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"Você nunca acha que algo pode te acertar"
FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Antes do impacto da mola
contra o capacete de Felipe
Massa, no sábado, o último acidente grave de um piloto brasileiro envolveu também um corpo estranho no meio de uma
pista. Algo maior. Bem maior.
Há pouco menos de três
anos, em 3 de agosto de 2006,
Cristiano da Matta acertou um
veado a 300 km/h durante um
teste coletivo da Champ Car
em Elkhart Lake, nos EUA.
As consequências foram piores do que as anunciadas até
agora pelos médicos de Massa.
Da Matta teve um coágulo no
cérebro, ficou 9 dias em coma,
14 dias respirando por aparelhos, 17 dias na UTI, 50 dias no
hospital. Nunca mais pilotou
numa categoria de ponta. Hoje,
aos 35, ajuda os irmãos numa
distribuidora de produtos para
ciclismo, em Belo Horizonte.
O campeão de 2002 da
Champ Car e ex-piloto da Toyota na F-1 conversou ontem
com a Folha por telefone.
FOLHA - Você estava assistindo ao
treino? O que achou do acidente?
CRISTIANO DA MATTA - Eu estava
andando de bicicleta, só soube
mais tarde quando entrei na internet. Depois, vi as imagens e
percebi que o Felipe estava mexendo as pernas, os braços,
bem ativo. Achei que ele estivesse numa boa. Depois, fui
vendo as notícias mais e mais e
é claro que fiquei preocupado.
FOLHA - Você faz um paralelo entre seu acidente e o dele?
DA MATTA - Pensei nisso na hora. De repente, aparece uma
coisa nada a ver na pista e encontra seu capacete. Vou te dizer uma coisa... Quando você é
piloto, tem sempre uma série
de receios. Você sabe que está
num esporte de risco, sabe o
que pode quebrar, você sabe
quais trechos de quais pistas
são mais perigosos... Mas você
nunca pensa que uma coisa estranha pode acertar sua cabeça.
FOLHA - Existe alguma chance de
desviar de algo assim?
DA MATTA - Não dá tempo de
pensar nem de reagir. Não sei
nem se deu tempo de o Felipe
ver que tinha algo vindo. No
meu caso, era uma curva cega.
Saí dela, estava acelerando e vi
o bicho, mas já estava perto demais. Não deu pra desviar.
FOLHA - E como você acha que será
a recuperação dele?
DA MATTA - Torço muito para
que seja mais tranquila que a
minha. Fiquei muito tempo em
coma. Depois, tive que fazer toda a reabilitação, aprender a comer, a andar, a colocar o sapato.
Mas pelo que estou lendo, acho
que o caso dele foi mais leve.
FOLHA - Dá para a FIA impedir que
choques assim se repitam?
DA MATTA - É difícil. Acontece,
é parte do esporte. Se você vir
um capacete no fim de uma
corrida, é todo marcado. É um
jato de pedrinhas. Não sei se dá
pra fazer alguma coisa. Até 94,
os pilotos corriam com os ombros pra fora do carro. Hoje, já
guiam deitados, protegidos.
FOLHA - Você crê em sorte e azar?
DA MATTA - É até engraçado você perguntar isso para um cara
que encontrou um bicho no
meio da curva [risos]. Eu deveria acreditar em azar, mas acredito em probabilidades pequenas que existem e acontecem.
FOLHA - E quais são seus planos?
Pretende voltar a correr?
DA MATTA - Em setembro, vou
pros EUA ver uma corrida de
GrandAm [categoria de Turismo] e tentar uma vaga para
2010. Enquanto isso, sou piloto
de testes da distribuidora dos
meus irmãos. Testo forro de
bermudas, sapatilhas de ciclismo, camisetas novas [risos].
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