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São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2003

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ATLETISMO

Ouro dos 400 m testou para um esteróide em 1999 e não foi punido

Mundial de Paris premia doping que EUA ocultaram

ADALBERTO LEISTER FILHO
MARCELO SAKATE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após ganhar a medalha de ouro nos 400 m do Mundial de Paris, o norte-americano Jerome Young, 27, foi desmascarado. Embora tenha testado positivo para um esteróide anabólico em 1999, não recebeu punição e foi campeão do revezamento 4 x 400 m na Olimpíada de Sydney-2000.
A revelação foi feita pelo "Los Angeles Times" na edição de ontem, com base em depoimentos de funcionários da federação americana da modalidade (USATF, na sigla em inglês) e documentos obtidos pelo jornal. E repercutiu entre os principais dirigentes do esporte, que trataram o caso como fato consumado.
"Havia suspeitas sobre todos os atletas americanos [do revezamento]. Sabíamos com certeza que havia um caso positivo entre eles", disse o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), o belga Jacques Rogge.
A Agência Mundial Antidoping (Wada) anunciou que irá pedir ao COI uma "investigação completa" sobre o caso e a cassação da medalha. "A legitimidade da vitória dos EUA em Sydney foi destruída. Para mim, a USATF deliberadamente ignorou as regras", afirmou o presidente da entidade, o canadense Richard Pound.
Segundo os documentos, Young se submeteu a exames que deram negativo em 12 de junho e 2 de julho de 1999. Porém, no dia 26 de junho, o resultado apontou a presença de norandrosterona, a metabolização no organismo da nandrolona, substância proibida pelo COI e que aumenta a força e a potência musculares.
Após a confirmação do positivo, uma comissão foi convocada para tratar do caso, em março de 2000. Em abril, a USATF teria suspendido um atleta, cujo nome não foi revelado. Depois de ouvir Young, a entidade teria decidido relegar o caso, em 10 de julho.
Seis dias mais tarde, Young participou das seletivas americanas para Sydney e ficou em quarto nos 400 m. Embora não tenha obtido vaga individual, conseguiu se garantir no revezamento.
Young, que ganhara anteontem pela primeira vez um ouro mundial em prova individual, não se pronunciou. Ele está inscrito para o 4 x 400 m no sábado -já foi campeão mundial em 1997 e 2001. A comissão técnica dos EUA disse que desconhecia o fato.
A USATF afirmou que não se pronuncia sobre "casos arquivados". "Esse episódio foi um dos ocorridos entre 1996 e 2000", disse em Paris o porta-voz da entidade, Jill Geer. Ele fez referência aos 13 atletas que não passaram no antidoping nesse período e cujos nomes foram mantidos em segredo porque foram absolvidos.
Esse episódio veio à tona em 2001. Apesar da requisição da Iaaf para que os nomes fossem revelados, a USATF se recusou e levou o caso para a Corte de Arbitragem do Esporte, órgão que é a última instância para julgamentos. Este julgou a favor dos americanos.
Órgão máximo do atletismo, a Iaaf anunciou ontem considerar o caso encerrado. "Nós concordamos na época que a decisão da Corte seria a última", disse o porta-voz da entidade, Nick Davies.


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