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TÊNIS
O rei da grama
THALES DE MENEZES
COLUNISTA DA FOLHA
Gustavo Kuerten foi bem.
Enfiou quase 30 aces no rival, reclamou da arbitragem (ao
que parece, uma constante em
sua atual fase), mas não perdeu a
cabeça. Grand Slam é assim: uma
maratona, duas semanas de jogos
em cinco sets, uma dureza. Por isso, ganhar bonito nunca é o mais
importante. O que vale é passar
para a outra fase.
Enquanto isso, os leitores mandam mensagens perguntando de
onde vem esse favoritismo todo
atribuído a Pete Sampras em
Wimbledon. É o tema principal
da correspondência da semana.
Só posso acreditar que a maioria dos missivistas esteja começando a acompanhar o tênis nesta temporada. O reinado de Sampras é tão evidente em Wimbledon (seis títulos nas sete últimas
edições do torneio) que apenas esse histórico já serviria para colocá-lo como principal favorito.
No entanto, a observação do
comportamento de Sampras na
grama é que realmente explica
seu domínio. A grama é, definitivamente, o piso que mais valoriza
a precisão do jogador. Os pontos
tendem a ser definidos pela via
rápida. É raro um ponto passar
da quarta rebatida. A bola desliza velozmente, dificultando todos
os golpes. Assim, os erros aparecem logo.
O grande desafio de Kuerten,
que tem um estilo de jogar apoiado em muitas trocas de bola, é
manter o volume de jogo, o peso
da bola. Kafelnikov, Enqvist e Hewitt têm o mesmo problema.
Aí, um cara com a precisão cirúrgica de Sampras aumenta sua
superioridade diante do resto. Em
Wimbledon, apesar da característica de velocidade da quadra, sacar rápido não basta. Tem de ser
bem colocado, e Sampras põe a
bola onde quer.
O título do holandês Richard
Krajicek em 1996, o único que interrompeu a série de triunfos de
Sampras na grama inglesa, não
foi por acaso. Krajicek tem um
dos voleios mais matadores do
circuito. Quando chega bem na
bola, invariavelmente mata o
ponto.
Se Kuerten, Norman, Kafelnikov ou outro trocador de bola
desses levar o troféu em Wimbledon, pode ser reverenciado com
muito mais vigor do que Sampras, Rafter ou Krajicek. Trocar
bola em Wimbledon é quase um
suicídio estratégico. Para ganhar
assim, o cara tem de estar em seu
ápice físico e técnico.
A discussão sobre quem é o melhor tenista do mundo deveria ser
"congelada" durante Wimbledon. Nos últimos anos, por coincidência, Sampras dominou o circuito e também o torneio inglês.
Nos anos 80, por exemplo, Ivan
Lendl fez barba e cabelo por todas
as quadras do planeta, menos em
Wimbledon.
É um torneio tão peculiar que
não deveria ser incluído nas estatísticas gerais do circuito.
Numa comparação, Wimbledon é o GP de Mônaco do tênis.
Um evento anacrônico, onde o
desempenho dos participantes
pode não ter nada a ver com sua
atuação no resto do circuito. Mas
é sustentado por seu caráter histórico, seu charme imbatível. É
tão bacana que ninguém pensa
em riscá-lo da agenda.
Sampras é o melhor tenista da
história e, também, o rei de Wimbledon. E todos precisam saber
disso.
Com toda a razão
A chiadeira dos tenistas espanhóis Alex Corretja, Albert
Costa e Juan Carlos Ferrero,
este alegando oficialmente
uma suspeita contusão, que
abandonaram Wimbledon
por não serem incluídos entre os cabeças-de-chave, é
mais do que justificada. Os
organizadores do torneio inglês não podem continuar a
desprezar o ranking da ATP.
É uma palhaçada.
Derrota precoce
Lleyton Hewitt perdeu logo
na estréia e continua sua sina
de não ir bem nos torneios de
Grand Slam. Antes que os
analistas de plantão comecem a depreciar o rapaz, é
bom lembrar como Wimbledon é esse torneio peculiar,
que não reproduz o desempenho real do tenista na temporada. E, aos 19 anos, Hewitt
tem tempo bastante para
amadurecer e ser o número
um do planeta.
E-mail thalesmenezes@uol.com.br
www.uol.com.br/folha/pensata
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