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Torcida por Gana pára Nações Unidas
Diplomatas dizem que Brasil é Golias e a graça seria a vitória de Davi; em uníssono, eles vaiam até a dupla de Ronaldos
Kofi Annan, secretário-geral da ONU e ganense, pede para não chorarem por seu país e promete um melhor desempenho na Copa-2010
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Torcida contra o Brasil na
ONU. As nações, unidas por
Gana, vaiaram a seleção e os
Ronaldos. A partida pelas oitavas-de-final da Copa parou o
órgão ontem. Literalmente. Do
plenário ao Conselho de Segurança, tudo vazio.
Pelos corredores só se viam
turistas, a maioria japoneses,
em visitas guiadas. Diplomatas
rompem a neutralidade e se
amontoam na lanchonete do
lobby, em frente a uma televisão que transmite o jogo com
narração em espanhol. Outros
delegados assistem em laptops
e computadores compartilhados no corredores, graças à
emissora Africast.
A reportagem pergunta o
porquê da opção. Não era só
torcer por Gana, pátria do secretário-geral, Kofi Annan. Era
torcer contra o Brasil.
"Quem quer que Golias vença? Tem de dar Davi", responde
o francês Jacques Dubois.
A maioria fuma, apesar dos
sinais de proibição. "É para aliviar a tensão", justifica Dubois.
Qualquer lance do Brasil é
motivo de vaias. Nem Ronaldinho, aquele, gaúcho, o melhor
do mundo, é poupado. Aplausos só para os africanos.
No gol de Adriano, aos 46min
do primeiro tempo, uma dupla
de brasileiros grita um palavrão
em português, impublicável.
Ninguém entende. Vaia geral,
de novo.
"Já acabou, juiz. Ih! Começou o desespero", afirma o diplomata carioca Eduardo Uziel,
da missão brasileira na ONU.
Intervalo. Todos saem. Quinze minutos. Todos voltam.
Aos 7min do segundo tempo
um ganense dá um carrinho em
Roberto Carlos. Gargalhadas
gerais.
"O Brasil vai fazer mais uns
dois, três gols", diz um russo de
nome indecifrável, em inglês
claudicante. "Não. Vai ter no
máximo mais um, e outro de
Gana", rebate um outro torcedor, paquistanês.
Pouco depois, a platéia grita
em uníssono: "Gol!". Meia dúzia de torcedores brasileiros
responde: "Dida!".
"Sorte que esses ganenses
são ruins. Quero ver contra a
Itália", comenta Cláudio Medeiros, que veio do Itamaraty
para uma conferência sobre armas, errando o adversário.
Não é Itália, é França. No sábado, quartas-de-final, revanche da decisão de 1998.
"Parece joguinho de futebol
de Atari", completa.
Uma das poucas ganenses,
Mara diz "restar só uma esperança". Mara de quê? "Só Mara.
Estou com vergonha."
Terceiro gol do Brasil, Zé Roberto. Silêncio geral. A irlandesa Deirdre Mullan chega minutos depois. "Qual o placar?",
pergunta. "Está 3 a 0? Queria
que Gana ganhasse."
Num corredor a caminho do
Conselho de Segurança, Kofi
Annan retoma a diplomacia.
"Foi só uma festa. Não chorem
por Gana. Amanhã a história
vai ser diferente. Em 2010, tem
a Copa da África do Sul".
No cargo desde 1997, Annan
já afirmou que pretende assistir à final da Copa.
Apesar da gana, Gana não ganhou. Ao final, sem aplausos,
vitória de Golias.
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