogava por música num time
sem inspiração e sem élan.
Em nome de tornar a equipe
mais aguerrida e combativa,
abriu-se mão da categoria. E,
pelo menos no Mineirão, a
combatividade também minguou. O time estava tão triste e
apático que tomou o gol num
cochilo incrível.
O cineasta Ugo Giorgetti,
palmeirense roxo, não esconde
seu desagrado com a situação
alviverde: "Gestão moderna é
isso? Vender jogadores bons e
colocar outros piores no lugar?
Isso os cartolas de velho estilo
já sabiam fazer".
Mesmo sem ser palmeirense,
é fácil imaginar o desespero do
diretor de "Boleiros". Quem
se acostumou a ver desfilar em
campo craques como Djalminha, Roberto Carlos, Muller e
Edmundo deve ter dificuldade
em torcer para o time sem personalidade que o Palmeiras
põe hoje para jogar.
O casamento Palmeiras-Parmalat, que durante anos foi
usado como exemplo de gestão
moderna do futebol, demonstra agora que não basta um
grande patrocinador para
montar um grande time.
Esse pode ser um bom ponto
de partida para discutir alguns
mitos em torno da modernização do futebol. Será que o fato
de uma grande empresa controlar um clube é garantia de
modernidade e progresso?
Não necessariamente. Se a
empresa estiver mais interessada no lucro rápido do que na
constituição de uma equipe
forte e duradoura, o mais provável é que apenas use o clube
como um grande balcão de negócios.
Como isso, ao que parece,
tem sido a regra no futebol
brasileiro, é provável que os
clubes continuem vendo, a cada final de temporada, seus
maiores craques baterem asas
para a Europa ou o Japão.
É hora de o torcedor -e da
imprensa esportiva- começar
a se perguntar a quem interessa isso.
Embasbacar-se com as cifras
astronômicas das transações é
deixar-se ofuscar por algo que,
a rigor, deveria ser secundário.
Senão, é mais ou menos como esperar que o torcedor palmeirense diga: "O time está
uma droga, mas não tem importância. O importante é que
a Parmalat teve um lucro de
tantos milhões no último
ano."
Enquanto predominar no futebol brasileiro a mesma mentalidade predatória que caracteriza nosso capitalismo selvagem -ganhar dinheiro fácil e
rápido-, os estádios vão continuar se esvaziando. Por que
não investir numa política de
capitalização dos clubes e
campeonatos, buscando atrair
o público aos estádios e manter os craques no país?
E-mail: jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve às quintas
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