São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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"Você nunca acha que algo pode te acertar"

FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Antes do impacto da mola contra o capacete de Felipe Massa, no sábado, o último acidente grave de um piloto brasileiro envolveu também um corpo estranho no meio de uma pista. Algo maior. Bem maior. Há pouco menos de três anos, em 3 de agosto de 2006, Cristiano da Matta acertou um veado a 300 km/h durante um teste coletivo da Champ Car em Elkhart Lake, nos EUA. As consequências foram piores do que as anunciadas até agora pelos médicos de Massa. Da Matta teve um coágulo no cérebro, ficou 9 dias em coma, 14 dias respirando por aparelhos, 17 dias na UTI, 50 dias no hospital. Nunca mais pilotou numa categoria de ponta. Hoje, aos 35, ajuda os irmãos numa distribuidora de produtos para ciclismo, em Belo Horizonte. O campeão de 2002 da Champ Car e ex-piloto da Toyota na F-1 conversou ontem com a Folha por telefone.

 

FOLHA - Você estava assistindo ao treino? O que achou do acidente?
CRISTIANO DA MATTA
- Eu estava andando de bicicleta, só soube mais tarde quando entrei na internet. Depois, vi as imagens e percebi que o Felipe estava mexendo as pernas, os braços, bem ativo. Achei que ele estivesse numa boa. Depois, fui vendo as notícias mais e mais e é claro que fiquei preocupado.

FOLHA - Você faz um paralelo entre seu acidente e o dele?
DA MATTA
- Pensei nisso na hora. De repente, aparece uma coisa nada a ver na pista e encontra seu capacete. Vou te dizer uma coisa... Quando você é piloto, tem sempre uma série de receios. Você sabe que está num esporte de risco, sabe o que pode quebrar, você sabe quais trechos de quais pistas são mais perigosos... Mas você nunca pensa que uma coisa estranha pode acertar sua cabeça.

FOLHA - Existe alguma chance de desviar de algo assim?
DA MATTA
- Não dá tempo de pensar nem de reagir. Não sei nem se deu tempo de o Felipe ver que tinha algo vindo. No meu caso, era uma curva cega. Saí dela, estava acelerando e vi o bicho, mas já estava perto demais. Não deu pra desviar.

FOLHA - E como você acha que será a recuperação dele?
DA MATTA
- Torço muito para que seja mais tranquila que a minha. Fiquei muito tempo em coma. Depois, tive que fazer toda a reabilitação, aprender a comer, a andar, a colocar o sapato. Mas pelo que estou lendo, acho que o caso dele foi mais leve.

FOLHA - Dá para a FIA impedir que choques assim se repitam?
DA MATTA
- É difícil. Acontece, é parte do esporte. Se você vir um capacete no fim de uma corrida, é todo marcado. É um jato de pedrinhas. Não sei se dá pra fazer alguma coisa. Até 94, os pilotos corriam com os ombros pra fora do carro. Hoje, já guiam deitados, protegidos.

FOLHA - Você crê em sorte e azar?
DA MATTA
- É até engraçado você perguntar isso para um cara que encontrou um bicho no meio da curva [risos]. Eu deveria acreditar em azar, mas acredito em probabilidades pequenas que existem e acontecem.

FOLHA - E quais são seus planos? Pretende voltar a correr?
DA MATTA
- Em setembro, vou pros EUA ver uma corrida de GrandAm [categoria de Turismo] e tentar uma vaga para 2010. Enquanto isso, sou piloto de testes da distribuidora dos meus irmãos. Testo forro de bermudas, sapatilhas de ciclismo, camisetas novas [risos].


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