São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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FUTEBOL

Amadores x Profissional

JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA

O nosso amor morreu. Mas, cá prá nós, antes ele do que eu. Rei morto, rei posto.
Assim deveria reagir qualquer torcedor da equipe do Corinthians. E ainda mais quem dirige essa nação.
Lembro-me de uma entrevista dada por Hailê Pinheiro, o "dono" do Goiás, clube em que manda há 20 anos.
Nenhum outro cartola domina um time durante duas décadas. Na entrevista, Pinheiro compara o futebol com um prostíbulo, onde não tem espaço para virgem. Outros homens do meio concordam com a chula definição.
Do Bangu para o Palmeiras. Ademir da Guia nunca mais. No Parque São Jorge, talvez sirva de exemplo o pequeno polegar Luisinho. Para chegar, então, até a novela envolvendo Ricardinho-Corinthians-São Paulo, recomenda-se neutralidade e imaginação de cada lado, tendo passado tudo o que já passou.
O São Paulo, como todos os envolvidos, não é mais virgem.
A diretoria do Corinthians cometeu erros primários: estipular uma multa de R$ 2 milhões para a rescisão do contrato é de apelar ou de entregar o Timão nas mãos de Deus. Para ter uma idéia, eu valho mais do que um jogador pentacampeão mundial, no contrato da RedeTV!.
O Ricardinho não é santo. Foi e será sempre um atleta profissional. Amador, só o Aguiar (banqueiro) e agora o Dualib.
Lanço uma dúvida: se o clube estivesse precisando de caixa imediato, teria o Corinthians jogado da forma como jogou, culpado o adversário e, depois, o próprio jogador e, entre quatro paredes, realizado comemoração?
De minha parte, se eu fosse o Ricardinho, tivesse diversos motivos, francamente, esgotaria tudo. Me mudaria para Minas Gerais, Rio... Turquia.
Uma só pergunta a fazer: Ricardinho, se nesse caso o São Paulo fosse o Palmeiras, você também fecharia a negociação?
Se a resposta for SIM, salve o prostíbulo do futebol.
Se a opção for pelo NÃO, será a certeza da maior goleada da história corintiana. A partida foi disputada entre um profissional contra alguns amadores.
A mim, cabe outra boa convicção: de que vale a pena manter uma distância cética em relação às paixões clubísticas.
Do contrário, aceite, xingue, esqueça. Por quê?
Porque faz parte!

Doutor Rivaldo
E como ficam os colegas que acusaram Rivaldo por falta de personalidade? Ninguém mostrou mais dignidade do que o craque pernambucano, ao recusar encontro político (jabá) no jogo do Ceará. Quando Rivaldo desabafa sobre discriminação, tem razão. Imaginem os doutores Tostão e Sócrates! Eles certamente tomariam a mesma atitude no "pedido" da CBF. Ganhariam repercussão de página inteira. Quanto ao amistoso, é melhor concluir de pés no chão. As eliminatórias sul-americanas para 2006 já começaram.

Nove
O privilégio foi triplo. Escrevi o que quis e ainda fui pago por esse prazer sensorial. E, por fim, FOLHA e TOSTÃO (maiúsculos -reservas morais) me permitiram errar, ousar, eternizar nove artigos. "Nove" que hoje tem tanta intimidade com as palavras como tinha com a bola. Para mim, Tostão é o caso clássico de uma licença matemática em que o 9 vale mais que o 10. Fora de campo, então...

E-mail kajuru@terra.com.br

Tostão volta a escrever neste espaço no próximo domingo



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