São Paulo, quinta, 28 de maio de 1998

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Palmeiras põe a nu limites da "modernização'

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O Palmeiras pode até conquistar a Copa do Brasil, em São Paulo, no sábado. Mas o futebol que mostrou anteontem, no Mineirão, não é o de um campeão.
O alviverde foi completamente envolvido pelo Cruzeiro, que só não marcou mais gols graças a uma atuação excepcional de Velloso.
O time de Luiz Felipe Scolari não é nem sombra do Palmeiras que encheu os olhos da torcida nos últimos quatro ou cinco anos.
Claro que a responsabilidade não é apenas do treinador. Uma política desastrosa de contratações, aliada ao estilo feijão-com-arroz de Felipão, transformou uma equipe que jogava por música num time sem inspiração e sem élan.
Em nome de tornar a equipe mais aguerrida e combativa, abriu-se mão da categoria. E, pelo menos no Mineirão, a combatividade também minguou. O time estava tão triste e apático que tomou o gol num cochilo incrível.
O cineasta Ugo Giorgetti, palmeirense roxo, não esconde seu desagrado com a situação alviverde: "Gestão moderna é isso? Vender jogadores bons e colocar outros piores no lugar? Isso os cartolas de velho estilo já sabiam fazer".
Mesmo sem ser palmeirense, é fácil imaginar o desespero do diretor de "Boleiros". Quem se acostumou a ver desfilar em campo craques como Djalminha, Roberto Carlos, Muller e Edmundo deve ter dificuldade em torcer para o time sem personalidade que o Palmeiras põe hoje para jogar.
O casamento Palmeiras-Parmalat, que durante anos foi usado como exemplo de gestão moderna do futebol, demonstra agora que não basta um grande patrocinador para montar um grande time.
Esse pode ser um bom ponto de partida para discutir alguns mitos em torno da modernização do futebol. Será que o fato de uma grande empresa controlar um clube é garantia de modernidade e progresso?
Não necessariamente. Se a empresa estiver mais interessada no lucro rápido do que na constituição de uma equipe forte e duradoura, o mais provável é que apenas use o clube como um grande balcão de negócios.
Como isso, ao que parece, tem sido a regra no futebol brasileiro, é provável que os clubes continuem vendo, a cada final de temporada, seus maiores craques baterem asas para a Europa ou o Japão.
É hora de o torcedor -e da imprensa esportiva- começar a se perguntar a quem interessa isso.
Embasbacar-se com as cifras astronômicas das transações é deixar-se ofuscar por algo que, a rigor, deveria ser secundário.
Senão, é mais ou menos como esperar que o torcedor palmeirense diga: "O time está uma droga, mas não tem importância. O importante é que a Parmalat teve um lucro de tantos milhões no último ano."
Enquanto predominar no futebol brasileiro a mesma mentalidade predatória que caracteriza nosso capitalismo selvagem -ganhar dinheiro fácil e rápido-, os estádios vão continuar se esvaziando. Por que não investir numa política de capitalização dos clubes e campeonatos, buscando atrair o público aos estádios e manter os craques no país?

E-mail: jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve às quintas


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