|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Estamos todos santistas
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Santos pode não vencer a
Taça Libertadores, mas já
conquistou o Brasil. Há muito
tempo não víamos uma torcida
assim, quase unânime, por um
clube brasileiro.
Digo "quase" porque há os que,
como o lateral corintiano Rogério, aferram-se à rivalidade e preferem torcer pelo Boca a ver os
santistas levantarem a taça. É um
direito legítimo. Longe de mim
qualquer ufanismo nacionalista.
O fato é que a maioria dos brasileiros sofreu ao lado dos santistas na última quarta.
Nunca me convenceu aquele
papo de que este ou aquele time
"é o Brasil na Libertadores". Mas
o Santos quase (outra vez o quase) conseguiu fazer a retórica virar verdade. Existem, a meu ver,
razões históricas e razões novas
para esse fenômeno.
As históricas, que atingem mais
os torcedores acima de 40 anos,
têm a ver com a "era Pelé", em
que o clube da Vila Belmiro correspondia ao paradigma de excelência no futebol.
A identificação do torcedor brasileiro com o Santos era tão grande que o time de Pelé sentia-se em
casa no Maracanã.
Desde então, o Santos é o "segundo time" de todos os não-santistas. Claro que o Flamengo de
Zico também virou o "segundo time" de muita gente, assim como o
Cruzeiro de Tostão e o Internacional de Falcão. Mas a simpatia
pelo Santos parece ser mais perene, menos manchada pelas rivalidades locais ou nacionais.
Mas à mística da camisa imaculada de Pelé e seus "all-stars"
vêm se juntar, agora, o encanto e
o entusiasmo despertados por
uma nova geração de talentos.
Não é só o futebol dos jovens jogadores santistas que é alegre.
Eles mesmos são simpáticos, atrevidos e folgazões como um bando
de adolescentes.
Talvez nós, que temos idade para ser seus pais, projetemos neles
nossa nostalgia pela juventude
que ficou para trás.
Talvez crianças e adolescentes
de hoje os vejam como ídolos próximos, imitáveis, parecidos com
os colegas de bairro ou de colégio.
Mas concordo com o Torero: os
Meninos da Vila cresceram, já
não podem ser chamados de meninos. Na partida da Bombonera,
fiquei especialmente impressionado com a altivez e a energia de
Diego, que procurou o jogo e
manteve a lucidez o tempo todo,
sem se abalar com o rugido de 60
mil torcedores à sua volta.
O Santos errou muito naquela
noite: Robinho insistiu demais
nas pedaladas, a defesa mostrou-se estabanada, a pontaria de todos estava horrível. Mas o importante é que o time enfrentou o Boca de igual para igual. Na verdade, jogou melhor que o adversário
e criou mais chances de gol. Merecia pelo menos o empate.
Agora só cabe esperar que o
Santos entre em campo para a segunda partida com o mesmo espírito e que não se confirme o temor
de sua diretoria de que, em vista
da derrota em Buenos Aires, a
torcida abandone o time.
Afinal, o Santos não representa
apenas "o Brasil" na Libertadores, mas também o futebol que
nós gostamos de ver.
Rio-SP e Sul-Minas
O confronto mais importante
da rodada do Brasileirão, evidentemente, é o Cruzeiro x Inter, no Mineirão. Por jogar em
casa e ter de volta seus titulares
que estavam na seleção, a equipe de Luxemburgo é favorita,
mas o jovem time do Inter é perigoso e imprevisível. Outro jogo que promete é Corinthians x
Fluminense. O time alvinegro
volta a jogar completo, e o Fluminense tem Romário, que
adora calar o Pacaembu.
Minuto de silêncio
A Copa das Confederações termina amanhã de modo melancólico, para não dizer fúnebre.
A morte do camaronês Foe, aos
28 anos, obscureceu todo o resto, inclusive a decepcionante
campanha da seleção brasileira,
da qual tanto nós como os franceses esperávamos muito mais.
E-mail jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Todinho Próximo Texto: Futebol: Camarões cogitou deixar torneio da Fifa Índice
|