São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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África do Sul se "esconde" à noite

Por medo da violência nas cidades do país, população segue toque de recolher informal ao escurecer

Chefe da delegação do Brasil provocou saia justa e foi desmentido pela CBF ao falar sobre o problema da violência no país africano

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

São 17h35 em Johannesburgo, a principal cidade da África do Sul. Com o inverno, a noite começa a chegar. Duas horas mais tarde, a movimentada Maude Street, no elegante bairro de Sandton, o mais valorizado do país, já está deserta.
Pessoas andando por lá só no dia seguinte, quando o sol raiar.
A cena foi vista também nas cidades de Bloemfontein e Pretória. Quando a noite vem, as pessoas se "escondem".
É como um toque de recolher silencioso, incentivado pelo medo da violência e pela forte sensação de insegurança no país da Copa do Mundo.
A reportagem da Folha, quando chegou a Johannesburgo, foi aconselhada por voluntários sul-africanos da Fifa a não deixar o hotel andando, principalmente à noite.
"É o medo do crime, não tem outra explicação para isso. E isso acontece de forma geral, nas maiores e nas menores cidades do país", afirma o sociólogo James Mokthubo, inglês radicado na Cidade do Cabo há 17 anos.
Casado com uma sul-africana, ele já disse ter sido vítima de assaltos à noite, mais de uma vez. "Sem dúvida, o grande problema são os roubos a casas. As pessoas não gostam de sair porque sentem que podem ser surpreendidas pelos bandidos", conta ele.
Relatos de pessoas ouvidas pela reportagem seguem o mesmo roteiro. Os assaltos às residências sul-africanas são quase sempre seguidos de requintes de crueldade. Por isso, o número de condomínios fechados, com forte aparato de segurança, como cercas elétricas, é cada vez maior no país.
O chefe da delegação brasileira, coronel Nunes, afirmou durante a semana que o país vive um "toque de recolher". "Depois das 18h, ninguém mais pode sair às ruas", disse.
A declaração causou uma saia justa, a ponto de o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, desmenti-lo no site da entidade e dizer que trará seus familiares ao Mundial.
O tema relacionado à segurança é o que mais incomoda os organizadores da Copa-2010.
Questionado sobre a declaração de Nunes, o presidente do Comitê Organizador Local africano, Danny Jordaan, considerou-a bem exagerada.
"Eu vejo, sim, as pessoas andando pelas ruas à noite. Acho que quem vier à África do Sul para a Copa encontrará um ambiente seguro. Este é um país alegre", afirmou.
A opinião do chefe do COL, porém, contrasta com a da maioria dos sul-africanos. O problema da violência na África do Sul, segundo pesquisas realizadas no país, é o que mais preocupa a população.
A polícia também tem fama de ineficiente. Durante a Copa das Confederações, só tem sido possível ver patrulhamento efetivo em dias de jogos.
O ministro da Polícia do país, Fikile Mbalula, afirma que um grande plano de segurança, em conjunto com as polícias das nove cidades-sedes da Copa, está em andamento.
"A polícia tem feito todos os esforços para garantir a segurança de todos", disse ele, que, porém, pede cuidado aos turistas que forem à África do Sul. "Não há áreas em que você não possa ir, mas há lugares em que você precisa tomar cuidado." (EDUARDO ARRUDA E PAULO COBOS)


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