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São Paulo, sábado, 28 de junho de 2003

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FUTEBOL

Estamos todos santistas

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Santos pode não vencer a Taça Libertadores, mas já conquistou o Brasil. Há muito tempo não víamos uma torcida assim, quase unânime, por um clube brasileiro.
Digo "quase" porque há os que, como o lateral corintiano Rogério, aferram-se à rivalidade e preferem torcer pelo Boca a ver os santistas levantarem a taça. É um direito legítimo. Longe de mim qualquer ufanismo nacionalista.
O fato é que a maioria dos brasileiros sofreu ao lado dos santistas na última quarta.
Nunca me convenceu aquele papo de que este ou aquele time "é o Brasil na Libertadores". Mas o Santos quase (outra vez o quase) conseguiu fazer a retórica virar verdade. Existem, a meu ver, razões históricas e razões novas para esse fenômeno.
As históricas, que atingem mais os torcedores acima de 40 anos, têm a ver com a "era Pelé", em que o clube da Vila Belmiro correspondia ao paradigma de excelência no futebol.
A identificação do torcedor brasileiro com o Santos era tão grande que o time de Pelé sentia-se em casa no Maracanã.
Desde então, o Santos é o "segundo time" de todos os não-santistas. Claro que o Flamengo de Zico também virou o "segundo time" de muita gente, assim como o Cruzeiro de Tostão e o Internacional de Falcão. Mas a simpatia pelo Santos parece ser mais perene, menos manchada pelas rivalidades locais ou nacionais.
Mas à mística da camisa imaculada de Pelé e seus "all-stars" vêm se juntar, agora, o encanto e o entusiasmo despertados por uma nova geração de talentos.
Não é só o futebol dos jovens jogadores santistas que é alegre. Eles mesmos são simpáticos, atrevidos e folgazões como um bando de adolescentes.
Talvez nós, que temos idade para ser seus pais, projetemos neles nossa nostalgia pela juventude que ficou para trás.
Talvez crianças e adolescentes de hoje os vejam como ídolos próximos, imitáveis, parecidos com os colegas de bairro ou de colégio.
Mas concordo com o Torero: os Meninos da Vila cresceram, já não podem ser chamados de meninos. Na partida da Bombonera, fiquei especialmente impressionado com a altivez e a energia de Diego, que procurou o jogo e manteve a lucidez o tempo todo, sem se abalar com o rugido de 60 mil torcedores à sua volta.
O Santos errou muito naquela noite: Robinho insistiu demais nas pedaladas, a defesa mostrou-se estabanada, a pontaria de todos estava horrível. Mas o importante é que o time enfrentou o Boca de igual para igual. Na verdade, jogou melhor que o adversário e criou mais chances de gol. Merecia pelo menos o empate.
Agora só cabe esperar que o Santos entre em campo para a segunda partida com o mesmo espírito e que não se confirme o temor de sua diretoria de que, em vista da derrota em Buenos Aires, a torcida abandone o time.
Afinal, o Santos não representa apenas "o Brasil" na Libertadores, mas também o futebol que nós gostamos de ver.

Rio-SP e Sul-Minas
O confronto mais importante da rodada do Brasileirão, evidentemente, é o Cruzeiro x Inter, no Mineirão. Por jogar em casa e ter de volta seus titulares que estavam na seleção, a equipe de Luxemburgo é favorita, mas o jovem time do Inter é perigoso e imprevisível. Outro jogo que promete é Corinthians x Fluminense. O time alvinegro volta a jogar completo, e o Fluminense tem Romário, que adora calar o Pacaembu.

Minuto de silêncio
A Copa das Confederações termina amanhã de modo melancólico, para não dizer fúnebre. A morte do camaronês Foe, aos 28 anos, obscureceu todo o resto, inclusive a decepcionante campanha da seleção brasileira, da qual tanto nós como os franceses esperávamos muito mais.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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