São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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FUTEBOL

Só Love

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O clássico paulista do domingo teve gols, teve brigas, teve drama. Só faltou uma coisa: público. Doze mil torcedores para um confronto como esse é ridículo. No sábado, para ver Santos 2 x 1 Guarani, havia mais de 20 mil pessoas no mesmo Pacaembu, santistas em sua grande maioria.
Mas voltemos ao "Choque Rei". O Palmeiras mereceu vencer porque foi um time mais organizado, solidário e aguerrido que o São Paulo. No duelo particular entre os dois artilheiros, deu Vágner Love, e não foi por acaso.
Vágner e Luis Fabiano são os dois melhores atacantes em atividade no futebol brasileiro. Infelizmente, ambos estão de malas prontas para deixar o país. Ontem, no Pacaembu, o que fez a diferença entre eles -e aliás vem fazendo nos últimos tempos- foi um fato muito simples: o Palmeiras sabe utilizar muito bem seu artilheiro, enquanto o São Paulo subaproveita o seu.
Quem primeiro me chamou a atenção para o desperdício de Luis Fabiano pelo tricolor foi o companheiro Luís Curro, aqui da Folha, alguns meses atrás. Depois disso, vários leitores são-paulinos confirmaram a impressão. A dúvida que persiste é quanto à causa desse subaproveitamento: incompetência ou sabotagem.
Para alguns, o esquema de jogo tricolor, com pouca criatividade no meio-campo, deixa o atacante isolado. Para outros, são os próprios companheiros do astro que, deliberadamente, o boicotam, por estarem cansados de ouvir a crônica esportiva dizer que "o time é só Rogério e Luis Fabiano".
Na partida de ontem, além de enfrentar um Palmeiras decidido e bem postado em campo, os jogadores são-paulinos tiveram de enfrentar também a hostilidade de sua própria torcida -pouco justificada, aliás, para um time que até ontem era um dos líderes do Brasileirão, além de ter sido a equipe brasileira que mais longe chegou na Libertadores.
Era natural que a pressão mais intensa recaísse sobre as maiores estrelas do elenco, e elas acusaram o golpe: Luis Fabiano perdeu um pênalti, e Rogério Ceni largou uma bola relativamente fácil nos pés matadores de Vágner Love.
O estado psicológico de Luis Fabiano se revelou, não tanto na cobrança do pênalti, mas na apatia que o impediu de aproveitar o rebote de Sérgio.
Os jogadores palmeirenses, ao contrário, estavam plenamente concentrados. O alviverde era um organismo compacto cuja coluna dorsal, de onde emanava a vibração para a disputa, era formada por Sérgio, Magrão e Vágner.
O torcedor palmeirense vai sentir saudades de Vágner, mas com a satisfação de ter usufruído até o fim o que ele tinha de melhor. Já os são-paulinos se lembrarão de Luis Fabiano com um gosto amargo e talvez um tanto de remorso, como ocorreu com Kaká.
 
O torcedor do Santos, que compareceu em bom número ao Pacaembu no sábado, sabe que o time tem elenco e técnico para chegar em pouco tempo às primeiras colocações.

Vitória cabal
O grande feito da rodada foi a bela vitória do Figueirense sobre o Flamengo em Volta Redonda. Contra um rubro-negro apático ("Acho que estão pensando na Copa do Brasil", disparou no intervalo o goleiro Júlio César, sobre seus companheiros), o Figueira mostrou um futebol objetivo e corajoso na casa postiça do adversário, fazendo por merecer a liderança isolada do Brasileirão.

Encanto e resultados
A República Tcheca segue sendo a sensação da Eurocopa, com quatro vitórias em quatro jogos. Os resultados coroam o futebol vistoso de Nedved, Baros e companhia. Tanto por motivos futebolísticos como sentimentais, torço por uma final Portugal x República Tcheca.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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