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África do Sul se "esconde" à noite
Por medo da violência nas cidades do país, população segue toque de recolher informal ao escurecer
Chefe da delegação do Brasil provocou saia justa e foi desmentido pela CBF ao falar sobre o problema da violência no país africano
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
São 17h35 em Johannesburgo, a principal cidade da África
do Sul. Com o inverno, a noite
começa a chegar. Duas horas
mais tarde, a movimentada
Maude Street, no elegante bairro de Sandton, o mais valorizado do país, já está deserta.
Pessoas andando por lá só no
dia seguinte, quando o sol raiar.
A cena foi vista também nas
cidades de Bloemfontein e Pretória. Quando a noite vem, as
pessoas se "escondem".
É como um toque de recolher
silencioso, incentivado pelo
medo da violência e pela forte
sensação de insegurança no
país da Copa do Mundo.
A reportagem da Folha,
quando chegou a Johannesburgo, foi aconselhada por voluntários sul-africanos da Fifa
a não deixar o hotel andando,
principalmente à noite.
"É o medo do crime, não tem
outra explicação para isso. E isso acontece de forma geral, nas
maiores e nas menores cidades
do país", afirma o sociólogo James Mokthubo, inglês radicado
na Cidade do Cabo há 17 anos.
Casado com uma sul-africana, ele já disse ter sido vítima
de assaltos à noite, mais de
uma vez. "Sem dúvida, o grande problema são os roubos a
casas. As pessoas não gostam
de sair porque sentem que podem ser surpreendidas pelos
bandidos", conta ele.
Relatos de pessoas ouvidas
pela reportagem seguem o
mesmo roteiro. Os assaltos às
residências sul-africanas são
quase sempre seguidos de requintes de crueldade. Por isso,
o número de condomínios fechados, com forte aparato de
segurança, como cercas elétricas, é cada vez maior no país.
O chefe da delegação brasileira, coronel Nunes, afirmou
durante a semana que o país vive um "toque de recolher".
"Depois das 18h, ninguém mais
pode sair às ruas", disse.
A declaração causou uma
saia justa, a ponto de o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, desmenti-lo no site da entidade e dizer que trará seus familiares ao Mundial.
O tema relacionado à segurança é o que mais incomoda os
organizadores da Copa-2010.
Questionado sobre a declaração de Nunes, o presidente do
Comitê Organizador Local africano, Danny Jordaan, considerou-a bem exagerada.
"Eu vejo, sim, as pessoas andando pelas ruas à noite. Acho
que quem vier à África do Sul
para a Copa encontrará um
ambiente seguro. Este é um
país alegre", afirmou.
A opinião do chefe do COL,
porém, contrasta com a da
maioria dos sul-africanos. O
problema da violência na África do Sul, segundo pesquisas
realizadas no país, é o que mais
preocupa a população.
A polícia também tem fama
de ineficiente. Durante a Copa
das Confederações, só tem sido
possível ver patrulhamento
efetivo em dias de jogos.
O ministro da Polícia do país,
Fikile Mbalula, afirma que um
grande plano de segurança, em
conjunto com as polícias das
nove cidades-sedes da Copa,
está em andamento.
"A polícia tem feito todos os
esforços para garantir a segurança de todos", disse ele, que,
porém, pede cuidado aos turistas que forem à África do Sul.
"Não há áreas em que você não
possa ir, mas há lugares em que
você precisa tomar cuidado."
(EDUARDO ARRUDA E PAULO COBOS)
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