São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007

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São-paulino pode mover ação contra cartola rival

Cyrillo Jr., do Palmeiras, citou Richarlyson na TV em resposta sobre atleta gay

Segundo advogado, atleta recomendou que fita do programa da Record fosse analisada para se estudar as possíveis providências


JULYANA TRAVAGLIA
MÁRVIO DOS ANJOS
RENAN CACIOLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Declarações dadas na TV pelo diretor administrativo do Palmeiras, José Cyrillo Jr., devem levar Richarlyson, do São Paulo, a mover ações cível e criminal contra o cartola.
Indagado anteontem no programa "Debate Bola", da Record, sobre a possibilidade de haver um atleta homossexual no elenco palmeirense disposto a assumir publicamente sua opção, Cyrillo começou a responder dizendo: "O Richarlyson quase foi do Palmeiras".
A pergunta surgiu depois que a coluna Zapping, do "Agora", informou, sem citar nomes, que um jogador de um grande clube paulistano estava em negociação com a TV Globo para assumir a homossexualidade.
Ao tomar conhecimento das declarações de Cyrillo, o jogador pediu ao seu advogado, Renato Prata Salge, que analisasse a fita e verificasse se há providências a serem tomadas.
"Ele me autorizou a ver a fita e a defender os seus direitos caso haja necessidade, porque quem falou não tem competência para falar da intimidade dele. Ainda não vi a fita, que pedimos à Record, mas essas declarações infelizes podem dar motivo a uma ação cível e a outra criminal", disse Salge, sem definir que acusações haveria.
Salge afirma que, no início da próxima semana, o são-paulino assinará a procuração para iniciar as ações que achar cabíveis.
A reportagem procurou ouvir Richarlyson, mas ele não atendeu aos telefonemas. O jogador está em Florianópolis, onde enfrenta o Figueirense.
Seu empresário, Julio Fressato, negou que o volante seja o atleta na mira da Globo. "Quem não deve não teme. Não existe a mínima possibilidade de esse jogador ser o Richarlyson. Conheço a família dele, sua índole e seu caráter há 11 anos, desde que ele começou a jogar."
O agente afastou inclusive a hipótese de o jogador ser poupado contra o Figueirense. "Nenhuma chance. Acho até que ele vai entrar em campo mais motivado", declarou.
José Cyrillo Jr. afirmou ontem à Folha que não deveria ter citado o atleta no programa. Mas diz não crer que seja preciso pedir desculpas.
"Errei. Talvez não devesse ter dito o nome dele. Mas foi um ato falho. Em nenhum momento quis ser maldoso", afirmou o diretor palmeirense.
Cyrillo Jr. disse, inclusive, não ser preconceituoso e justificou-se dizendo "ser amigo e ter conhecidos homossexuais". Ele acredita que o fato ganhou uma proporção desnecessária. Mas prefere esperar o desdobramento do caso para saber qual atitude tomar.
Para o advogado Kalil Rocha Abdalla, do departamento jurídico do São Paulo, a questão não cabe ao clube do Morumbi.
"O São Paulo não foi ofendido, então não pode fazer nada. Quem pode entrar com alguma ação é o atleta, que teria sido ofendido, atacado. Agora eu acho que, se alguém acusa alguém, tem de ter provas. Se eu falo que alguém é homossexual e essa pessoa se ofende, eu preciso provar. Agora, como provar, isso eu não sei. Cabe a ele [Cyrillo Jr.] provar."


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